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Conheça o projeto!

O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Verbetes

Atualizado: 14 de out. de 2024



O sujeito histórico Custódio Joaquim de Almeida (?-1935), o Príncipe Custódio, carrega em sua biografia uma série de lacunas fruto de uma gama de questões ainda não respondidas. Confirmações? Apenas o consenso de ter falecido em Porto Alegre em 1935 e de ter nascido no Continente Africano no século XIX.


No entanto, as versões que procuram jogar luz a lugares de sombra da vida deste personagem complexo, coincidem sobre a importância do lugar assegurado a Custódio no imaginário da comunidade negra de Porto Alegre de mito político e afro-religioso.


A narrativa até há bem pouco tempo dominante, da antropóloga Maria Helena Nunes da Silva, diz ser Custódio nominado em sua terra natal Osuanlele Okizi Erupê, nascido em 1831, filho primogênito do Obá (rei) Ovonramwen, do Benin, país que o príncipe deixou na segunda metade do século XIX, por questões políticas relacionadas à invasão dos ingleses em seus domínios.


Os supostos laços de sangue de Custódio com a família real do Benin conferem uma aura de nobreza às práticas religiosas afro-brasileiras na capital, em especial o batuque, e demarca a importância simbólica do assentamento ao Bará do Mercado, atribuído ao príncipe por parte do grupo social de babalorixás e yalorixás.


Em entrevistas (VARGAS, 2017, p. 154-155) relacionadas às origens do assentamento dedicado ao Bará no Mercado Central, sacerdotes associam o papel político do Príncipe à sua influência religiosa. O descrevem como um negro africano politicamente bem articulado, com contatos na elite local, aliado a seu papel como um grande líder dos cultos africanos. Ao relatar que o assentamento no Mercado não é o único na cidade, mas sim o mais importante, discorrem sobre o papel de liderança de Custódio junto com outros pais e mães de santo das primeiras décadas do século XX no assentamento de outros axés do Bará na Colônia Africana, Cidade Baixa e Bacia do Montserrat. Ou seja, por meio da atuação de Custódio, é possível mapear os territórios e a sociabilidade negra na primeira metade do século passado.


Por outro lado, a pesquisa documental empreendida por Jovani Scherer e Rodrigo Weimer afasta a origem de Custódio de uma família reinante da África. Os autores de forma inédita veem Custódio, por esta versão, nascido em 1852/1853, como um dos filhos mais jovens de Manoel Custódio de Almeida, um retornado (ex-escravizado que volta ao continente africano) que vai se destacar como importante comerciante de escravos em sua terra natal.

Sem se saber exatamente como nosso personagem chega a Porto Alegre, sua saída da África é atribuída à morte por envenenamento de seu pai e às brigas que se sucederam por seu espólio. A primeira vez que os pesquisadores localizam o nome de Custódio Joaquim de Almeida portador da alcunha de “Príncipe” é em um processo crime de 1885, em que está envolvido em uma briga de bar, onde declara ser africano e ter 32 anos.


A partir deste ponto os historiadores vão traçar uma rota procurando estabelecer um mapa da vida do Príncipe. Por meio de reclames e postagens em jornais percebem que Custódio, a princípio um "turfman” que mantinha uma coudelaria de cavalos em sua casa, vai ganhando notoriedade na sociedade porto-alegrense, a partir do início do século XX, não apenas pelas corridas de cavalo, que com certeza o ajudaram a enlaçar vínculos com a elite da capital, mas principalmente por sua atuação no campo religioso, lugar de onde lhe era atribuído poder de cura. Nesse ponto pode-se pensar em um breve encontro entre os trabalhos de Maria Helena N. da Silva (1999) e o de Scherer e Weimer (2021). Os últimos, ao revisarem a produção de vários estudiosos, citam a influência do Príncipe nas casas de linha Jêje e o possível conhecimento de Custódio sobre o culto Sapatá ou Xapanã (para Maria Helena), orixá dono da saúde e da doença, o que mostraria seu o vínculo com Daomé, região onde situava-se Ajudá.


