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  • MARIA LUIZA RODRIGUES VIANA - Malu Viana ou Mc Flor do Gueto

    M aria Luiza Rodrigues Viana - Malu Viana ou Mc Flor do Gueto foi rapper, radialista de formação, educomunicadora, educadora social e produtora cultural, tendo sido idealizadora e diretora executiva da Flor Do Guetto Produtora.  Graduanda em Serviço Social, nasceu em Porto Alegre no ano de 1974. Seus pais trabalhavam para uma família rica, circunstância em que teve acesso aos estudos numa escola privada e desde pequena percebeu as diferenças sócio raciais daquele contexto e cotidiano. Sua trajetória acabou por ficar marcada pelo ativismo político nos movimentos de juventude, das mulheres e pela igualdade para todos.  Na adolescência, nos anos 1980, encontrou conexão na cultura Hip Hop. Quando o grupo de rap Racionais Mc's veio a Porto Alegre pela primeira vez, nos anos 1990, ela faz questão de aguardar os artistas na saída do hotel para cobrar o Rapper Mano Brown pelo conteúdo machista de algumas de suas letras. Tempos depois, Mano Brown apadrinhou o grupo de rap de Malu Viana, o Flor do Gueto, que foi tratar da realidade das mulheres negras e periféricas. Em 2003, Malu Viana, tornou-se conselheira e participante da Conferência Nacional da Juventude, sendo a representante do Hip Hop gaúcho na edição Internacional do Fórum Social Mundial, realizado na Índia, em 2004.  Entre 2012 e 2016, atuou no Fórum Permanente do Hip Hop, foi candidata a vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na eleição municipal de 2020 e lamentavelmente faleceu ainda bastante jovem, em 2021, aos 47 anos, vítima de um infarto. O Museu da Cultura Hip Hop, localizado na Zona Norte de Porto Alegre, homenageou Malu Viana ao inaugurar uma estufa agroecológica, batizando-a de "Mc Flor do Gueto". Pesquisa de imagem: Leandro Machado Referências: Mídia Ninja. Malu Viana a nossa luta é todo dia em Porto Alegre. < https://midianinja.org/opiniao/malu-viana-a-nossa-luta-e-todo-dia-porto-alegre-rs/ > Acesso em: 17 de fevereiro de 2025. < https://legitimas.blogspot.com/ > Acesso em: 17 de fevereiro de 2025.

  • CAIXA PRETA

    O grupo de teatro Caixa - Preta é um coletivo de teatro formado e fundado por artistas negros do cenário cultural da cidade de Porto Alegre, no ano 2002. Liderado e fundado pelo diretor de artes cênicas Jessé Oliveira, o grupo surgiu como forma de destacar e valorizar a presença negra na cena artística porto-alegrense, trazendo uma composição majoritária de atuadores afro gaúchos, entre estes nomes de destaque como Glau Barros (cantora, fundadora do grupo), Marcelo de Paula (ator, arte educador e fundador do grupo), Vera Lopes (atriz e fundadora do grupo) e Adriana Rodrigues (bailarina, atriz, fundadora do grupo), agregando ao longo da sua trajetória muitos outros, entre estes Juliano Barros, que foi curador de uma das edições do Festival Porto Alegre em Cena.    Em suas atuações, o grupo procurou explorar e apresentar elementos estéticos, literários e conceituais da cultura afro-brasileira (e gaúcha) dialogando com textos clássicos como Hamlet, de William Shakespeare, e com as escrevivências negras (termo cunhado pela escritora Conceição Evaristo) como as do poeta e ativista Cuti, sendo Transegun  a primeira peça no ano de 2003. Em 2005, o grupo estreou Hamlet Sincrético  nos pavilhões do Hospital Psiquiátrico São Pedro, sendo reconhecido em vários lugares do Brasil e no Uruguai, recebendo inúmeros prêmios e indicações em diversas categorias como Melhor Espetáculo, Direção, Figurino, entre outras.  Nas palavras do produtor e idealizador do espetáculo, Jessé Oliveira, o objetivo foi “exercitar e revelar uma série de signos da nossa cultura afro, tentando resgatar os elementos que se constituíram no Brasil ao longo dos mais de quinhentos anos”. O Caixa - Preta ao longo de sua trajetória produziu vários espetáculos, como o monólogo Madrugada, Me Proteja , de 2007, de Cuti; Antígona BR  (2008), O Osso de Mor Lam  (2009/2010), do Senegalês Birago Diop , Aparição da Virgem Maria  (espetáculo de rua) e Dois Nós na Noite , ambos do ano de 2010. Entre as proposições do coletivo foram realizados diversas ações paralelas, de forma contínua, entre 2006 a 2013, como o Encontro de Arte de Matriz Africana que acionou debates e reflexões em torno da arte afro-brasileira, trazendo para capital pesquisadores e artistas negros do cenário nacional.  No ano de 2015 o grupo apresentou seu último grande espetáculo: Ori Oristeia ,  no palco do Teatro São Pedro, que compôs a ideia-proposta da   Trilogia da Identidade  com Hamlet Sincrético   e Antígona BR . Ainda que não tenha produzido espetáculo novo após 2019, neste período foi lançado o livro Hamlet sincrético: em busca de teatro negro .   Posteriormente, no Porto Alegre em Cena de 2020, houve a apresentação, pelo grupo, de uma performance denominada Sincrético Noite . O Caixa - Preta ainda segue existindo, sendo referência por seu pioneirismo nos palcos do extremo sul do Brasil. Pesquisa de imagem: Leandro Machado Referências: Hamlet sincrético: em busca de teatro negro . Organização Jessé Oliveira e Vera Lopes. Porto Alegre; Caixa Preta, 2019.

