O Luanda Bar foi tido como um reduto da boêmia e de conversas acaloradas sobre o movimento negro de Porto Alegre. A história do bar começou nos anos 1960, fundado pelo artista plástico e pai de santo João Altair, que homenageou o continente africano, batizando o lugar com o nome da capital de Angola, além de ornamentar o lugar com máscaras e pinturas de guerreiros africanos.
Depois de vários proprietários, em 1971, o bar passou para Tidi, apelido pelo qual Aristides da Silva e o Luanda Bar (o Bar do Tidi) passaram a ser conhecidos. Do início dos anos 1970, até o final da década de 1980, o lugar também era muito procurado, especialmente nas madrugadas, pelo famoso “Sopão do Tidi”. A iguaria era composta por três ingredientes básicos: água, galinha e massa e, junto com uma pimenta vermelha forte preparada em um garrafão, foi, por quase 17 anos, o destaque do cardápio.
A ideia da sopa veio por acaso, em uma noite fria, em que os clientes pediam cachaça para espantar o frio. O caldo era preparado à vista de todos e, nos primórdios, servido em copos, para depois ser servido em pratos nas mesas e no balcão. O bar aceitava os bêbados, desde que não fossem chatos e respeitassem as normas do espaço; caso contrário, eram expulsos irremediavelmente.
O bar era frequentado por jornalistas, músicos, políticos e outras personalidades da noite porto-alegrense que chegavam para finalizar a noitada com o sopão. Parte do sucesso e popularidade do bar deve-se ao horário de funcionamento: abria por volta das 21h e só fechava de manhã. Entre os ilustres frequentadores, o Luanda recebeu Lupicínio Rodrigues, o jornalista Paulo Sant’Ana, Glênio Peres, Jamelão, Jorginho do Trompete (Jorge Alberto de Paula), entre outros.
O Luanda Bar, minúsculo, porta e janela, era localizado na Rua José do Patrocínio, n. 889, quase esquina da Praça Garibaldi, e possuía três ou quatro mesas. Bastante iluminado e sem música ambiente ou apresentações musicais, funcionava a semana inteira, inclusive nos feriados. Junto com a sopa, a fama do bar veio da figura folclórica e amável de Tidi, descrito como grande e forte, e que se vestia com avental, gravata e um boné branco para receber os clientes. O bar fechou em janeiro de 1988, quando Tidi ficou doente e não teve um sucessor para seguir sendo a alma do lugar.
Referências
VARGAS, Bruna. Mais famosa que a do Van Gogh: a história da sopa de três ingredientes que curava toda ressaca na Cidade Baixa. Memória afetiva da capital. In: GZH Porto Alegre. 8 dez. 2020. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2020/12/mais-famosa-que-a-do-van-gogh-a-historia-da-sopa-de-tres-ingredientes-que-curava-toda-ressaca-na-cidade-baixa-ckifdeq6y00d5019w7o5rja3a.html. Acesso em: 29 nov. 2022.
SANTOS, Irene (org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: [s. n.], 2005.
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