Inaugurado em 20 de novembro de 2014, o Painel Afro-brasileiro é a quarta obra registrada no circuito do Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre. Esta obra é, sem dúvidas, um instrumento poderoso de evocação de memórias. O painel cerâmico multicolorido foi montado como se fosse uma moldura no muro do Chalé da Praça XV de Novembro, quase em frente ao Mercado Público, e chama atenção pela sua força imagética e pela presença negra perene no território originário da formação da capital gaúcha. O local onde está instalado, uma releitura de uma esquina do tempo, é uma reafirmação de um espírito do lugar: agrega edificações do século XIX com intervenções urbanas contemporâneas, mas mantendo a característica de ser ponto de grande circulação de pessoas e de manifestações sociais e políticas. É desse lugar que o painel grita “sempre estivemos aqui”, um sopro contra a invisibilidade da população negra na história da cidade.
A concepção desta obra, no entanto, se inicia em 2009, com a produção dos primeiros desenhos e ensaios por parte de Pelópidas Thebano (1934-2022), ainda no Castelinho Cultural do Alto da Bronze, onde se reuniam artistas e griôs responsáveis pelos projetos de criação do Museu de Percurso. Lá estavam, entre outros, Nilo Feijó (1934-2016), Nego Lua, Elaine do Mocambo, o pesquisador Iosvaldyr Bittencourt e o jovem artista Leandro Machado. O Painel é uma síntese dos valores civilizatórios da comunidade negra praticados ao longo da vida do mestre artista pela vivência nos espaços de sociabilidade negra.
Para a execução da obra, diz o arquiteto e escultor Vinícius Vieira, milhares de fragmentos cerâmicos irregulares nas cores verde, amarelo, vermelho, preto, laranja e cinza foram cortados e castilhados à mão, um a um. Com isso, montados e, gradativamente, formando e construindo todas as representações originalmente concebidas por Thebano. Estas representações e as tramas com a história do negro em Porto Alegre foram trabalhadas e recriadas por adolescentes residentes no Quilombo do Areal, sob orientação do Grupo de Trabalho Angola Janga e do professor Arilson dos Santos Gomes.
Referências:
VARGAS, Pedro R. O Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre ou, para muitos, a surpreendente história de um museu que não parece museu dedicado a um gaúcho que não é percebido como gaúcho. In: RAMOS, Jeanice D; VARGAS, Pedro R; SOUZA, Vinicius V. Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre: etapa IV. Porto Alegre, Editora Porto Alegre: 2015
SOUZA, Vinicius Vieira. Artes Visuais de Referência Afro-brasileira no espaço público de Porto Alegre. In: RAMOS, Jeanice D; VARGAS, Pedro R; SOUZA, Vinicius V. Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre: etapa IV. Porto Alegre, Editora Porto Alegre: 2015
SANTOS, Arilson Gomes; ESPÍNDOLA, Maria Elaine; XAPLIN, Adriana; ROSA, Elza Vieira. Depoimentos dos professores do Curso de Formação de Jovens Monitores de Percurso. In: RAMOS, Jeanice D; VARGAS, Pedro R; SOUZA, Vinicius V. Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre: etapa IV. Porto Alegre, Editora Porto Alegre: 2015
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