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Esquina do Zaire

Atualizado: 11 de ago. de 2023


A Esquina do Zaire designa uma ressignificação promovida pelos negros e negras para a denominada Esquina Democrática, situada no cruzamento central do espaço urbano de Porto Alegre, entre a Rua dos Andradas (Rua da Praia) e a Avenida Borges de Medeiros, onde os diversos segmentos sociais e culturais promoviam (e eventualmente ainda promovem) encontros por meio da sociabilidade pública, geralmente entre às 18 horas até a meia-noite, de modo fluido e efêmero, sendo estes estudantes, carnavalescos, sambistas, trabalhadores de serviços públicos, comércio e serviços, integrantes dos movimentos funk e hip hop, capoeiristas e negros proveniente das periferias, territórios negros (bairros) dos arredores do Centro e da região metropolitana de Porto Alegre.


Este povo negro afluía para a área central da cidade com a ideia de ocupação de esquinas, bares, galerias, shopping centers e ruas do entorno. É esta ocupação que caracteriza a chamada Esquina do Zaire. Os períodos e dias mais intensos ocorrem entre as quintas e sextas-feiras. A denominação Esquina do Zaire é atribuída ao fato de que, em 1974, durante a Copa do Mundo de Futebol, a seleção brasileira disputaria pela primeira vez uma partida oficial com a seleção africana do Zaire, assim estabelecendo um dilema para os negros brasileiros entre torcer para o Brasil ou para o Zaire, selecionado formado exclusivamente por jogadores negros, tendo a maioria ou grande parte optado por torcer para o selecionado zairense.


Apesar de terem sidos derrotados por 3 x 0 pela equipe brasileira, entre a comunidade negra ficou consagrado que a então Esquina Democrática passaria a ser denominada de Esquina do Zaire, em alusão, também, à significativa presença de corporeidades negras; às manifestações políticas (com destaque para o Movimento Negro [MNU] e Grupo Palmares) e culturais afro-brasileiras e, sobretudo, pela intensa sociabilidade pública urbana. No meio popular, convencionou-se atribuir a “um Zaire” lugares onde domina a presença negra, também numa alusão ao selecionado daquele país, o que contribuiu para a identificação dos encontros de negros no Centro de Porto Alegre, na Esquina Democrática, como Esquina do Zaire.





Referências:


ANJOS, José Carlos dos. A reterritorialização do negro no centro de Porto Alegre. In: ORO, Ari Pedro; ANJOS, José Carlos, CUNHA, Mateus. A tradição do Bará do Mercado. Porto Alegre, PMP/SMC/CMC, 2007.


BITTENCOURT JUNIOR, Iosvaldyr Carvalho. Porto Alegre: Do Porto dos Casais a um Porto Africano. A Ocupação Negra do Centro de Porto Alegre. Comunicação apresentada na 17ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Florianópolis, 1990.


____________. “Território Negro em Área Urbana”, Comunicação, Reunião Intermediária da Anpocs, Territorialidade, Identidade e Cidadania no Brasil, dias 20 e 21 de setembro de 1990, Florianópolis, 1990.


____________. Mostra Fotográfica “Territórios Negros no Campo e na Cidade”, 17ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), de 08 a 20 de abril de 1990, como atividade complementar, Florianópolis, 1990.


____________. “Os Relógios da Noite: Território e Etnicidade”, Comunicação apresentada no Grupo de Trabalho “Religião, Identidade e Etnicidade”, III ª Reunião Regional Sul da Associação Brasileira de Antropologia, 13 de novembro de 1991, Curitiba, 1991.


____________. Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre. Palestra. Curso de Extensão “Zumbi dos Palmares – 300 Anos (Aspectos Históricos e Antropológicos), Ifch, Pucrs, Porto Alegre, 1994.


____________. A Esquina do Zaire – Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre, In; SEFFNER, Fernando (Org.), Presença Negra no Rio Grande do Sul, Unidade Editorial, Secretaria Municipal da Cultura, Porto Alegre, 1995.


___________. Relógios da Noite: uma antropologia da territorialidade e da identidade negra em Porto Alegre. PPGAS, Ufrgs, dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1995.


____________. “Cruzando Territórios Negros”, exposição integrante do projeto“ Projeto Zumbi 300 Anos: o negro ontem e hoje”, Museu Antropológico do Rio Grande do Sul, Secretaria de Estado da Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Nuer. Curadoria Miriam Chagas, 27 de Novembro, Porto Alegre, 1995.


___________. A Esquina do Zaire: Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre. In: LEITE, Ilka Boaventura Leite. Negros no Sul do Brasil – invisibilidade e territorialidade, Letras Contemporâneas, Florianópolis, 1996.


___________. “Territorialidade Negra Urbana” Seminário: “Negritude, Sociedade e Cidadania em Porto Alegre”, de 25 a 27 de novembro de 2003, Teatro Bruno Kiefer, casa de Cultura Mário Quintana, Uergs, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.


___________. Territórios Negros. In: SANTOS, Irene (Org.), Negro em Preto e Branco – História Fotográfica da População Negra de Porto Alegre, Do Autor/Fumproarte, Porto Alegre, 2005.


___________. Territorialidade Negra Urbana: a evocação da presença, da resistência cultural, política e da memórias dos negros, em Porto Alegre, delimitando espaços sociais contemporâneos. In; POSSAMAI, Zita (Org.) Leituras da Cidade, Editora Evangraf, Ufrgs, Porto Alegre, 2010.


SANTOS, Roberto dos. Pedagogias da Negritude e Identidades Negras em Porto Alegre: jeitos de ser negro no Tição e no Folhetim dos Zaire (1978-1988), PPG em Educação, Universidade Luterana do Brasil, dissertação de Mestrado, Canoas, 2007.


SOMMER, Michelle Farias. Territorialidade Negra – Herança africana em Porto Alegre: uma abordagem sócio-espacial, Ed. Do Autor/Fumproarte, Porto Alegre, 2011.


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