Aurélio Viríssimo de Bittencourt nasceu em 1º de outubro de 1849, em Jaguarão, filho da parda Maria Julia da Silva, uma escravizada liberta, e do piloto da Marinha Hypólito Simas de Bittencourt. Venho morar em Porto Alegre logo após a mãe falecer, com sua tia paterna Leocádia. Casou se com Joana Joaquina do Nascimento (1838 - 1895) no dia 26 de dezembro e teve dois filhos, Sérgio Aurélio de Bittencourt, que nasceu no dia 07 de outubro de 1869 e faleceu no dia 05 de novembro de 1904, e Aurélio Viríssimo de Bittencourt Júnior, nascido em 28 de fevereiro de 1874 e falecido no dia 30 de julho de 1910, aos 36 anos.
Resgatando o momento em que surge o periódico O Exemplo, ele preenchia o cargo de Secretário da Presidência do Estado, sempre lembrado por contribuir com a criação e, também, manutenção do periódico para estabilidade financeira. Bittencourt iniciou a vida na capital como aprendiz de tipógrafo. Nesta fase, percorreu diversos espaços associativos de Porto Alegre e era considerado um menino instruído. Também trabalhou como escrivão e prior do Divino Espírito Santo e das Irmandades do Rosário.
Ainda na juventude, dedicou-se ao serviço público, onde se tornou uma referência importante na administração do Estado. Foi Secretário da Presidência do Estado, nomeado em 17 de junho de 1892, e trabalhou com Júlio Prates de Castilhos no Palácio do Governo do Rio Grande do Sul. Como Bittencourt integrava a direção do Centro Abolicionista, provavelmente já conhecia Júlio de Castilhos, antes mesmo dessa função como seu secretário. Integrou também a direção do Centro Abolicionista o que, provavelmente, ajudou em sua história, contribuindo para sua escolha para o governo por Júlio de Castilhos.
Bittencourt e Júlio de Castilho participaram ativamente do processo abolicionista no Rio Grande do Sul. Bittencourt tinha trânsito intenso entre a elite intelectual e política de Porto Alegre e, também, nos espaços negros. Tanto que era considerado pelos membros do jornal O Exemplo como um grande mestre. Em 13 de maio de 1904, o periódico o destaca como o segundo maior atleta na luta pela conquista “de nossos direitos civis e políticos” (dos negros em Porto Alegre). Aurélio nunca deixou de circular no meio da comunidade negra, sempre mantendo-se seguro e influente com a população negra, tanto no campo religioso quanto político da cidade de Porto Alegre.
Bittencourt mantinha uma boa relação com vários setores da sociedade e ativa sociabilidade. Com seu prestígio e experiência, foi muito influente na redação do jornal O Exemplo, que passou a ser um veículo direcionado para a defesa das convicções republicanas, principalmente a partir do século XX. Destacou-se no combate ao preconceito existente na capital. Declarva-se pardo e seus escritos demonstram que percebia as diferenças entre os dois mundos em que vivia, entre o povo e a elite, mas nunca abdicou de se destacar como homem negro, intelectual e abolicionista, mesmo dizendo-se das dificuldades em ressaltar essas características. Em sua morte, Aurélio foi homenageado com palavras de saudações que previam a falta que faria ao serviço público e privado.
Referências
BITTENCOURT, Dario De. Curriculum Vitae–Documentário (1901/1957). Porto Alegre: Ética Impressora Ltda, 1958.
SANTOS, José Antônio dos. . Estratégias étnicas e trajetórias de intelectuais negros.. In: VI Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, 2013, Florianópolis - SC. Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Florianópolis: UFSC, 2013. v. 01. p. 68-68.
Al-Alam, C. C., Pinto, N. G., & Moreira, P. R. S. (2016). Simão Vergara e Maria Tereza da Cunha, o casal de pretos forros da tasca da Boa Vista: Africanidade, matrimônio e comunidade numa sociedade escravista (Pelotas, RS, século XIX). Revista Brasileira De História &Amp; Ciências Sociais, 8(15), 125–153.
MOREIRA, Paulo Roberto Staudt. O Aurélio Era Preto: Trabalho, Associativismo E Capital Relacional Na Trajetória De Um Homem Pardo No Brasil Imperial E Republicano. Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 40, n. 1, 2014.
PERUSSATTO, Melina. Arautos da liberdade: educação, trabalho e cidadania no pós abolição a partir do jornal O Exemplo de Porto Alegre (1892-1911). 2018. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.
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