  • ALCEU DE DEUS COLLARES

    A lceu de Deus Collares, Alceu Collares ou apenas Collares, como ficou amplamente conhecido e reconhecido, foi advogado, servidor público dos Correios e Telégrafos, vereador, deputado federal, prefeito de Porto Alegre e governador do Estado do Rio Grande do Sul. Nascido na cidade de Bagé, em 7 de Setembro de 1927, faleceu em 24 de Dezembro de 2024, em Porto Alegre, aos 97 anos. Foi, até então, a primeira e única pessoa negra a assumir a Prefeitura de Porto Alegre e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul de forma eletiva: Fui o primeiro negro chegar à Prefeitura de Porto Alegre e ao governo do Rio Grande do Sul. O povo gaúcho depositou em mim, filho de negro e de mãe indígena, a confiança para administrar este Estado e sua Capital. (SANTOS, 2005. p. 84) Oriundo de uma família afro-indígena da fronteira do estado, seus pais morreram analfabetos e Collares até interrompeu os estudos primários para ajudar no sustento da família, tornando-se vendedor de frutas com o pai, numa quitanda. Com pouco mais de vinte anos, conclui o que hoje é o ensino básico e em seguida o equivalente ao ensino médio. Na década de 1950, mudou-se para a capital, Porto Alegre, onde veio cursar a Faculdade de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, dividindo também seu tempo entre as atividades nos Correios e Telégrafos, como funcionário, e as aulas de língua portuguesa que ministrava na escola ACM. Em 1959, filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, e, em 1961, apoiou a Campanha da Legalidade liderada por Leonel Brizola. Em 1963, concorreu a uma vaga na Câmara Municipal e foi eleito vereador, assumindo em 1964. Com os atos institucionais e a extinção dos partidos, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro - MDB, partido de oposição durante à Ditadura Civil-Militar. Em 1968, Alceu Collares foi reeleito vereador em Porto Alegre, com ampla votação. Em 1970 elegeu-se deputado federal e, em 1974, foi reeleito, sendo o candidato mais votado do estado. Em 1978, chegou ao terceiro mandato na Câmara Federal, sendo mais uma vez o mais votado do estado. Em 1979, com o retorno do pluripartidarismo, ajudou a fundar o Partido Democrático Trabalhista - PDT, junto a Leonel Brizola, e, em 1982 concorreu ao governo do estado, tendo sido o mais votado na região metropolitana, ficando porém em terceiro lugar. Em 1985, venceu as eleições municipais em Porto Alegre, exercendo um mandato tampão de de três anos. Já em 1990, Collares concorreu ao governo do estado novamente, desta vez vencendo as eleições. Foi governador de 1991 a 1994, tendo seu governo marcado pela criação dos Conselhos Regionais de Desenvolvimentos - COREDES e pelo crescimento econômico mesmo em meio à crise que o país passava.  Na Educação, um dos maiores emblemas do seu partido, o PDT, viveu um dilema que gerou desgaste popular: o Calendário Rotativo, que não foi bem recebido pelos professores. Em contrapartida, seguindo a experiência do Rio de Janeiro governado por Brizola, criou, no Rio Grande do Sul, os Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs, com educação em tempo integral. Nos anos de 1998 e 2002, foi eleito pela quarta e quinta vez, respectivamente, ao cargo de deputado federal. Entre 2008 e 2016, atuou no Conselho de Administração da Usina Hidrelétrica de Itaipu, e, a partir de 2018, passou somente a prestar apoio à algumas candidaturas, pois teve problemas recorrentes de saúde. Em 2019, Alceu Collares foi o homenageado no carnaval da Escola de Samba União da Vila do IAPI com o tema enredo: “O voto é tua única arma. Prazer! Sou Alceu Collares, de Bagé”. Pesquisa de imagem: Leandro Machado Referências: “Alceu Collares”. Wikipédia, Wikimedia Foundation, 10 de Março. 2025, < https://pt.wikipedia.org/wiki/Alceu_Collares > SANTOS, Irene (Org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: do autor, 2005.

  • FOLHETIM DO ZAIRE

    Imagem criada com IA para retratar a distribuíção dos folhetins, mais imagens na galeria abaixo. O Folhetim do Zaire  foi um periódico de comunicação produzido por carnavalescos para a comunidade negra de Porto Alegre, fundado em 1974, pelo músico Mourency Silva Teixeira, o “Moura do Cavaco”. Era produzido artesanalmente, em mimeógrafos e fotocópias.  O músico Moura teve passagens por vários grupos de samba, sendo reconhecido como figura importante na comunidade carnavalesca e assíduo frequentador dos pontos de encontros entre negros e negras, sobretudo entre os carnavalescos da antiga, como à frente da tradicional Confeitaria Matheus, próximo à consagrada Esquina Democrática, localizada na área central de Porto Alegre – ponto de manifestação democrática da diversidade etnicorracial, cultural e política.  Em 1982, o Folhetim  teve alterado seu nome para Folhetim do Zaire , o que vinha das discussões sobre a representatividade e identidade negra ou afro-brasileira impulsionadas pela Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, entre uma seleção brasileira e uma seleção africana, neste caso contra a do Zaire (República Democrática do Congo). A Copa de 1974 foi a primeira transmitida a cores pela televisão e a primeira também a ter um selecionado onde todos os jogadores eram negros: o Zaire. Este fato inédito repercutiu no imaginário social entre os afro-brasileiros e africanos, penetrando os anos 1980, a ponto da Esquina Democrática - encontro das avenidas Borges de Medeiros e Rua da Praia - passar a ser designada de “Esquina do Zaire”.  O nome do país centro-africano - que de 1971 a 1997 foi denominado Zaire - transformou-se, após essa aparição na Copa do Mundo, numa expressão que se referia também a um conjunto de pessoas negras reunidas em qualquer lugar. Essa “Esquina do Zaire” passou a sinalizar a intensa sociabilidade pública negra urbana que ocorria na “Esquina Democrática” e adjacências, quase sempre às sextas-feiras, quando diversos segmentos culturais negros e negras circulavam por entre esquinas, ruas, galerias, pontos de encontros e bares da área central.  Nesta nova fase, O Folhetim do Zaire  passou a apresentar um logotipo de identificação com desenho de um negro africano e pigmeu correndo e segurando um jornal na mão direita. Muitas vezes, aparecia com nome de “Adoniran”, em alusão a importante sambista, figurinista, carnavalesco e radialista negro Adoniran Ferreira, já falecido.  Ao longo das décadas de 1970 a 2010, existiu em Porto Alegre uma imprensa negra carnavalesca representada por três veículos alternativos: os jornais impressos  Folhetim do Zaire ,  O Jurado   e  Ensaio Geral .  O Folhetim do Zaire  passou a fazer parte da mídia alternativa, sendo considerado ainda importante artefato cultural que se prestava a uma pedagogia de um modo de ser negro, em termos ontológicos, o que era omitido pela imprensa burguesa, fenômeno analisado pelo Prof. Dr. Roberto Santos, historiador da Ulbra em sua dissertação de mestrado “ Pedagogias da Negritude e Identidades Negras em Porto Alegre: Jeitos de Ser Negro no Tição e no Folhetim do Zaire (1978/.1988), sob a orientação da historiadora Maria Angélica Zubaran (Ulbra), Canoas, 2007.  O Folhetim do Zaire , por vezes, trazia os seguintes subtítulos: Informativo carnavalesco   ou   MINI Informativo do SAMBA e do CARNAVAL .   No dia 15 de setembro de 1992, por iniciativa do Vereador Wilton Araújo, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre comemorou oficialmente os 10 anos do Folhetim, que havia sido fundado em 1974. O veículo foi homenageado através do seu fundador, Mourency Silveira Teixeira, do patrono Luis Carlos Marques Teixeira e do colaborador Waldemar de Moura  Lima, o Pernambuco, que na ocasião declarou : O Folhetim do Zaire  é, primeiramente, antes de tudo, um grito de revolta contra a imprensa oficial e contra os meios de comunicação em geral que desconsideram, desrespeitam e, propositadamente, se negam a ver a força emergente da nossa cultura de raiz, da nossa cultura negra, tão brasileira e marginalizada quanto nós, brasileiros marginalizados. Pesquisa de imagem: Leandro Machado Referências: BITTENCOURT JR, Iosvaldyr Carvalho Bittencourt . Porto Alegre – do Porto dos Casais a um porto africano - a ocupação negra do centro de Porto Alegre. Comunicação apresentada na 17ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Florianópolis, 1990. ______.   Relógios da Noite: uma antropologia da territorialidade e da identidade negra em Porto Alegre . Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – PPGAS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1995, 246p. ______. A Esquina do Zaire  – Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre. Presença negra no Rio Grande do Sul. (Org.) SEFFENER, Fernando, Porto Alegre: EU/Porto Alegre, 1995, 97p. ______. Territórios negros . (Org.)  SANTOS, Irene. Negro em preto e branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre, Porto Alegre, Fumproarte, 2005, 184p. ______. Territorialidade Negra Urbana : a evocação da presença, da resistência cultural, política e da memória dos negros, em Porto Alegre, delimitando espaços sociais contemporâneos. (Org.) POSSAMAI, Zita Rosane. Leituras da Cidade, Ed. Evangraf, Porto Alegre, 2010, 320p. GOMES, Roberta Fraga Machado. Turismo e Cidadania : A redenção das Africanidades. Editora Bestiário, Porto Alegre, 2012, 106p. ORO, Ari Pedro; ANJOS, José Carlos dos; CUNHA, Mateus. A tradição do Bará do Mercado , Poro Alegre, PMA/SMC, CMEC, 2007. SOMMER, Michelle Farias. Territorialidade Negra  – A herança africana em porto Alegre: uma abordagem sócio-espacial, Fumproarte, Porto Alegre, 2011, 184p. VILASBOAS, Ilma Silva; BITTENCOURT JR, Iosvaldyr Carvalho e SOUZA, Vinícius Vieira de. Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre , Ed. Porto Alegre, Vinícius Vieira de Souza, 2010, 172p.

