top of page
1.png

BAILE BLACK PORTO

ree

As festas Black Porto eram bailes promovidos pelo grupo Jara Musi-som na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A partir do final dos anos 70, e fortalecendo-se com o passar dos anos, as festas reuniam jovens negros aos finais de semana, tornando o nome da equipe organizadora referência em bailes de música black na cidade.


ree
- Foto de um grupo de jovens no baile do Jara Musi-som -banco de imagens da página “Morrodacruzhistórias”, Facebook.

O Jara Musi-som surge a partir da fusão de duas fortes equipes de som que atuavam nas festas do circuito Black da capital. No período, as festas promovidas pelo Jara Musi-som eram notáveis pela sua qualidade de aparelhagem e os locais escolhidos: em articulação com diversos ginásios pela cidade, as festas alcançaram públicos de várias zonas. Para mais informações, clique no botão abaixo:



A divulgação da Black Porto ocorria ao longo da semana no centro da cidade de Porto Alegre, de grande circulação de trabalhadores – boa parte deles eram pessoas negras. Um ponto que atraía muitos dos jovens trabalhadores para as festas do Jara era o valor acessível dos ingressos para um público de baixa renda, tornando “o baile uma excelente opção de entretenimento para esses jovens trabalhadores que não tinham condições financeiras de frequentar outros locais.” (CAMPOS, 2014, p. 116). Por meio de panfletos e lambe-lambes, distribuídos pelos organizadores, o público ficava sabendo sobre o horário e local da festa, além das atrações e as formas de adquirir ingressos.


ree
– Panfleto de divulgação do Black Porto 87 - Deivison Moacir Cezar de Campos, tese de doutorado intitulada “Do disco à roda: a construção do pertencimento afrobrasileiro pela experiência na festa Negra Noite”, p. 116.

O ponto de referência para se saber sobre o baile e já conhecer pessoas que frequentavam era a Esquina do Zaire, ou Esquina Democrática, um cruzamento entre a Rua dos Andradas e a Avenida Borges de Medeiros e, na ocasião, o local “onde os negros de todas as raças se encontram”. De acordo com Deivison Campos (2014, 115):


“A esquina das ruas dos Andradas e avenida Borges de Medeiros, denominada Esquina Democrática, era chamada de Esquina do Zaire, uma referência à seleção de futebol daquele país que disputou a Copa de Mundo de 1982, na Espanha, e possuía apenas jogadores negros. Os jovens reuniam-se em rodas de conversa que, muitas vezes, serviam também para ensaiar alguns passos de dança que seriam apresentados no baile do final de semana.”


ree

- "Onde os negros de todas as raças se encontram..." - Propaganda de televisão mencionando a Esquina Democrática - banco de imagens da página “Morrodacruzhistórias”, Facebook.

Cabe observar  o momento histórico de emergência das festas Black - Black Porto (RS), Black Rio (RJ), Black Uai (MG) e Baile Chic Show (SP) - em um contexto internacional de afirmação do povo negro, com a valorização da estética do black power. O soul e o funk, os ritmos mais tocados nos bailes, traziam na sua batida e letras essa estética. Porém, tão importante quanto a música em si eram a expressão corporal, o vestuário, os penteados e a decoração ambiente, trazendo imagens/símbolos racializados (DOMINGUES & MEDEIROS, 2024, p. 5). Importante também são os elementos que surgem para além do baile em si: vale mencionar que o Black Porto tinha um concurso para eleger a “Garota Black Porto” o que representa o compromisso da organização com a afirmação da beleza negra, especificamente de mulheres negras. A estética era aliada à uma luta política por cidadania, o que, portanto, conferia ao Black Porto e outros bailes um caráter de positivação de identidades negras.


Conforme Deivison Campos (2014, p. 117), aqueles que frequentavam os bailes viam no espaço “a única alternativa de diversão realmente para negros”. A principal proposta dos organizadores era promover uma “festa dançante para agitar na qual os frequentadores vão para sentir o peso da música” (Brother Neni, 2011, apud CAMPOS, 2014, p. 117). Era sentindo a música por meio do seu corpo que os sujeitos se entrosavam com o espaço e uns com os outros, construindo relações que iam para além da diversão da festa, tanto em âmbito afetivo quanto político.


ree
- Concurso “Garota Black Porto 85” - acervo de Brother Neni, um dos DJs do Black Porto, banco de imagens da página “Black Night”, Facebook

Referências:


CAMPOS, Deivison Moacir Cezar de. Do disco à roda: a construção do pertencimento afrobrasileiro pela experiência na festa Negra Noite. 222f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Porto Alegre, 2014.


CAVALCANTI, Amanda. Bailes black ganham homenagem no C6 Fest; conheça a história. UOL Splash, São Paulo, 6 maio 2024. Disponível em: https://www.uol.com.br/splash/noticias/2024/05/06/bailes-black-ganham-homenagem-no-c6-fest-conheca-a-historia.htm. Acesso em: 6 abr. 2025.


DOMINGUES, Petrônio; MEDEIROS, Carlos Alberto. Black Rio: música, política e identidade negra. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 44, n. 95, p. e272464, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/nXpdfHJmmdw64K5B4mH4Ypy/. Acesso em: 6 abr. 2025.



 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
Acompanhe os verbetes publicados (8).png
bottom of page