top of page
1.png

O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

  • Spotify
  • Instagram
  • TikTok
  • YouTube
2ª (1).png

Na 2ª edição do projeto Memórias Negras em Verbetes, será publicada uma nova e importante leva de verbetes que ampliam o reconhecimento das trajetórias, territórios e manifestações culturais negras em Porto Alegre. Esta edição trará nomes como o do poeta e puxador de samba Jajá, a matriarca quilombola Mãe Apolinária, o músico e agitador cultural Giba Giba, e figuras históricas como o Rei Congo Francisco Bernardo da Silva. Também estarão presentes coletivos e espaços fundamentais para a resistência e criação negra na cidade, como o Instituto Afro-Sul Odomodê, o Museu do Hip Hop, a Banda de Jazz Espia Só e a histórica Liga da Canela Preta. Esses são apenas alguns dos exemplos que compõem a lista prevista para publicação, reforçando o compromisso do projeto com a valorização da memória e do legado negro porto-alegrense.

Verbetes


Mãe Rita é a sacerdotisa de religiões de matriz afro-brasileira mais antiga em Porto Alegre de que se tem notícias. 


O cronista Antônio Álvares Pereira - o Coruja (que viveu entre 1806 e 1889) destacava o papel desta mulher na condução de práticas religiosas associadas à população negra. 


Coruja relata que Mãe Rita liderava um candombe próximo à Várzea, nas cercanias do atual Parque da Redenção, onde “se reuniam nos domingos a tarde pretos de diversas nações, que com seus tambores, canzás, urucungos e marimbas, cantavam e dançavam esquecendo as mágoas da escravidão, sem que causassem maiores cuidados à polícia”.


A historiadora Liane Susan Muller, por sua vez, associa o destaque do papel conferido à iyalorixá no cotidiano da cidade a expulsão dos membros da Irmandade do Rosário, composta em sua grande maioria por negros e pardos.


A expulsão deu-se na Igreja Matriz da Madre de Deus, a atual Catedral Metropolitana, em virtude de verem-se proibidas as danças e cânticos dos negros. Tal prática junto aos rituais de coroação dos reis negros do Congo e da Rainha Jinga fortaleciam a identidade dos pretos de todas as nações que habitavam Porto Alegre. Essa proibição, levada a efeito pelo Vigário José Inácio, em 1809, fez com que a irmandade comprasse um terreno em 1815 visando erguer o primeiro edifício da hoje conhecida igreja do Rosário, inaugurado em 1828.


Mãe Rita, para a maior parte dos pesquisadores, ocupa uma posição de notoriedade na sociedade escravocrata da capital gaúcha por ser tida como fundadora de um terreiro de batuque em Porto Alegre ainda na primeira metade do século XIX. 


O pesquisador Jovani Scherer, no entanto - a partir de novas fontes de pesquisa - não enxerga a existência de condições estruturantes nas primeiras décadas do século XIX para a materialização do batuque enquanto religião constituída, por ser nossa cidade, naquele período, majoritariamente composta por negros de origem banta - que não cultuavam os orixás. 


As condições para a geração de um novo balanço demográfico apareceram paulatinamente após 1850 com a mudança constante e segura do perfil étnico negro do RS, especialmente com a chegada em maior número de representantes das nações Jeje e Fon, de tradição iorubá.


Scherer, assim como Liane Muller, pensa que boa parte das manifestações africanas estavam de alguma forma articuladas ao catolicismo, e por isso mesmo, nem sempre eram toleradas pelos chefes eclesiásticos. 


Retomando Coruja, em sua narrativa do candombe liderado por Mãe Rita, ele descreve essa manifestação como existindo no lugar onde - sob influência da mãe de santo - permitia-se “ensaiar os cucumbis - pelo Natal e nas festas de Nossa Senhora do Rosário - levando a frente o Rei e a Rainha vestidos a caráter, com a juíza do ramalhete e a competente aristocracia negra indo dançar ou antes sapatear no corpo da igreja com guizos nos tornozelos”.


Se não existe unanimidade entre os especialistas sobre o ramo religioso defendido por Mãe Rita, é consenso o seu papel de liderança sociorreligiosa na sociedade escravista do século XIX. 


As narrativas sobre suas atividades são fontes de estudo sobre a localização dos territórios negros no período em que viveu, e sem dúvida Mãe Rita foi marco de inspiração para a profusão de religiosos de batuque e umbanda que foram viver na Colônia Africana, Bacia do Montserrat e outros marcos da territorialidade negra nas primeiras décadas do século XX, sendo seu nome até hoje entendido como essencial para a compreensão do profundo enraizamento das religiões de matriz afro-brasileira na capital gaúcha, fenômeno que sem dúvida contribui para dissolver a narrativa dominante de que não existe influência e presença negra na formação da cidade “mais europeia” do país.


Essa pesquisa tomou como referência diversas publicações:


  • Antigualhas: reminiscências de Porto Alegre. De Antônio Alvares Pereira CORUJA. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1996.

  • Dom José. História da Igreja Nossa Senhora do Rosário. De Moacyr FLORES. Porto Alegre, 2004.

  • As Contas do Meu Rosário são Balas de Artilharia. De Liane Susan MULLER. Porto Alegre: Pragmatha, 2013.

  • O Candombe, Um Rei Congo e as tradições africanas em Porto Alegre, no início do século XIX. Racismo, relações de poder e história negra em Porto Alegre: séculos XIX-XX. De Jovani de Souza SCHERER. Publicado pelo Centro Histórico-Cultural Santa Casa com organização de José Rivair Macedo, Paulo Roberto Staudt Moreira e Vera Lúcia Maciel Barroso. Porto Alegre: 2023.


Pesquisa de imagem: Leandro Machado


 
 
 

Alcides de Freitas Cruz nasceu na cidade de Porto Alegre em 14 de maio de 1867 e faleceu em 14 de março de 1916, aos 48 anos. À época, estava em plena atividade como pensador negro que percorreu várias ocupações: foi advogado, tradutor, crítico literário, crítico de arte, produziu pesquisas históricas e geográficas, foi também jornalista, professor jurídico e político brasileiro. 


Era filho de Manoel Pinto Lacerda da Cruz e Adelaide Leopoldina de Freitas. Aos 14 anos matriculou-se no Colégio Souza Lobo. Acabou estudando na Escola Militar, atingindo o posto de agrimensor, em 1885. Como tal, prestou serviços nas Estradas de Ferro de Porto Alegre a Cacequi e de Porto Alegre a Uruguaiana. Em 1891, transferiu-se para São Paulo, onde estudou na Faculdade de Direito, obtendo graduação como bacharel. 


Em razão da guerra federalista, entre 1893 e 1895 integrou o 7º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional. Acabou, neste contexto, adquirindo a patente de capitão. 


Mais tarde, consagrou-se como um dos fundadores da Faculdade de Direito de Porto Alegre, hoje constituída como uma unidade da UFRGS, tendo lecionado nas disciplinas de Direito Administrativo e Filosofia do Direito. Sua biblioteca continha 1.873 volumes e acabou sendo legada à Faculdade de Direito de Porto Alegre. Diante de suas diversas atividades, atuou como correspondente da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.


Sua contribuição como escritor percorreu vários campos disciplinares, de produção prolixa e múltipla, como já mencionado, tendo se destacado nos estudos da doutrina jurídica à investigação histórica, geográfica e historiográfica. 

Produziu ensaios e crônicas jornalísticas e literárias, passando a ter também o status de figura de importância política, atuante na esfera pública da época, o que sifnificava para o movimento negro uma penetração nas discussões profundas no âmbito dos debates ideológicos e estudos avançados da época. 


Alcides de Freitas Cruz se colocava como adepto às ideias proudhonianas ( denominação usada para os adeptos da filosofia política e social de Pierre-Joseph Proudhon), obtendo estilos provocativos similares aos do pensador francês. Suas posições reivindicavam maneiras críticas de atuação em relação a outros expoentes de renome da época. 


Seja qual for a importância destas temáticas nos veículos de imprensa, tanto na Revista Renascença, do Rio de Janeiro, como no jornal A Federação, de Porto Alegre, podemos encontrar - nas primeiras décadas do século XX - suas posições de crítica historiográfica. Esses artigos assinados por Alcides Cruz analisavam a sociedade da época e a sua relação com obras que ganhavam significativa aderência na ocasião, como a de Juan Amadeo Baldrich, Historia de la guerra del Brasil, Contribución al estudio razonado de la historia militar argentina, de 1905. 


Alcides de Freitas Cruz foi também tradutor de diversos livros, comoa primeira obra de Dostoiévski lançada em território brasileiro, conhecida como O jogador, cuja edição foi publicada pela livraria Americana, em 1896, no Almanak Litterario e Estatístico do Rio Grande do Sul


Ademais, também encontramos Alcides Cruz como tradutor da obra de Thomas Cooley, Princípios Gerais de Direito Constitucional dos Estados Unidos da América, produzida em Porto Alegre pela Livraria Universal, em 1909. Dentre essas várias atividades como tradutor e intelectual, esteve presente no Primeiro Congresso de História Nacional, em 1914. 


Quando lançou a obra A vida de Raphael Pinto Bandeira, em 1908, pode encontrar seu estilo que reivindica gêneros de linguagem regional e nacional, seguido de passagens teleológicas em suas narrativas. 


Foi redator de jornais e revistas importantes, como do Jornal do Comércio e da revista Gazeta do Foro.  

Alcides de Freitas Cruz - podemos assim dizer - utilizou sua posição como advogado e escritor, com sua potência intelectual, para responder às agressões explícitas de preconceito racial que sofreu no exercício de suas atividades, nos jornais e na advocacia. 


O pensador negro gaúcho pode vivenciar o que consta em relatos como na obra de Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, publicada em 1909, após duas décadas da abolição da escravatura, onde a posição de negro era tanto perseguida quanto não aceita em posições que lhe conferiam status social e disposição de cidadania e poder na sociedade.  


Temos neste cenário expressões literárias que descrevem muito bem essa realidade social histórica brasileira, onde as pessoas negras são negligenciadas e retiradas dos espaços públicos e de destaque na sociedade, herança de uma cultura escravagista e racializada. 


Alcides de Freitas Cruz, ao longo de sua trajetória, encontrou diversas dificuldades decorrentes dos preconceitos sociais com a cor da sua pele devido à incapacidade do país de incorporar pessoas negras à sociedade mesmo depois da abolição.


Assumindo-se mestiço, mulato e negro, incorporando à identidade a luta de seus avôs na construção do país e, com altivez, defendia a história de seu povo, exigindo dignidade e respeito das autoridades que zombavam de suas origens e de seu conhecimento, exclusivamente por ser um homem preto. 


Após a sua morte, na primeira metade do século XX, poucas foram as menções de seu legado. E, quando citado, era geralmente de maneira rápida. Alcides de Freitas Cruz foi casado com Severina Pereira da Cruz e deixou uma filha, Zoé Pereira da Cruz. 


Seu irmão, Leopoldo de Freitas, também formado em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, exerceu o cargo de cônsul da Guatemala. 


Postumamente, em 1917, a literatura jurídica brasileira ganhou sua obra mais estimada: Teoria e Prática da Demarcação e da Divisão de Terras


Na condição de deputado estadual de 1891 a 1916, acabou exercendo vários cargos em diversos mandatos, inclusive ocupando a vice-presidente da Assembleia Gaúcha, em 1911. 


Seu escritório profissional estava situado na rua da Ladeira, atual General Câmara, nº 35, no Centro de Porto Alegre. 


Essa pesquisa tomou como referência as seguintes fontes:

ALMEIDA, Vinicius Furquim de.  Das prateleiras da Alcidiana : os livros, a leitura e  a escrita na trajetória intelectual de Alcides Cruz. Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em História, 2018.


CAMPOS, Vanessa Gomes de. Prefácio. Notas de leituras e outros escritos [recurso eletrônico] / Alcides Cruz. Organizado por: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul – Dados eletrônicos - Porto Alegre: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, 2017.


CRUZ, Alcides. Mestiço, mulato ou negro. Organizado por: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul – Dados eletrônicos - Porto Alegre: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, 2017.


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO SUL. Homenagem a Alcides Cruz no Centenário de sua morte. Porto Alegre: Publicado no site em 30/03/2016. 


FERREIRA, Gregory Mota. Violência e condição humana em recordações da Casa dos Mortos, de Fiódor Dostoiévski. Santa Maria: RS 2021. 


KOEHLER, Ana Luiza. Anotações da palestra do Prof. Paulo Roberto Moreira (UNISINOS), em 16/11/2016. Página Beco do Rosário. https://www.analuizakoehler.com/becodorosario/alcides-cruz.  


RODRIGUES, Letícia. Painel destaca a trajetória de Alcides de Freitas Cruz. Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. 16/11/2016. Página https://ww4.al.rs.gov.br/noticia/307290 .


Pesquisa de imagem: Leandro Machado

Facebook Luís Carlos Ávila Bagé

Site Histoire Engagée

DAS PRATELEIRAS DA ALCIDIANA: OS LIVROS A LEITURA E A ESCRITA NA TRAJETÓRIA DE ALCIDES CRUZ - Vinicius Furquim de Almeida

Blog Beco do Rosário

HOMENAGEM A ALCIDES CRUZ NO CENTENÁRIO DE SUA MORTE - Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul

Site da Assembléia Legislativa de Porto Alegre - Rio Grande do Sul


 
 
 

O livro O Negro em Preto e Branco - história fotográfica da população negra de Porto Alegre (publicado em 2005) é de autoria, coordenação editorial e design da fotógrafa e artista visual Irene Santos, com contribuições da jornalista e militante do movimento negro porto-alegrenese Vera Daisy Barcellos e da produtora e também jornalista Sílvia Abreu, nos textos e entrevistas. Contribuíção também de Elenir Gularte Marques, na pesquisa histórica; do histórico poeta e militante Oliveira Silveira; com consultoria de artes gráficas de Zoravia Bettiol e Marilene Leal Paré. 


O livro contou com financiamento do Fumproarte, fundo de financiamento de projetos culturais da Prefeitura de Porto Alegre. 


Irene de Figueiredo Santos é uma fotógrafa porto-alegrense, nascida no ano de 1947, que dedicou-se no seu trabalho a conhecer e promover a cultura afro-brasileira, especialmente a do Sul do Brasil. É vencedora do prêmio Açorianos na categoria Literatura Especial. 


Formada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1971, teve seu primeiro emprego como fotógrafa na gráfica do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, trabalhando nos setor de fotolitos, onde aprofundou seus conhecimentos práticos com a fotografia e os processos de revelação.


No ano de 1979, abriu seu próprio estúdio de fotografia, então, podendo dedicar-se mais a fundo em sua área de estudos: a música, a cultura e as artes cênicas afro-brasileiras. Também pode então desenvolver a escrita e produção de outros livros e projetos, incluindo a publicação Colonos e Quilombolas – Memória fotográfica das Colônias Africanas de Porto Alegre, edição de 2010, e o webdocumentário Outros Carnavais – Memória do carnaval de Rua de Porto Alegre, 1930-1969, editado em 2014. 


O livro O Negro em Preto e Branco - história fotográfica da população negra de Porto Alegre conta com contribuições de outras personalidades negras, que escreveram em seus respectivos capítulos: 

  • Guarani Santos (professor e historiador)

  • Iosvaldyr Carvalho Bittencourt Jr. (professor da PUC/RS. Jornalista. mestre em antropologia e doutor em Antropologia Social pela UFRGS)

  • Antônio Carlos Santa Rosa (Mestre em Administração pela University of Southern California, Los Angeles, Califórnia, e graduado em Administração de Empresas pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS)

  • Antônio Carlos Côrtes (Advogado, Pesquisador da Cultura Negra, e presidente da Sociedade Floresta Aurora) 

  • Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (Docente da Universidade Federal de São Carlos e membro Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros desta Universidade e Conselheira da Câmara de educação Superior do Conselho Nacional de Educação por indicação do Movimento Negro)

  • Edilson Nabarro (Sociólogo Pós-Graduado/UFRGS. Militante do Movimento Negro desde a década de 70. Um dos fundadores da Revista Tição e do MNU/RS) 

  • Isete Maria do Nascimento (professor de letras e literatura licenciada pela UFRGS) 

  • Jones Lopes da Silva (jornalista e repórter de Zero Hora, que também participou da revista e do jornal Tição no início dos anos 80)

  • Osvaldo Ferreira dos Reis (advogado e pesquisador da cultura africana)


Além destes, também colaboraram Norton Figueiredo Corrêa, Oliveira Silveira, Waldemar Pernambuco Moura Lima, Nilo Alberto Feijó, Claudinho Pereira, Joaquim Lucena Neto, Silvia Abreu, Renato Rosa, Jorge Alberto da Silva Nascimento , Maria Conceição Lopes Fontoura - ícones e referências históricas da cultura e do movimentos negro gaúcho e nacional.


Essa pesquisa tomou como referência as seguintes fontes:

  • JOAQUIM, Eduardo Santiago.Negro em Preto e Branco - História fotográfica da população negra


  • Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra


Pesquisa de imagem: Leandro Machado

Repotagem Jornal do Comércio

Livro - O Negro em Preto e Branco

 
 
 

Nossos objetivos na 2ª edição

areal-da-baronesa.jpg
l1918mjjf022-300x300.jpg

Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

2ª (4).png
7.png
8.png
2ª (5).png

Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

Obá-Ovonramwen-e-sua-Família.webp

Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

images (2).jpg
210614_Giulian Serafim_PMPA  (3).jpg

Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

DSC08728.JPG

Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

Wilson-Tibério2.webp

A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

1e5be6_ae786181f3b94c5d994a2d1e831a0fad~mv2.png

Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

1e5be6_1e15c15d29b14b8fbe1e767b661e50fe~mv2.png

Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

FIGURA-7-DARIO-DE-BITTENCOURT-FOTOGRAVURA_Q320.jpg

Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

1_W9BpakWHuqVX-Bmf0THb7Q.png

A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

1e5be6_f7e2d5828ea84612be55064ad4f1131d~mv2.png

Inscreva-se para receber novidades

Realização:

Design sem nome (8).png

Podcast:

Elefante Preto.png

Apoio:

Design sem nome (7).png
rBYewJWAM8ZbQVghG1jzhCIlmw6wIp7lzQeRCyjh.jpeg
Design sem nome (29).png
Design sem nome (37).png

Financiamento:

Design sem nome (5).png
bottom of page