  • GUARANI DOS SANTOS

    Imagem criada por IA a partir da pesquisa de imagem realizada. N o Diário Oficial do Senado Federal de 10 de março de 2009 foi publicado o requerimento do Senador Paulo Paim, homem negro gaúcho com uma trajetória política representativa no parlamento nacional, na forma de um voto de pesar pelo falecimento do professor Guarani Amir Quites dos Santos, ocorrido no dia 04 de março de 2009, aos 63 anos de idade, tendo como casua uma parada cardiorrespiratória.  No requerimento proposto pelo senador, Guarani é referido com um renomado professor, escritor e historiador, líder do Movimento Negro do Rio Grande do Sul e autor de livros como A Violência Branca sobre o Negro no Estado . Guarani, como ativista, foi filiado ao Movimento Negro Unificado (MNU) desde de a década de 1980. Para além do registro da perda, a nota oficial faz uma homenagem a um dos protagonistas da resistência ao regime de exceção empreendida pela comunidade negra do sul do Brasil e a posterior luta pela redemocratização. A trajetória do intelectual negro Guarani Amir Quites dos Santos - ou professor Guarani Santos - como era mais popularmente referido, começa na capital gaúcha, lugar de seu nascimento em 12 de setembro do ano de 1945.  Filho de Mara Eremita Quites e de Ary Gomes dos Santos, teve sua trajetória ligada à pesquisa histórica e à representação negra. Licenciado em História pela Faculdade Porto Alegrense (FAPA), fez graduação latu sensu (especialização)   na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atuou em escolas da rede pública estadual, como a politécnica Parobé, onde lecionou por um longo período, bem como nos cursinhos pré-vestibulares.  Integrou o sindicato dos professores do Rio Grande do Sul e, além de ativista do MNU, foi também integrante da equipe de organizadores da primeira Semana da Consciência Negra da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, realizada na gestão do Prefeito Alceu de Deus Collares (no mandato de 1986 a 1989).  Em sua trajetória político-partidária, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), integrou o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Defendeu a criação do Partido Negro Brasileiro, entendendo que a política institucional e às organizações do sistema político seriam fundamentais para as reivindicações para o povo negro.  Em um dos seus últimos textos publicados no livro de Irene Santos em 2005, O Negro em Preto e Branco , artigo intitulado Os Primeiros Tempos , Guarani descreve a trajetória  da comunidade  afro-gaúcha desde seus primórdios, acessando a documentação que atesta a entrada dos primeiros africanos no extremo sul do Brasil, em 1737, percurso mapeado por meio de jornais e dos anúncios veiculados em publicações do século XIX, como no Diário de Porto Alegre.  Tal pesquisa empreendida por ele, demonstra a escravização urbana e os atos de resistência a esta condição, apontando para as fugas e a formação de quilombos.  Foi também autor e pioneiro de várias obras sobre a diáspora negra em terras gaúchas, O que ler sobre o Negro no Rio Grande do Sul: subsídios para a pesquisa histórica (de 1984),   O negro na Constituinte , de 1986, A epopeia do Quilombo dos Palmares , de 1987 e A violência branca sobre o negro do Rio Grande do Sul , de 1990. Pesquisa de imagem: Jane Mattos Referências: MACEDO, José Rivair; MOREIRA, Paulo Roberto Staudt; BARROSO, Vera Lucia Maciel. Racismo, relações de poder e história negra em Porto Alegre: séculos XIX-XX.   Centro Histórico- Cultural Santa Casa. Porto Alegre: Evangraf: ISCMPA, 2023. PEREIRA, Lúcia Regina Brito (coord.). A África está em nós: história e cultura afro-brasileira: africanidades Sul-Rio-Grandenses  [et al.].  João Pessoa, PB: Editora Grafset, 2012. SANTOS, Irene (org.). O Negro em Preto e Branco: História fotográfica da população negra de Porto Alegre . Porto Alegre: Do Autor, 2005. Diário do Oficial do Senado,  2009.