O que os historiadores Jovani Scherer e Rodrigo Weimer apontam sobre o Príncipe, é que sua nobreza dizia respeito aos pobres da cidade e levou anos para ser construída. Custódio era um Príncipe do povo, onde exercia seu poderio, com base na autoridade religiosa, no domínio sobre a linguagem mágica, na generosidade do acolhimento de pessoas necessitadas, na cura e na mediação com a elite política.


Embora envolto em algumas brumas, o interesse cada vez mais vivo pela sua biografia, com certeza, irá dissipar. Contudo, o espaço ocupado pelo Príncipe Custódio como referência para o empoderamento negro no RS, como atesta o vigoroso movimento das instituições do povo negro, vai continuar pautando discussões no campo político e religioso.



Referências:


VARGAS, Pedro Rubens. A Relação Patrimonial na Restauração de Bens Culturais: o mercado de Porto Alegre e os caminhos invisíveis do negro. Curitiba: Editora Appris, 2017.


SILVA, Maria Helena Nunes. O Príncipe Custódio e a Religião Afro-Gaúcha. 1999. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1999.


WEIMER, Rodrigo de A.; SCHERER, Jovani. No Refluxo dos Retornados: Custódio Joaquim de Almeida, o príncipe africano de Porto Alegre. Porto Alegre: Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão: Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul – APERS, 2021.


Atualizado: 14 de out. de 2024



Veridiano Farias foi um músico e médico bastante atuante e conhecido no carnaval de Porto Alegre, nos anos 1930/1940. Ensaiador do bloco “Os Prediletos” (SANTOS, 2005, p. 78-79), tinha a música e o carnaval como sua paixão, além da medicina. Crê-se que Farias fora o segundo médico negro formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


Filho do casal Maria Farias e Franklin Fortunato Farias, Veridiano nasceu em 1906 na cidade de Rio Grande, migrando aos 13 anos com a família para Porto Alegre, local onde nasceram seus outros seis irmãos (GOMES, 2016, p. 163-164). Na vida adulta, casou-se com Isabel e teve três filhos: Judith, William e Jurandir (SANTOS, 2005).


Figura 1: Formatura do Dr. Veridiano Farias, UFRGS, Porto Alegre/RS – 1951.

Fonte: Negro em Preto e Branco (SANTOS, 2005, p. 78).



Figura 2: Músico Veridiano Farias, Porto Alegre/RS – anos 1930

Fonte: Negro em Preto e Branco (SANTOS, 2005, p. 79).


Considerado “um músico completo”, Veridiano era multi-instrumentista, tocando diversos tipos de instrumentos – saxofone, violino, piano, bateria – do sopro à percussão (SANTOS, 2005). Como músico profissional, trabalhou em orquestras, como a da Rádio Farroupilha e Difusora, além de conjuntos musicais que tocavam na noite porto-alegrense, como o Jazz Paris, tornando-se amigo de nomes como Lupicínio Rodrigues e Jamelão, em sua passagem por terras cariocas. Dolzira Padilha, uma antiga foliã, ao relembrar os carnavais dos anos 1920/1930, tem Veridiano em sua memória como um carnavalesco apaixonado, ensaiador de bloco: “Então esse ‘Prediletos’ tirava campeão. [...] tinha um moço que era de cor também e ele formou-se médico [...] o Veridiano... E então ele é desses Prediletos, ele era fanático. Todo mundo conhecia o Veridiano.” (PADILHA, 1991, p. 2 apud VIEIRA, 2021, p. 171).


É provável que, nessa época, Veridiano ainda trabalhasse como motorneiro, conduzindo bondes, tornando-se posteriormente chofer no Departamento Estadual de Saúde. Somente aos 36 anos concluiu o 2º grau no Colégio Estadual Júlio de Castilhos (GOMES, 2016). Mas isso não impediu o filho da dona de casa e do estivador do porto de aspirar a continuidade nos estudos, cuja persistência lhe renderia o apelido de o “teimoso”. No mesmo ano, em 1942, presta vestibular para Faculdade de Medicina de Porto Alegre (UFRGS), reprovando. Persiste e em 1943 é aprovado, mas não obtém classificação. Com a nota alcançada, ingressa na Faculdade de Ciência Médica do Rio de Janeiro (GOMES, 2016). Em 1947, após intervenção de seu pai junto ao governo federal, consegue transferência para a Faculdade de Medicina da UFRGS, onde forma-se em 1951. Colega, o Dr. Isaac Kelbert descreve a noite da formatura, conforme levantado pelo historiador Arilson Gomes (2016), no periódico A Hora, em 10 de setembro de 1954:


[...] no dia 15 de dezembro de 1951, vestindo o seu impecável smoking teve o nosso herói a maior noite de sua vida [...], a maior salva de palmas da noite foi reservada para ele [...] pelo esforço, pela perda de horas de dormir, pelo sacrifício pessoal (apud GOMES, 2016, p. 167).


