Nego Lua é uma referência para o ativismo militante negro contemporâneo. Batizado com o nome de José Alves Bittencourt, nasceu em Bagé, em 29 de julho de 1942, mas foi em Porto Alegre, onde passou a ser conhecido como Lua, que se construiu como um ativista na luta pela igualdade racial e por uma sociedade mais justa de direitos e cidadania. Foi a vivência nos espaços de sociabilidade negra e a formação política que forjaram essa militância. Embora tivesse pouca escolaridade formal, era reconhecido e respeitado pela leitura e interpretação na prática cotidiana de clássicos da literatura política. Nos anos 1970, foi um dos fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU). Na década seguinte, ajudou a fundar e organizar, no Estado, o Partido dos Trabalhadores (PT), onde coordenou o núcleo negro do partido no Rio Grande do Sul. Incansável, no final dos anos 1990 e começo do novo século, passou a coordenar a Assessoria de Políticas Públicas para o Povo Negro na Frente Popular da Prefeitura de Porto Alegre (governos petistas de 1989 a 2002).
No entanto, suas marcas mais conhecidas são o fato de ter idealizado e criado o Grupo de Trabalho Angola Janga, em 11 de novembro de 2002, que é como os portugueses chamavam o Quilombo dos Palmares, expressão que significa “Angola Pequena”, e onde a ideia de quilombo pode ser entendida como uma sociedade mais igualitária. Outro foco de luta do militante foi pela construção do Centro de Referência Afro-brasileiro (CRAB). Idealizado para ser um espaço agregador e propositivo para o ativismo negro em torno das lutas por igualdade racial, ele não foi realizado, mas continua na pauta de boa parte das associações do movimento – em grande parte, seguramente, pela tenacidade com que Nego Lua defendia essa ideia. O trabalho deste idealista, entretanto, está visível quando se percorre a cidade no Museu de Percurso do Negro, obra de que foi, também, um dos idealizadores, tendo lutado arduamente para que fosse realizada, o que fez presidindo o Conselho Gestor do Museu até 10 de novembro de 2009, ano em que faleceu sem ver erguido O Tambor, primeiro e significativo marco do Museu.
Nego Lua passou a maior parte da sua juventude morando na Rua Cabo Rocha (hoje Prof. Freitas de Castro), um dos locais da cidade marcados pela sociabilidade negra. Sua atividade laboral como carregador e estivador no porto da capital é sinônimo de um dos tipos de trabalho realizado majoritariamente por negros. Fato pouco conhecido, mas importante para se entender o percurso militante do Nego Lua, foi ele ter sido um dos fundadores e proprietário, por breve período, do bar Luanda, na Rua José do Patrocínio, 988. Lua só conseguiu comprá-lo, segundo Daniela Espíndola, por meio de indenização após sofrer acidente durante seu trabalho no porto. Foi fundamental ainda para a sua formação militante, o diálogo que veio a estabelecer nos anos 1970 com Helena Vitória Machado e Oliveira Silveira.
Referências:
ESPÍNDOLA, Daniela Rodrigues. Nego Lua: o legado de um importante e influente militante negro de Porto Alegre. Concurso Décio Freitas/ Funproarte-SMC. Porto Alegre. 2015.
VILASBOAS, Ilma Silva; BITTENCOURT JÚNIOR, Iosvaldyr C; SOUZA, Vinicius Vieira. Museu de Percurso do Negro em `Porto Alegre. Editora Porto Alegre, 2010
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