  • BOLETINS SATÉLITE PRONTIDÃO

    O s boletins informativos são materiais de imprensa que a Associação Satélite Prontidão (ASP) desenvolveu nos anos 1990. Essas publicações, lançadas em maior parte mensalmente, tinham o propósito de comunicar os projetos da instituição, além de abordar os acontecimentos do presente, atinentes à realidade do clube, dos seus sócios ou de contextos de interesse da comunidade satélite-prontista, e as pretensões para o futuro da ASP.  Os boletins de 1995 a 1999 foram desenvolvidos na gestão do presidente Ruben Canabarro e tiveram continuidade na gestão Eloy Dias dos Angelos. O material era produzido em folha A4, frente e verso e era enviado aos sócios pelos Correios. No cabeçalho, constava o brasão da Associação, o contato e endereço — na época, na avenida Aparício Borges, zona leste de Porto Alegre — o mês, ano e o número da edição, destacando a seguinte descrição, que marcava posição como local de relevância cultural e social da capital e do estado do Rio Grande do Sul: Entidade de caráter Cultural, Recreativo e Social - Fundada em 1902. Declarada de Utilidade Pública pela Lei Municipal nº 7.425 de 11-05-94. Declarada de Utilidade Pública Estadual pelo processo nº 001296-200/97.1 da STCAS. De maneira geral, o formato dos boletins informativos da ASP seguia um padrão. Havia espaços destinados para as diversas comunicações do clube, anunciando as campanhas promovidas pelos departamentos da Associação e os próximos eventos: os tradicionais bailes e chás, bem como o Troféu Zumbi, de condecoração a personalidades negras de destacada atuação. Por outro lado, havia as seções permanentes: a nota da presidência, a “Satélite em Prontidão” e “A Nossa História”. Na nota da presidência, os dirigentes poderiam compartilhar aspectos sobre a gestão do clube, por exemplo, repassando informações sobre o quadro financeiro e a necessidade de engajamento de sócios e não-sócios, sobretudo para que esses cooperassem com a construção do espaço social da ASP. Por meio dessa seção, os presidentes cultivavam o espírito associativista, manifestando a importância do zelo pelo espaço físico e da união para a manutenção da existência desse clube social negro. A seção “Satélite em Prontidão” trazia informações sobre o cotidiano do clube, onde se pode verificar quais atividades estavam sendo propostas, como as de cunho esportivo, as oficinas de capoeira e violão, o curso Pré-Vestibular Zumbi dos Palmares, iniciativa da instituição. Além do mais, observa-se a relação da ASP com outros territórios negros da capital, como as escolas de samba. Na seção, compartilhavam-se notas sobre as conquistas de membros do clube e de seus familiares, como aprovação no vestibular, formaturas, casamentos, nascimentos e ainda, também, as notas de falecimento.  Além disso, esse espaço proporcionava acesso às produções e ocasiões ligadas à experiência negra no Brasil e no mundo, informando sobre eventos políticos e culturais e divulgando o trabalho de artistas afrodescendentes. Por fim, sempre havia uma curta mensagem — podia ser uma frase ou trecho de poema — em que muitas vezes eram trazidos autores e pensadores negros. A seção “A Nossa História” trazia conhecimentos acerca da experiência negra no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo. Tratando sobre a cultura e a História, foram retratados aspectos do Maçambique de Osório, a origem do mocotó e da capoeira, a trajetória de personagens históricos marcantes para a História do Brasil que não são evidenciadas pela historiografia oficial, como Luiz Gama, André Rebouças, Cruz e Souza, João Cândido e Solano Trindade. Além disso, acontecimentos e personalidades marcantes do contemporâneo, ligados ou não ao clube, eram evidenciados: por exemplo, estudantes do Pré-Vestibular Zumbi dos Palmares receberam congratulações pela aprovação no vestibular; os vencedores do Troféu Zumbi sempre eram anunciados, abordando um pouco de suas trajetórias; eventos políticos e culturais eram oportunidades para pensar sobre e as relações étnico-raciais e a luta antirracista.  A situação dos clubes cociais negros era pauta para refletir sobre a postura dos indivíduos em relação ao associativismo.  Numa ocasião, em novembro de 1999, a Fundação Cultural Palmares solicitou cópias de alguns boletins informativos da ASP, destacando que “A seção ‘A Nossa História’ conferia visibilidade a personalidades negras em suas atuações sociais e constituia uma importante fonte de informação para estudiosos e pesquisadores da Cultura Negra,”  - conforme registrado no boletim nº 36, daquele mês e ano. Pesquisa de imagem: Ana Carolina Aguilhera dos Santos Referências: FONTES Boletins informativos. 1995-1999, n° 1 à nº 38. Acervo Associação Satélite Prontidão. REFERENCIAL DE PESQUISA CUNHA, Camila Rosângela da Silva. A Associação Satélite Prontidão: uma História Social dos negros no pós-abolição.  Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) — Universidade La Salle. Porto Alegre, 2018. FEIJÓ, Ana Lúcia Felippe. Os 110 anos da Associação Satélite Prontidão em uma viagem através da fotografia . Trabalho de conclusão de curso Especialização em Pedagogia da Arte - Programa de Pós-graduação em Pedagogia da Arte, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013.

  • BAILE BLACK PORTO

    A s festas Black Porto eram bailes promovidos pelo grupo Jara Musi-som na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A partir do final dos anos 70, e fortalecendo-se com o passar dos anos, as festas reuniam jovens negros aos finais de semana, tornando o nome da equipe organizadora referência em bailes de música black  na cidade. - Foto de um grupo de jovens no baile do Jara Musi-som - banco de imagens da página “Morrodacruzhistórias”, Facebook. O Jara Musi-som surge a partir da fusão de duas fortes equipes de som que atuavam nas festas do circuito Black  da capital. No período, as festas promovidas pelo Jara Musi-som eram notáveis pela sua qualidade de aparelhagem e os locais escolhidos: em articulação com diversos ginásios pela cidade, as festas alcançaram públicos de várias zonas. Para mais informações, clique no botão abaixo: A divulgação da Black Porto ocorria ao longo da semana no centro da cidade de Porto Alegre, de grande circulação de trabalhadores – boa parte deles eram pessoas negras. Um ponto que atraía muitos dos jovens trabalhadores para as festas do Jara era o valor acessível dos ingressos para um público de baixa renda, tornando “o baile uma excelente opção de entretenimento para esses jovens trabalhadores que não tinham condições financeiras de frequentar outros locais.” (CAMPOS, 2014, p. 116). Por meio de panfletos e lambe-lambes, distribuídos pelos organizadores, o público ficava sabendo sobre o horário e local da festa, além das atrações e as formas de adquirir ingressos. – Panfleto de divulgação do Black Porto 87 - Deivison Moacir Cezar de Campos, tese de doutorado intitulada “Do disco à roda: a construção do pertencimento afrobrasileiro pela experiência na festa Negra Noite”, p. 116. O ponto de referência para se saber sobre o baile e já conhecer pessoas que frequentavam era a Esquina do Zaire, ou Esquina Democrática, um cruzamento entre a Rua dos Andradas e a Avenida Borges de Medeiros e, na ocasião, o local “onde os negros de todas as raças se encontram”. De acordo com Deivison Campos (2014, 115): “A esquina das ruas dos Andradas e avenida Borges de Medeiros, denominada Esquina Democrática, era chamada de Esquina do Zaire, uma referência à seleção de futebol daquele país que disputou a Copa de Mundo de 1982, na Espanha, e possuía apenas jogadores negros. Os jovens reuniam-se em rodas de conversa que, muitas vezes, serviam também para ensaiar alguns passos de dança que seriam apresentados no baile do final de semana.” - "Onde os negros de todas as raças se encontram..." - Propaganda de televisão mencionando a Esquina Democrática - banco de imagens da página “Morrodacruzhistórias”, Facebook. Cabe observar  o momento histórico de emergência das festas Black - Black Porto (RS), Black Rio (RJ), Black Uai (MG) e Baile Chic Show (SP) - em um contexto internacional de afirmação do povo negro, com a valorização da estética do black power . O soul  e o funk , os ritmos mais tocados nos bailes, traziam na sua batida e letras essa estética. Porém, tão importante quanto a música em si eram a expressão corporal, o vestuário, os penteados e a decoração ambiente, trazendo imagens/símbolos racializados (DOMINGUES & MEDEIROS, 2024, p. 5). Importante também são os elementos que surgem para além do baile em si: vale mencionar que o Black Porto tinha um concurso para eleger a “Garota Black Porto” o que representa o compromisso da organização com a afirmação da beleza negra, especificamente de mulheres negras. A estética era aliada à uma luta política por cidadania, o que, portanto, conferia ao Black Porto e outros bailes um caráter de positivação de identidades negras. Conforme Deivison Campos (2014, p. 117), aqueles que frequentavam os bailes viam no espaço “a única alternativa de diversão realmente para negros”. A principal proposta dos organizadores era promover uma “festa dançante para agitar na qual os frequentadores vão para sentir o peso da música” (Brother Neni, 2011, apud CAMPOS, 2014, p. 117). Era sentindo a música por meio do seu corpo que os sujeitos se entrosavam com o espaço e uns com os outros, construindo relações que iam para além da diversão da festa, tanto em âmbito afetivo quanto político. - Concurso “Garota Black Porto 85” - acervo de Brother Neni, um dos DJs do Black Porto, banco de imagens da página “Black Night”, Facebook Referências: CAMPOS, Deivison Moacir Cezar de. Do disco à roda: a construção do pertencimento afrobrasileiro pela experiência na festa Negra Noite. 222f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Porto Alegre, 2014. CAVALCANTI, Amanda. Bailes black ganham homenagem no C6 Fest; conheça a história. UOL Splash, São Paulo, 6 maio 2024. Disponível em: https://www.uol.com.br/splash/noticias/2024/05/06/bailes-black-ganham-homenagem-no-c6-fest-conheca-a-historia.htm . Acesso em: 6 abr. 2025. DOMINGUES, Petrônio; MEDEIROS, Carlos Alberto. Black Rio: música, política e identidade negra. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 44, n. 95, p. e272464, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/nXpdfHJmmdw64K5B4mH4Ypy/ . Acesso em: 6 abr. 2025.

