Liga da Canela Preta
- Maurício da Silva Dorneles

- 14 de jul.
- 5 min de leitura
Atualizado: 17 de jul.

A denominação Liga da Canela Preta provém de uma adjetivação pejorativa das ligas de futebol criadas e organizadas por grupos de pessoas majoritariamente negras, jogadores e apreciadores do futebol, em Porto Alegre, entre as décadas de 1910 e 1920.
Entre 1913 e 1915, surgiu uma agremiação denominada Liga Sul-Americana que agregou algumas das equipes do segmento negro da cidade. Participaram desta Liga o S.C. Rio-Grandense, o S. C. 8 de Setembro, o S.C. Amanuense, o S. C. Primavera e o S.C. União.
Na segunda metade desta mesma década, marcada pela Primeira Guerra Mundial, pelo acontecimento da primeira Greve Geral no Brasil e ainda pela infelicidade da Gripe Espanhola, bastante em razão destes acontecimentos, inúmeras atividades e organizações deixaram de existir, ou tiveram suas denominações alteradas ou ainda fundiram-se com outras entidades.
Já na década seguinte, nos anos 1920, surgiram três novas associações que congregaram os times negros. Foram elas, a Liga Nacional de Foot-Ball Porto Alegrense, em 1920; a Associação Sportiva de Foot-Ball, em 1921; e a Associação de Amadores de Foot-ball, em 1923. Logo esse conjunto de Associações foi denominado “grosseiramente” de Liga da Canela Preta, segundo Genésio Martins, ex-jogador e diretor da Liga na década de 20, ao relatar alguns detalhes da época ao Jornal do Inter.
Existiram também outras duas ligas na cidade: a chamada Liga do Sabonete, dos times da elite branca, e a Liga do Sabão, das equipes de classe média. Os clubes e as Ligas contavam com diretorias eleitas, calendários das assembleias, das filiações, das inscrições e das partidas.
Esses registros são encontrados em jornais da época, como no Correio do Povo (os mais antigos com data de 1895), no jornal A Federação (que existiu entre 1884-1937) e em O Exemplo (jornal identificado com a comunidade negra e que circulou entre 1892-1930).
A Liga Nacional de Foot-Ball Porto Alegrense foi a que mais agregou os clubes da comunidade negra. O S.C. União, o S. C. Rio-Grandense, o S. C. Palmeira, o S. C. 1º de Novembro, o S. C. Bento Gonçalves, o S. C. Venezianos, o S. C. 8 de Setembro e o S. C. Primavera.
Um dos torneios da liga teve início na data de 13 de maio de 1920, no campo da Rua Arlindo, na Ilhota, com a presença da comunidade negra habitante da região formada pela Cidade Baixa, Ilhota e Areal da Baronesa. A data de 13 de Maio inaugurou o calendário esportivo da comunidade naquele ano e era entendida como um marco de memória, para que não houvesse esquecimento do passado, mas principalmente para apontar um novo horizonte na trajetória das gerações oriundas do cativeiro.
Deste modo, tendo em conta a simbologia aplicada à escolha da data de início dos jogos, é possível afirmar que as ligas de futebol foram também espaços políticos de afirmação racial, elevação da auto-estima e de protagonismo organizativo da população negra.
Assim como Porto Alegre, outras cidades no interior do estado também tiveram ligas ou associações de futebol formadas por e para pessoas negras. Na cidade de Bagé, a Liga 13 de Maio, muito provavelmente a mais antiga, teve sua fundação em 1913. A Liga José do Patrocínio, em Pelotas, foi fundada em 10 de Junho de 1919. As cidades de Rio Grande, Santa Maria e Cachoeira do Sul também tiveram ligas futebolísticas, assim como a região metropolitana de Porto Alegre.
Alguns times de futebol não ficaram restritos às suas praças esportivas, mas cruzaram as malhas ferroviárias nos trens a vapor e/ou navegaram pelas embarcações pelos rios do estado para a disputa de amistosos em diversos cantos do Rio Grande do Sul. Na história do futebol - modalidade agregadora e que também acaba gerando muitas disputas simbólicas - casos de discriminação e preconceito também se fizeram e se fazem presentes até na atualidade.
Vê-se pela história das ligas que negros, brancos, homens, mulheres e indígenas praticaram desde o seu aparecimento no estado e em Porto Alegre, resultando em movimentos e organizações que contribuiram para driblar a exclusão social, o preconceito e a discriminação. Especialmente homens e mulheres negras organizaram-se diante de uma sociedade excludente, constituíram suas agremiações, calçaram as chuteiras e demonstraram que homens “de cor” também tinham direito aos momentos de lazer e sociabilidade.
Conclui-se que as ligas populares tiveram uma atuação política relevante para afirmação dos direitos, atuando politicamente e reivindicando cidadania, jogando o “foot-ball”
Essa pesquisa tomou como referência as seguintes fontes:
DORNELES, Maurício. Tem tomado sério desenvolvimento entre nós o jogo de futebol: As Ligas e Associações negras de futebol em Porto Alegre no pós-abolição (1920-1923). 2018. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.
MASCARENHAS, Gilmar. O futebol da canela preta: o negro e a modernidade em Porto Alegre. Anos 90, v. 7, n. 11, p. 144-152, 1999.
RODRIGUES, Diego Lemos. Dos campos às páginas: A participação negra na construção do futebol em Porto Alegre no pós-abolição (1907-1921). 54 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2022.
SANTOS, José Antônio dos. Liga da Canela Preta: a história do negro no futebol. Diadorim Editora, 2018.
Pesquisa de imagem Leandro Machado:
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Imagem do site História Preta – Episódio “Canelas Pretas” sobre o negro no futebol
Imagem do site Literatura RS – Matéria sobre a Liga da Canela Preta e sua trajetória no futebol em Porto Alegre
Imagem do grupo público “Grupo Canela Preta” no Facebook, com publicação sobre homenagem ao jogador Sandro Laerte Pain
Imagem do YouTube – Vídeo “A Liga dos Canelas Pretas (Teaser)” publicado pelo canal Play Vídeo Produtora
Imagem do site Literatura RS – Matéria sobre clubes negros e a Liga da Canela Preta, com fotografia histórica do time Rio-Grandense de 1907
Imagem do site Ludopédio – Página com o vídeo “A Liga dos Canelas Pretas (Teaser)” incorporado à biblioteca digital do portal
Imagem do site Observatório da Discriminação Racial no Futebol – Matéria sobre o Encontro de Futebol da Liga da Canela Preta, realizado em 2014
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Estava na hora de conhecer a história da Liga da Canela Preta. Somos todos e todas mestiças. Negras e negras fora. Fundamentais em todas arte,s, inclusive no futebol.