No ano seguinte, o promissor médico falece precocemente, poucos dias antes de assumir como Diretor do Hospital Colônia Itapuã, na época ainda chamado de Leprosário. Em pouco tempo, torna-se nome de rua no bairro Petrópolis, a qual permanece até os dias atuais.


Figura 1: Formatura do Dr. Veridiano Farias, UFRGS, Porto Alegre/RS – 1951.

Fonte: Negro em Preto e Branco (SANTOS, 2005, p. 78).


Figura 2: Músico Veridiano Farias, Porto Alegre/RS – anos 1930

Fonte: Negro em Preto e Branco (SANTOS, 2005, p. 79).


Considerado “um músico completo”, Veridiano era multi-instrumentista, tocando diversos tipos de instrumentos – saxofone, violino, piano, bateria – do sopro à percussão (SANTOS, 2005). Como músico profissional, trabalhou em orquestras, como a da Rádio Farroupilha e Difusora, além de conjuntos musicais que tocavam na noite porto-alegrense, como o Jazz Paris, tornando-se amigo de nomes como Lupicínio Rodrigues e Jamelão, em sua passagem por terras cariocas. Dolzira Padilha, uma antiga foliã, ao relembrar os carnavais dos anos 1920/1930, tem Veridiano em sua memória como um carnavalesco apaixonado, ensaiador de bloco: “Então esse ‘Prediletos’ tirava campeão. [...] tinha um moço que era de cor também e ele formou-se médico [...] o Veridiano... E então ele é desses Prediletos, ele era fanático. Todo mundo conhecia o Veridiano.” (PADILHA, 1991, p. 2 apud VIEIRA, 2021, p. 171).


É provável que, nessa época, Veridiano ainda trabalhasse como motorneiro, conduzindo bondes, tornando-se posteriormente chofer no Departamento Estadual de Saúde. Somente aos 36 anos concluiu o 2º grau no Colégio Estadual Júlio de Castilhos (GOMES, 2016). Mas isso não impediu o filho da dona de casa e do estivador do porto de aspirar a continuidade nos estudos, cuja persistência lhe renderia o apelido de o “teimoso”. No mesmo ano, em 1942, presta vestibular para Faculdade de Medicina de Porto Alegre (UFRGS), reprovando. Persiste e em 1943 é aprovado, mas não obtém classificação. Com a nota alcançada ingressa na Faculdade de Ciência Médica do Rio de Janeiro (GOMES, 2016). Em 1947, após intervenção de seu pai junto ao governo federal, consegue transferência para a Faculdade de Medicina da UFRGS, onde forma-se em 1951. Colega, o Dr. Isaac Kelbert descreve a noite da formatura, conforme levantado pelo historiador Arilson Gomes (2016), no periódico A Hora, em 10 de setembro de 1954:


[...] no dia 15 de dezembro de 1951, vestindo o seu impecável smoking teve o nosso herói a maior noite de sua vida [...], a maior salva de palmas da noite foi reservada para ele [...] pelo esforço, pela perda de horas de dormir, pelo sacrifício pessoal (apud GOMES, 2016, p. 167).


No ano seguinte, o promissor médico falece precocemente, poucos dias antes de assumir como Diretor do Hospital Colônia Itapuã, na época ainda chamado de Leprosário. Em pouco tempo, torna-se nome de rua no bairro Petrópolis, a qual permanece até os dias atuais.




Referências


HERÓIS de Todo Mundo - VERIDIANO FARIAS, por Éder Farias. [S. l.]: Fundação Cultural Palmares, 15 mar. 2011. 1 vídeo (2 min 26 s). Publicado pelo canal Lapilar Produções Artísticas. Projeto: A cor da cultura. Série: Heróis de todo mundo. Episódio: Veridiano Farias, por Éder Farias. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qxJkB6g_tLg. Acesso em: 22 fev. 2023.