  • SOPAPO POÉTICO

    O sarau Sopapo Poético foi fundado em 2012 por integrantes da Associação Negra de Cultura do Rio Grande do Sul (ANdC) com o objetivo de afirmar a identidade negra e dar visibilidade à produção literária e artística de poetas e artistas negros da região. O evento literário surge em um contexto onde as vozes negras, muitas vezes marginalizadas, buscavam se fortalecer diante da hegemonia cultural branca.  Seu objetivo central foi sempre promover a poesia negra e as expressões artísticas afro-brasileiras e, ao mesmo tempo, combater os estereótipos raciais contribuindo para possibilitar o surgimento de uma nova narrativa sobre a experiência negra no Brasil. A poesia ocupa um papel central, mas o Sopapo Poético também procurou caracterizar-se por seu caráter plural, reunindo diversas formas de expressão artística e tornando-se um importante ponto de encontro para a produção e celebração da arte negra na capital gaúcha. A denominação "Sopapo Poético" faz referência a um "sopapo", que em algumas regiões é usado para descrever um golpe simbólico, representando a força da palavra poética como uma forma de contestação e resistência cultural. Em algumas regiões do sul do Brasil, como em Pelotas, por exemplo, "sopapo" também pode se referir a um tipo de instrumento musical tradicional, como o utilizado e consagrado no carnaval de Porto Alegre pelo percussionista Giba-Giba. Sendo este um instrumento de percussão utilizado principalmente em festas e celebrações populares.  O sarau do Sopapo Poético também é descrito como o "Ponto Negro da Poesia", destacando-se pela criação de um espaço dedicado ao encontro de vozes e saberes negros, além de sua função como ferramenta de mudança social por meio da arte. A cada edição, o evento reúne diversas manifestações artísticas, como dança, teatro, música e artes visuais, além da poesia. Além disso, os organizadores procuram dar ao sarau, sempre, caráter educativo, algo que funcione como um espaço de ensino sobre a história afro-brasileira e o legado da resistência cultural negra, aproximando os participantes da cultura afro-brasileira e proporcionando um conhecimento descolonizador e libertador. O Sopapo também se caracteriza como uma forma de arte colaborativa, onde o público é incentivado a se envolver ativamente, seja por meio de apresentações de suas próprias poesias ou participando de debates e reflexões coletivas. Acontece na última terça-feira de cada mês, de março a novembro, em diversos locais culturais da cidade de Porto Alegre, nos centros culturais, praças, teatros e até espaços alternativos como nalguns bares da cidade.  A estrutura do sarau sempre inclui apresentações poéticas seguidas por momentos de debate, onde os participantes discutem os temas abordados nas performances. A música é uma parte essencial e os ritmos afro-brasileiros também, como o samba, o batuque gaúcho e as percussões, gerando uma atmosfera de improviso e entrelaçamento de poesia e música. Esse tipo de dinâmica busca recuperar as tradições da roda de poesia e da oralidade, características centrais das culturas africanas, além de proporcionar um ambiente mais visceral e orgânico, onde todos são convidados a participar ativamente, seja como público ou como artista. Em uma cidade com uma história marcada pela marginalização das culturas negras, o sarau se posiciona como um ponto de resistência à invisibilidade e à exclusão dos artistas negros. O Sopapo Poético não se resume a um evento artístico, mas configura-se como um espaço vital de resistência cultural, afirmação da identidade negra e transformação social. Ele é uma plataforma para a visibilidade da arte negra e para a construção de um novo entendimento sobre a cultura afro-brasileira, criando legados de resistência e visibilidade que reverberam e irão reverberar nas gerações futuras. Pesquisa de imagem: Juliana Bittencourt Referências: Euclydes, Caroline Pontes. "Sopapo Poético como aquilombamento: a construção da identidade das pessoas negras pelo consumo em manifestações culturais em POA/RS." (2023). Fontoura, Pâmela Amaro, Julio Souto Salom, and Ana Lúcia Liberato Tettamanzy. "Sopapo Poético: sarau de poesia negra no extremo sul do Brasil." Estudos de literatura brasileira contemporânea (2016). Fontoura, Pâmela Amaro. "Sarar-Sopapar-Aquilombar: O sarau como experiência educativa da comunidade negra em Porto Alegre." (2019). Silva, Liziane Guedes da. "Sarau Sopapo Poético-Ponto Negro da Poesia: fios de prata conectando a negritude em Porto Alegre." (2018).

