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Nilo Alberto Feijó

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Nilo Alberto Feijó nasceu em Porto Alegre no ano de 1933, na região da antiga Colônia Africana (atuais bairros Montserrat e Rio Branco), sendo o mais velho de seis irmãos. Faleceu nesta mesma cidade em 06 de janeiro de 2016.


Ao longo de seus 82 anos de vida, por sua trajetória, tornou-se um dos mais proeminentes representantes da cultura e do movimento negro local e nacional. Atuou ativamente no carnaval da capital como pesquisador, compositor, carnavalesco, jurado e comentarista em canais de televisão sobre o desfile das escolas de samba e tribos locais.


É considerado precursor dos sambas enredo do carnaval gaúcho e suas músicas pautaram o desfile de escolas de alta popularidade, como a Acadêmicos da Orgia, a Imperadores do Samba e, principalmente, a Trevo de Ouro, um dos mais antigos. 


Era figura tão presente nas folias presididas por momo que ele próprio se tornou matéria-prima para os conteúdos dos festejos, vindo a dar nome ao Prêmio Personalidade do Carnaval Porto-alegrense Nilo Alberto Feijó (Resolução 2.803 de 15/03/2024), oferecido pela Câmara dos Vereadores de Porto Alegre, premiação destinada ao reconhecimento de grupos, entidades ou personalidades que se destacam na defesa, na divulgação e na preservação da tradição do carnaval da cidade.


Nilo foi ainda militante e agente do movimento negro, representando os clubes sociais negros no Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do RS – CODENE, órgão de aconselhamento e participação do governo do Estado, onde foi o presidente entre 2008 e 2010. Compôs também o Conselho Municipal dos Direitos do Povo Negro de Porto Alegre, na gestão que compreendeu o biênio 2011-2013. 


Também participou ativamente dos debates encaminhados pelo conjunto de entidades negras que se estenderam do fim dos anos 1990 à primeira década dos anos 2000 em prol da estruturação do Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre, projeto cujo empenho pessoal o levou a dar guarida em sua residência para a museóloga baiana Ilma Villasboas, que redigiu o plano museológico do Museu de Percurso, uma exigência do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM).

Todavia, sua contribuição mais marcante para o desenho do perfil estético e político que embasa o Museu foi sua participação no papel de griô, junto com Elaine Machado (Grupo Mocambo), Mestre Borel (1909-2011) e José Alves Bittencourt (1942-2009) – o Lua – que contribuíram com suas memórias para inspirar o coletivo de artistas que ergueu na praça próximo ao Museu do Trabalho a obra “O Tambor”, em 2010.


Pode-se dizer que a ampla e qualificada atuação de Nilo Feijó na sociedade civil e sua atuação junto às demandas do povo negro encontram amparo na sua ampla vivência junto aos clubes sociais negros de Porto Alegre, em especial na Associação Satélite Prontidão (ASP), entidade em que esteve na diretoria por mais de 20 anos, sendo seu presidente em três mandatos.


A Associação Satélite Prontidão carrega essa denominação desde 1956, ocasião em que se fundiram as sociedades Satélite e Prontidão. A nova agremiação foi fundada no bairro Cidade Baixa (rua Baronesa do Gravataí), região do Areal da Baronesa, onde se encontra o primeiro quilombo urbano reconhecido no Brasil e que foi o berço do carnaval negro da cidade, onde a própria sociedade Prontidão nasceu como bloco carnavalesco.  No entanto, com a denominação de Satélite, essa mesma associação atuava desde 20 de abril de 1902, data em que foi fundada por famílias negras da capital com o objetivo de manter vivas as tradições, a cultura e a educação daqueles que descendiam de escravizados. Naquele ano, fazia apenas 14 anos que a lei da abolição da escravidão no país tinha sido instituída. 


Nilo chegou à SAP pelas mãos de seu pai Camilo Américo Feijó e ainda nos anos 1950 passou a integrar um dos blocos oriundos dos “prontos”, como eram chamados os associados do Prontidão. Esse bloco era o Trevo de Ouro.

As associações negras como a SAP, a Floresta Aurora – fundada em 1872 e veículos de imprensa como o jornal O Exemplo (que circulou entre 1892 e 1930), foram responsáveis, nas primeiras décadas do século XX, pelas principais lutas para integrar a população negra à sociedade através da educação. Os escravizados e os recém libertos, nestas primeiras décadas após a abolição eram majoritariamente analfabetos.


Na SAP, Nilo contribuiu para estruturar uma sociedade que estimulou a educação por meio de cursos e pré-vestibulares e procurou valorizar o papel decisivo das mulheres negras (vanguardeiras prontistas). Instituições como a SAP são apresentadas como espaços de territorialidade negra no trabalho da geógrafa Daniele Vieira, segundo a qual “a territorialidade negra urbana provém dos percursos construídos e vivenciados pelos africanos e seus descendentes”. Nesse sentido, Nilo Feijó é um exemplo, uma vez que construiu um percurso e uma trajetória de vida que reflete essas apropriações e significados próprios aos territórios negros. 


O reconhecimento ao trabalho de Nilo Feijó está materializado também em ações como, a premiação Troféu Nilo Feijó oferecida anualmente pela Sociedade Floresta Aurora na Semana da Consciência Negra, a denominação do Centro de Referência do Negro Nilo Feijó na Avenida Ipiranga 311 e na denominação de uma rua da cidade no bairro Campo Novo. Além de tudo, ele foi ainda colaborador no consagrado livro-fonte de pesquisa Negro em Preto e Branco de Irene Santos publicado em 2005.

Pesquisa de imagem de Leandro Machado


Referências:




VIEIRA Daniele M et ali (vários autores). Territórios negros em Porto Alegre: construindo possibilidades de percursos SMED Porto Alegre 2017Apresentação do PowerPoint


 
 
 

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