SALÃO RUY BARBOSA
- Jane Mattos

- 14 de out.
- 2 min de leitura

Em 20 de fevereiro do ano de 1936, o jornal Correio do Povo trouxe uma publicação das celebrações relacionadas aos festejos momescos, sendo a espera pelo baile burlesco, que era anunciado então como ricamente ornamentado no estilo egipciano, um dos eventos esperados com entusiasmo pelos foliões. O mesmo estava marcado para ocorrer no Salão do Ruy, sendo promovido pela Sociedade Filosofia Negra.
Palco de grandes festas carnavalescas e encontros da sociedade negra porto-alegrense nas décadas de 1930 e 1940, o Salão do Ruy Barbosa - ou Salão do Ruy, como também era popularmente conhecido - recebeu a nomenclatura em homenagem ao abolicionista homônimo (Ruy Barbosa viveu entre 1849 e 1923).
Situado no coração do território negro da Colônia Africana, mais especificamente no cruzamento das ruas Casemiro de Abreu e Esperança (atual Miguel Tostes), teve também a alcunha de sociedade de pretos da Rua Esperança.
O Salão oferecia seus espaços para inúmeras sociedades de outros territórios negros da cidade, como a Sociedade Prontidão e a Sociedade Floresta Aurora. Suas salas, ao longo do ano, acolhiam encontros da comunidade negra que aconteciam geralmente ao som das jazz-bands, reunindo uma rica ornamentação e vestes de gala.
Iris Graciela Germano, em sua tese de mestrado na UFRGS, escrita em 1999, afirma que as sociedades negras, organizadas em blocos e ranchos, saiam às ruas defronte de suas sedes e salões no carnaval para esperar a passagem dos corsos de automóveis, entre os quais o do Salão do Ruy.
A fotógrafa Irene Santos, em seu livro de 2010, descreve o Salão do Ruy como um prédio à direita de quem sobe para avenida Independência, com um corrimão imponente de madeira lustrada por onde desciam ilustres artistas negros locais e nacionais da música e do teatro, assim como as rainhas dos clubes.
Tinha também um grande corredor atrás da escada e, no fundo, uma copa próxima aos banheiros. Na frente do palco tinha um salão com uma escada para o acesso dos destaques e atrações artísticas. A capacidade era de 500 pessoas que deslizavam pelo piso encerado e se olhavam nos espelhos que circundavam a sala de baile.
O surgimento no Salão do Ruy provavelmente tenha ocorrido nas primeiras décadas do século XX e seu término deve ter acompanhado o processo de gentrificação ocorrido com a Colônia Africana, que resultou na retirada dos negros deste espaço nas décadas após a de 1950.
Pesquisa de imagem Jane Mattos - Desenhos de como era o salão.
Referências:
Correio do Povo,20/02/1936, p.11.
GERMANO, Iris Graciela. Rio Grande do Sul, Brasil e Etiópia: os negros e carnaval de Porto Alegre nas décadas de 1930 e 40. Mestrado em História- PPGH Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999.
SANTOS, Irene.et.al. (coords). Caboclos e Quilombolas, memória fotográfica das colônias africanas de Porto Alegre. Porto Alegre: Do autor, 2010.








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