  • FAMÍLIA BATISTA

    A Família Baptista da Silva teve um papel de destaque na vida social, cultural e religiosa de Porto Alegre durante as primeiras décadas do século XX. Constituída por membros influentes como Felippe Baptista da Silva e João Baptista Júnior, foi fundamental para o desenvolvimento e a isibilidade da comunidade negra na cidade. A presença da Família Baptista da Silva começou a se estacar com a participação ativa de seus membros em várias associações e clubes. Um exemplo notável é a sociedade instrutiva e recreativa Centro Porto-Alegrense, fundada em 1907. Felippe Baptista da Silva e Marcílio Freitas foram membros fundadores da sociedade, que tinha como objetivo promover a educação e o lazer para as famílias negras da cidade, uma causa importantíssima para a época. A importância desta associação é ressaltada também na atuação das mulheres, como é o caso de Maria Delphina, irmã de Felippe, que foi diretora de uma das edições do baile de aniversário da sociedade, demonstrando o papel proeminente das mulheres da família Baptista na vida social e cultural local. O jornal O Exemplo  foi um ponto crucial na construção da reputação e influência da Família Baptista da Silva na cidade. João Baptista de Figueiredo foi revitalizador do periódico em 1914, que se tornou o mais importante veículo de discussão social e celebração da comunidade negra na época. Ele atuou como diretor do jornal de 1917 a 1920. Vital Baptista, outro integrante da família, também teve uma atuação destacada como gerente do jornal, além de ser ativo em diversas associações e movimentos sociais.  Felippe Baptista da Silva, outro dos irmãos, contribuiu significativamente para a vida cultural e religiosa da cidade, sendo conhecido por seu envolvimento com a Igreja de Nossa Senhora das Dores e a Irmandade do Rosário, além de atuar como tesoureiro do O Exemplo . Sua posição no jornal e na comunidade religiosa reflete a integração da família nas instituições culturais e religiosas de Porto Alegre. A residência dos Baptista ficava na rua General Canabarro, número 23, lugar conhecido como um ponto central de sociabilidade. A escolha desta localização, próxima a centros culturais e religiosos como a Igreja de Nossa Senhora das Dores e a redação do jornal O Exemplo , desmente a tese de que a população negra estava privativa a áreas periféricas e marginalizadas. A proximidade da residência dos Baptista em meio aos relevantes centros de sociabilidade de então proporcionou à família estar ativamente envolvida na vida pública e na construção de uma identidade comunitária negra também nos circuitos centrais da vida urbana local. A Família Baptista da Silva também teve envolvimento político significativo. João Baptista da Silva e seus filhos participaram ativamente no Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). Diversos registros de atividades políticas da família, como a participação em uma festa republicana em 1906, comprovam sua adesão ao modelo político republicano, alinhado com a causa abolicionista e a representação das identidades sociais negras.  A relação de João Baptista da Silva com figuras políticas relevantes, como Aurélio Viríssimo de Bittencourt, outro expoente negro nos grupos sociais e cultos da cidade, também é notável. Ambos participaram de atividades associativas e religiosas, como a Arquiconfraria do Rosário, que ajudaram a consolidar a presença da família na vida pública da cidade. O legado da Família Baptista da Silva é evidenciado por sua atuação em diversas esferas da vida pública, integrando o funcionalismo público, associações culturais e irmandades religiosas. A morte prematura de membros como a de João Baptista Júnior, em 1920, e Felippe, em 1923, impactou a família e no jornal O Exemplo .  O acervo familiar dos Baptista da Silva, preservado por descendentes como Claudio Batista de Souza, inclui documentos e objetos que ajudam a manter viva a memória e a identidade do clã. Este acervo evidencia a relevância da atuação de diversos de seus integrantes na história de Porto Alegre e na construção de uma identidade para a comunidade negra local, destacando a sua atuação e contribuição para o desenvolvimento da cidade. A trajetória da Família Baptista da Silva, com seu envolvimento em áreas tão variadas como a imprensa, política, religião e cultura, ilustra a construção de uma respeitabilidade social e a integração na vida pública, desafiando noções simplistas sobre a marginalização da população negra na época. Pesquisa de imagem: Leandro Machado Referências: Costa, Vitor da Silva. "Trajetórias e memórias de famílias negras no pós-abolição: a família Baptista da Silva (c. 1849-tempo presente)." (2020). Perussatto, Melina Kleinert. "Arautos da liberdade: educação, trabalho e cidadania no pós-abolição a partir do jornal O Exemplo de Porto Alegre (c. 1892-c. 1911)." (2018). Zubaran, Maria Angélica. "O Acervo do Jornal O Exemplo (1892-1930): patrimônio cultural afro-brasileiro." Revista Memória em Rede 7.12 (2015): 03-18.

  • O Negro em Preto e Branco

    O livro O Negro em Preto e Branco - História fotográfica da população Negra de Porto Alegre (publicado em 2005) é de autoria, coordenação editorial e design de fotógrafa e artista visual Irene Santos, com contribuições da jornalista e militante do movimento negro porto-alegrenese Vera Daisy Barcellos e da produtora e também jornalista Sílvia Abreu nos textos e entrevistas, de Elenir Gularte Marques na pesquisa histórica, do histórico poeta e militante Oliveira Silveira, consultoria de artes gráficas de Zoravia Bettiol. na consultoria de artes gráficas e prefácio de Marilene Leal Paré.  O livro contou com financiamento do Fumproarte, fundo de financiamento de projetos culturais da Prefeitura de Porto Alegre.  Irene de Figueiredo Santos é uma fotógrafa portoalegrense, nascida no ano de 1947, que dedica o seu trabalho a conhecer e promover a cultura afro-brasileira, especialmente a do Sul do Brasil. É vencedora do prêmio Açorianos na categoria Literatura Especial.  Formada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1971, teve seu primeiro emprego como fotógrafa na gráfica do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, trabalhando nos setor de fotolitos, onde aprofundou seus conhecimentos práticos com a fotografia e os processos de revelação. No ano de 1979, abriu seu próprio estúdio de fotografia, então, podendo dedicar-se mais a fundo em sua área de estudos: a música, a cultura e as artes cênicas afro-brasileiras. Também pode então desenvolver a escrita e produção de outros livros e projetos, incluindo a publicação “Colonos e Quilombolas – Memória fotográfica das Colônias Africanas de Porto Alegre”, edição de 2010, e o webdocumentário “Outros Carnavais – Memória do carnaval de Rua de Porto Alegre, 1930-1969”, editado em 2014.  O livro conta com contribuições de outras personalidades Negras, que escreveram em seus respectivos capítulos:  Guarani Santos (professor e historiador) Iosvaldyr Carvalho Bittencourt Jr.   (professor da PUC/RS. Jornalista. mestre em antropologia e doutor em Antropologia Social pela UFRGS) Antônio Carlos Santa Rosa   (Mestre em Administração pela University of Southern California, Los Angeles, Califórnia, e graduado em Administração de Empresas pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS) Antônio Carlos Côrtes (Advogado, Pesquisador da Cultura Negra, e presidente da Sociedade Floresta Aurora)  Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (Docente da Universidade Federal de São Carlos e membro Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros desta Universidade e Conselheira da Câmara de educação Superior do Conselho Nacional de Educação por indicação do Movimento Negro) -  Edilson Nabarro (Sociólogo Pós-Graduado/UFRGS. Militante do Movimento Negro desde a década de 70. Um dos fundadores da Revista Tição e do MNU/RS)  Isete Maria do Nascimento (professor de letras e literatura licenciada pela UFRGS)  Jones Lopes da Silva (jornalista e repórter de Zero Hora, que também participou da revista e do jornal Tição no início dos anos 80  Osvaldo Ferreira dos Reis (advogado e pesquisador da cultura africana. Além de Norton Figueiredo Corrêa, Oliveira Silveira, Waldemar Pernambuco Moura Lima, Nilo Alberto Feijó, Claudinho Pereira, Joaquim Lucena Neto, Silvia Abreu, Renato Rosa, Jorge Alberto da Silva Nascimento  , Maria Conceição Lopes Fontoura - ícones e referências históricas da cultura e do movimentos negro gaúcho e nacional. Pesquisa de imagem: Leandro Machado Referências: JOAQUIM, Eduardo Santiago.Negro em Preto e Branco - História fotográfica da população negra de Porto Alegre. Disponível em: https://www.academia.edu/31110738/Negro_em_Preto_e_Branco_Hist%C3%B3ria_Fotogr%C3%A1fica_da_Popula%C3%A7%C3%A3o_Negra_em_Porto_Alegre . Acesso em 26/08/2024. Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra

  • Banda Jazz Espia Só

    A música negra é como uma árvore cheia de galhos e frutos. De acordo com essa abordagem histórica, dentre estes galhos e frutos temos a constituição de raízes que nos trazem a mobilidade e a diversidade da música brasileira, gaúcha e porto-alegrense. A riqueza da música gaúcha negra, muitas vezes desconhecida do grande público gaúcho, já despontava no começo do século XX, quando Porto Alegre era marcada por uma cena musical que movimentava a vida noturna. Como parte desta cena, tínhamos clubes, casas noturnas, bares e cabarés - como o Cabaret Ibá , o Moulin Rouge , o Dancing Oriental - e orquestras da noite - como a do Noé Guedes, a Orquestra Concórdia , a Paulo Coelho e Orquestra , a Jazz Futurista , entre várias outras que ambientaram o contexto com sua sonoridade.  Identificando todas estas formações musicais, pode-se afirmar que, pautada pela alternância entre períodos curtos e longos, a relação entre o jazz e a noite de Porto Alegre já é centenária. Um dos gêneros musicais com origem negra norte-americana, o jazz esteve presente nos melhores cafés da Rua da Praia na década de 1920, embora consumido e apropriado por uma elite majoritariamente branca. Sob a influência proporcionada pelo rádio e pela indústria do disco, ambos ainda em fase inicial, surgiram bandas locais jazzistas como a Espia Só , a Royal, Guarany  e a Cruzeiro . A experiência foi uma representação de um certo hibridismo musical que mesclava os sons da negritude norte-americana com as raízes musicais latino-americanas. A Espia Só , nesse contexto, foi o primeiro, ou um dos primeiros, grupos de jazz formado prioritariamente por músicos negros no Sul do Brasil, tendo essa prioridade para músicos negros não enquanto regra, mas como característica. A Jazz Espia Só  era um g rupo instrumental criado, em Porto Alegre, em 1923, sob a liderança do flautista Albino Rosa. Inicialmente o grupo tinha o nome de  Regional Espia Só , tendo em sua formação Albino Rosa (direção musical e flauta), Binga (1º violão de seis cordas), Marino dos Santos (cavaquinho e bandola - que é uma espécie de bandolim), Paulino Mathias (2º violão), Veridiano Farias (violino), Severo (ganzá) e Herald Alves (caixa clara).  Albino Rosa, ao convidar alguns amigos que tocavam juntos após suas jornadas de trabalho, passaram a formar um conjunto musical. Curiosamente o nome do grupo surgiu a partir de uma música carnavalesca de sucesso público no Rio de Janeiro na época, que destacava a expressão popular “espia só” . Até 1926 foi chamado de Regional Espia Só. Nessa temporada, o grupo apresentou-se em ensaios das sociedades carnavalescas e, em diversas oportunidades, realizava de três a quatro serestas por semana, execuções musicais praticadas em espaços fechados, numa mistura de sarau e serenata.  Naquele contexto de época, as serestas foram muitas vezes perseguidas e até proibidas pela polícia, que invariavelmente prendia músicos e envolvidos. Era preciso toda articulação para se reunir de surpresa, escondidos e com a máxima discrição para poder ensaiar.   Bóris Fausto denuncia a criminalização que a música negra e sua cultura sofriam, em especial naquelas primeiras décadas do século XX, sendo a acusação prescrita nas leis de “vadiagem”, que funcionava como um conceito aberto, posição que abarcava muitos modos de vida e corpos, na busca por uma higienização da cidade. Um acontecimento importante no Regional Espia Só  deu-se em 1926, quando a cidade de Porto Alegre recebeu a visita do celebrado conjunto Oito Batutas , dirigido por Pixinguinha. Na ocasião, surgiu o convite para que o Regional tocasse durante vinte dias na Exposição do Parque Menino de Deus. As modificações e influência geradas pela visita dos Oito Batutas  à cidade levaram à mudança do nome do grupo que de Regional passou a se chamar Jazz Espia Só , nos mostrando uma relação de uma cultura regionalizada que se internacionaliza.  Albino Rosa, o líder do Espia Só , era um negro que proporcionava ao grupo uma estética situado no ritmo quente do sincopado, estilo que viria mais tarde a se tornar popular.  O grupo posicionou-se no seleto rol do jazz brasileiro com uma marca de jazz gaúcho, praticado por músicos e artistas com origem na população negra. Um movimento importante que marca a diversidade musical tendo se conectado com o mundo sem perder suas regionalidades e singulares.  Pixinguinha acabou ajudando o grupo gaúcho a construir intermediações musicais e culturais entre Rio de Janeiro e Porto Alegre. No Rio, o jazz popularizava-se naquela época, misturando-se à cultura popular, dado que o jazz é por si uma fusão rítmica, onde os músicos podem solar individualmente e, em seu ato de improvisação, encontrarem-se neste espaço das sonoridades para construir uma harmonia musical.  Nestas trocas, podemos dizer que, diante desta influência, houve inclusive uma troca de instrumentos. Albino Rosa passou a tocar sax alto e flauta; Oswaldino Peixoto, o trombone de pisto, que mais tarde ficaria conhecido como trombone de vara; Heraldo Alves e Marino dos Santos, sax alto e soprano; João Luiz tocava pistão na bateria, instrumento que até então era desconhecido dos músicos brasileiros. Armindo Alves, tocava banjo; Luiz Alves e Severiano de Souza, baixo-tuba.  Essas modificações deram forma à época de ouro do Jazz Espia Só . O grupo não conseguia dar conta de toda a demanda que chegava do interior e até de Santa Catarina. Os convites vinham  dos clubes, casas e redutos populares negros existentes na época, como por exemplo do Clube Caixeiral, do Clube do Comércio, da Sociedade Philosofia e da Sociedade Germânia. As apresentações traziam um repertório eclético com choros, polcas, valsas, havaneiras, tangos, schottichs, marchas e também o chamado charleston que era um ritmo daqueles anos 1920. Também tocavam músicas populares de carnaval nas festas carnavalescas e nos blocos de rua. A Espia Só era vista como uma orquestra porto-alegrense, uma “jazz band”. O sucesso do grupo chegou a tal ponto que, mesmo composto por vários músicos negros, a Espia Só  era aceita nos ambientes mais elitizados, como no Clube Germânia, que não admitia negros nas suas festas e atividades sociais. Nesse aspecto, a Jazz Espia Só  deve ser lembrada e incluída no grupo dos artistas que romperam com as discriminações vigentes, ocupando espaços e furando os bloqueios existentes à presença da negra e do negro nos espaço públicos de Porto Alegre, indo ocupar um lugar de destaque na memória das lutas antirracistas.   Albino Rosa faleceu em 1982 e Paulino Mathias, em 1977. Depois disso, alguns remanescentes do Espia Só reuniram-se pontualmente para relembrar os velhos tempos de resistência e sucesso do grupo, que deixou de existir. Pesquisa de imagem: Leandro Machado Referências: Reportagem de Marcello CAMPOS. Blue Jazz Bar: espaço garantido para o jazz na vida noturna de Porto Alegre . Jornal do Comérico. Publicada em 28 de Novembro de 2024. Página:   https://www.jornaldocomercio.com/especiais/reportagem-cultural/2024/11/1181339-blue-jazz-bar-espaco-garantido-para-o-jazz-na-vida-noturna-de-porto-alegre.html .  Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira . Jazz Espia Só . Dados Históricos e Artísticos.  2021.  Página: https://dicionariompb.com.br/grupo/jazz-espia-so/ .  Artigo de Petrônio DOMINGUES.   De Nova Orleans ao Brasil: o jazz no Mundo Atlântico .  Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 40, nº 85, 2020 http://dx.doi.org/10.1590/1806-93472020v40n85-09 .  Artigo de Arthur de Farias com o título: Série As Origens – Parte XXII . 17 de Julho, 2020. https://www.matinaljornalismo.com.br/parentese/arthur-de-faria-serie-as-origens-parte-xxii .   HOBSBAWM, Eric J. História social do jazz . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. LABRES, Filho, Jair Paulo.   Que jazz é esse? As jazz-bands no Rio de Janeiro da década de 1920 .  Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2014.  LUNA, Paula. Fenômeno esquecido da época romântica da música popular: a Jazz Espia Só .  30/10/2011. Página: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-musica/3306676    NETO, Nicolau Clarindo Paulo. SONORIDADES MODERNAS EM TRÂNSITO: A ORIGEM DAS JAZZ BANDS CATARINENSES E SUAS TRILHAS DE 1920 A 1940 . Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música, subárea Teoria e História, do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, em cumprimento aos requisitos necessários à obtenção do grau acadêmico de Mestre em Música. Florianópolis, SC, 2021.

  • QUITANDEIRAS

    Q uando se pensa nas quitandeiras ou nas assim também chamadas negras minas que percorriam os centros das cidades e vilas do Brasil nos séculos XVIII e XIX - aquelas mulheres negras carregando sobre a cabeça alimentos e quitutes em seus tabuleiros - é comum imaginá-las como personagens por certo um lado romantizadas, numa cena cotidiana do nosso país dos períodos colonial e imperial. No entanto, transitar por ruas, becos e vielas vendendo alimentos no espaço público era uma prática ressignificada de uma tradição legada às mulheres em especial nas regiões centrais e da costa oeste do continente africano.  A atividade de “ganhadeiras” era natural às negras traficadas, como destaca a pesquisadora Juliana Bonomo, pois, nas sociedades africanas, as tarefas de subsistência doméstica e circulação de gêneros eram delegadas às mulheres. Numa grande extensão da costa da África, o pequeno comércio era tarefa feminina e lhes garantia papéis econômicos importantes. Também atravessou o atlântico nos tumbeiros (nome que se dava aos navios negreiros) a palavra e o conceito “quitanda” – kitânda (com a letra k) no dialeto quimbundo de Angola, dialeto este que plantou raízes na cultura brasileira.  A “quitanda significa aquelas coisas que as negras levavam nos tabuleiros para expor as mercadorias que tinham. Normalmente gêneros alimentícios tais como aguardente, bolos, leite, broas, biscoitos e fumos” (refere Juliana Bonomo).  Assim, a realidade social encontrada no Brasil estimulou a volta de antigos conhecimentos permitindo a interação necessária para lidar com as relações sociais no novo mundo.  As quitandeiras tornaram-se figuras necessárias numa configuração social de desenvolvimento urbano em que uma multidão de pobres, escravizados, forros e outros ganharam as ruas das cidades rompendo com a prática de se alimentar no espaço doméstico.  Tal situação tornou o ato de fornecer alimentos de maneira ambulante no espaço público uma atividade econômica necessária e importante.  Esse comércio, que era visto nos centros urbanos do país, foi relatado como existente em Porto Alegre, no ano de 1821, pelo naturalista e botânico francês Auguste Saint-Hilaire.  “É na Rua da Praia, próximo ao cais, que fica o mercado. Nele vendem-se laranjas, amendoim, carne seca, molhos de lenha e de hortaliças, principalmente couve. Como no Rio de Janeiro, os vendedores são negros,” - registrou o botânico. O cronista Achylles Porto Alegre descreve o périplo das quitandeiras pelas ruas e espaços da capital gaúcha e a venda de alimentos também na porta de suas casas. Essas trabalhadoras eram chamadas pelo cronista de quitandeiras negras mina. O termo mina - para Eliana Xavier e Gláucia Fontoura - era utilizado pelo colonizador para denominar grandes áreas africanas de tráfico de escravos, como Angola, Congo, Benguela, entre outras, e acabou sendo incorporado pelos brasileiros como autodesignação de um certo grupo de negros.  Muito importante é destacar que cerca de 70% dessas mulheres - as quitandeiras - conseguiram juntar pecúlio suficiente para abandonar a situação de escravizadas e garantir sua sobrevivência e a de sua família. Outras atividades a que essas mulheres se entregavam quando podiam era o trabalho de lavadeiras, engomadeiras e, em especial para o imaginário popular de longa duração no tempo, também às funções de curandeiras, feiticeiras e vendedoras de ervanários.  A presença dessas mulheres no cenário urbano da capital demarcaram lugares importantes para o sentimento de territorialidade negra, como é o caso do Largo da Quitanda (a hoje popular Praça da Alfândega) e nas bordas da Colônia Africana (no Parque da Redenção). A memória da quitanda continua viva e marcante, por exemplo, no maior monumento negro do Centro Histórico – o Mercado Público – que para os babalaorixás e yalorixás guarda em seus quatro portais de entrada a presença de floras que cristalizam a prática de venda de ervanários, uma marca de todas as entradas daquele prédio significativo para a memória negra em Porto Alegre. Referências: BASSO, Rafaela. Espaços de Alimentação: o desenvolvimento do comer fora de casa na cidade de São Paulo séculos XVIII e XIX. https://ocs.ige.unicamp.br>ojs>react>article>download . Disponível em: 02/05/2025. BONOMO, Juliana Resende. O Tabuleiro Afro-brasileiro: o abastecimento alimentar e a resistência das quitandeiras negras no Brasil do século XVIII. Anais eletrônicos do XXII Encontro Estadual de História da Anpuh-SP, Santos - 2014 Disponível em: Microsoft Word - 1405976865_ARQUIVO_OTABULEIROAFROanpuhsantos.docx  04/04/2025. PORTO ALEGRE, Achilles. História Popular de Porto Alegre. Porto Alegre: PMPA – Unidade Editorial, 1994. SAINT-HILLAIRE, Auguste de. A Viagem ao Rio Grande do Sul: 1820-1821. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1939. VARGAS, Pedro Rubens N. Ferreira. A relação patrimonial na restauração de bens culturais: o mercado de Porto Alegre e os caminhos invisíveis do negro. Curitiba: Appris, 2017. VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre (1800-1970). São Paulo: Hucitec, 2021. XAVIER, Eliana Costa e FONTOURA, Maria Dias. O sentido de trabalho para as mulheres negras. (PDF) Negras Minas: o sentido do trabalho para as mulheres negras . Disponível em: 03/04/2025

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