BRASIL. Fundação Cultural Palmares. Personalidades negras - Veridiano Farias. Disponível em: https://www.palmares.gov.br/?p=30534. Acesso em: 22 fev. 2023.


GOMES, Arilson dos Santos. Luciano Raul Panatieri e Veridiano Farias: a trajetória de dois médicos negros sul-rio-grandenses. In: QUEVEDO, Éverton Reis; POMATTI, Angela Beatriz (org.). Museu de História da Medicina – MUHM: um acervo vivo que se faz ponte entre o ontem e o hoje. Porto Alegre: Evangraf, 2016. p. 156-171. Disponível em: https://www.yumpu.com/pt/document/read/56577330/muhm-museu-de-historia-da-medicina. Acesso em: 22 fev. 2023.


SANTOS, Irene (org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: [s. n.], 2005.


VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800-1970): geografia histórica da presença negra no espaço urbano. Belo Horizonte: ANPUR, 2021. Disponível em: https://anpur.org.br/territorios-negros-em-porto-alegre-rs-1800-1970. Acesso em: 25 jan. 2023.




Atualizado: 14 de out. de 2024



Wilson Tibério (1916-2005), ou Tibério, como preferiu ser nominado, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Pintor e escultor, nasceu em Porto Alegre e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde residiu até deixar o Brasil em 1947 quando, com uma bolsa de estudos, emigrou para a França. A partir da Europa, viajou para diversos países como artista convidado, como a China e a União Soviética, e viveu longas temporadas na Costa do Marfim, no Senegal e na Itália. Viajou pelo Sudão, Senegal, Daomé (Benin) e Alto Volta (Burkina Faso). Em Paris, se relacionou com importantes personagens da diáspora africana e do movimento Négritude.


O artista nasceu e cresceu na região da Usina do Gasômetro e foi introduzido pelas mulheres de sua família, mãe, avó e tias no culto aos orixás. Construiu parte de sua expertise que o levou ao universo das artes atuando, na juventude, como coreógrafo no carnaval de Porto Alegre. Na então capital da República, o Rio de Janeiro, se formou na Escola Nacional de Belas Artes, onde recebeu menções honrosas e premiações em salões de arte. O interesse temático de Tibério era a vivência cotidiana da população negra e seus espaços de sociabilidade, como os morros cariocas, o Pelourinho de Salvador, ofícios tradicionais como quitandeiras e outros. Sua arte era o espelho da realidade social de negros e negras do país. Sua familiaridade em cenas religiosas de batuque o aproximou de Mãe Menininha, conheceu ainda Luiz Carlos Prestes, que o influenciou em sua decisão de filiação ao Partido Comunista Brasileiro e, junto com Abdias do Nascimento (1914-2011), foi um dos fundadores do Teatro Experimental do Negro (TEM), onde teve atuação como coreógrafo.


Na França, onde viveu de 1947 a 2005, quando faleceu aos 89 anos, Tibério dedicou sua arte ao interesse por temas africanos e a sua diáspora. Seu trabalho, visibilizado até em documentário para o cinema, se pautou de forma intensa pela denúncia ao colonialismo europeu em África, e a valorização, em oposição ao preconceito inerente à palavra negro.


Duas de suas obras podem ser encontradas em museus públicos de Porto Alegre, uma na Pinacoteca Ruben Berta no Paço dos Açorianos, conhecido como Prefeitura Velha, e outra na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mais seis de duas produções pertencem ao acervo do Museu Afro Brasil, em São Paulo, estas doadas pelo artista negro Emanoel Araújo (1940-2022). As informações sobre sua biografia foram colhidas na entrevista dada pela companheira do artista, à pesquisadora Francielly Dossin, baseada em um texto não publicado traduzido do francês por Oliveira Silveira (1941-2009), documento (sem a entrevista) que se encontra na Pinacoteca Ruben Berta. Assim como pensa Dossin, a vida e a obra de Tibério podem ser definidas pela condição de ser negro.



Referências:


DOSSIN, Francielly. R. Entre evidências visuais e novas histórias: sobre a descolonização estética na arte contemporânea. UFSC. Tese de Doutorado, