
O Museu de Percurso do Negro é um museu de território. Propõe a ativação da memória da presença negra por meio de elementos materiais (monumentos) distribuídos ao curso de lugares na capital gaúcha que são referência para a memória negra e que foram ao longo do tempo apagadas do contexto de formação étnica de Porto Alegre.
Embora a primeira escultura do Museu – Tambor – tenha sido realizada em 2010 com recursos econômicos e apoio do Projeto Monumenta do governo federal e da Prefeitura de Porto Alegre, a criação deste Museu sempre esteve nas mãos e nos desejos das associações e dos militantes do movimento negro. Naquela ocasião, foi criado um conselho gestor do projeto com entidades do Movimento com autonomia para definir os rumos da ação, perfil dos artistas e aplicação do investimento monetário.
No entanto, os primeiros esforços para colocar em prática as ações que iriam ser materializadas no museu aconteceram no final da década de 1990, quando diversas organizações do movimento negro se reuniram para discutir e pautar o I Seminário para organização de um Centro de Referência Afro-brasileiro (CRAB), que teria por objetivo catalisar programas e projetos que desenvolvessem políticas em prol da comunidade negra. Este seminário, em 1996 e mais dois nos anos de 1997 e 1998, levantaram, entre outras questões importantes, dois problemas interrelacionados: o processo de apagamento paulatino da memória negra, em especial, no que tange a identificação de espaços e lugares da cidade com a população negra e, como contramovimento, a necessidade que se impunha de marcar pontos importantes no território da capital para uma escrita espacial da história do negro. Visando mediar o conflito entre memória e esquecimento se propôs erguer monumentos que sinalizassem a relação dos espaços escolhidos com a cultura e a presença negra, ou seja, procurava-se a marcação de um território negro, invisível, não apenas no espaço, mas também no tempo. Além do Tambor na Praça Brigadeiro Sampaio – já chamada de Praça do Tambor, se conta com A Pegada Africana, na Praça da Alfândega, o Monumento ao Bará, no Mercado Público, e o Painel Afro-brasileiro, no Largo Glênio Peres, porém, se está falando de um museu em movimento e em constante construção.
O museu superou seus ideais e limites de instrumento de ativação da memória negra no território da cidade, se convertendo, como assinala a pesquisadora Elza da Rosa, como divisor de águas pela capacidade que construiu de alavancar a luta por mais direitos, políticas públicas e inclusivas e garantias de dignidade humana (ver Quadro a seguir).
ATIVIDADES
REALIZAÇÃO
Primeiras articulações para a criação do CRAB - Década 1990
Reuniões preparatórias para o I Seminário de Criação do CRAB - 1996
Seminário de criação do CRAB e oficinas - 1997
Seminários II e III - 1998/99
Plano de Ação do Projeto Monumenta - 2002
Início do Projeto do Museu nas ações do Projeto Monumenta - 2008
Pesquisa Histórico-antropológica e pesquisa Museológica - 2009
Desenvolvimento de 5 projetos para obras de arte pública por artistas do grupo de artistas do Museu - 2009
Tambor – I Etapa/Formação da 1ª turma de jovens monitores - 2010
Lançamento do livro de registro da experiência do Museu - 2010
Pegada Africana – II Etapa - 2011
Bará do Mercado – III Etapa - 2013
Painel Afrobrasileiro – IV Etapa/Formação da 2ª turma de monitores - 2014
Lançamento do Catálogo do Museu - 2015

Referências:
VARGAS, Pedro R. O Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre ou, para muitos, a surpreendente história de um museu que não parece museu dedicado a um gaúcho que não é percebido como gaúcho. In: RAMOS, Jeanice D; VARGAS, Pedro R; SOUZA, Vinicius V. Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre: etapa IV. Porto Alegre, Editora Porto Alegre: 2015
SOUZA, Vinicius Vieira. Artes Visuais de Referência Afro-brasileira no espaço público de Porto Alegre. In: RAMOS, Jeanice D; VARGAS, Pedro R; SOUZA, Vinicius V. Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre: etapa IV. Porto Alegre, Editora Porto Alegre: 2015
VILASBOAS, Ilma Silva; BITTENCOURT JÚNIOR, Iosvaldyr C; SOUZA, Vinicius Vieira. Museu de Percurso do Negro em `Porto Alegre. Editora Porto Alegre, 2010
ROSA, Elza Vieira. O Museu de Percurso do Negro de Porto Alegre-RS: Interrompendo Invisibilidades, Reescrevendo experiências negras na cidade. Dissertação de Mestrado em Sociologia, Porto Alegre : UFRGS, 2019
Maravilhoso!!
Ótimo saber mais sobre a história e cultura da população preta.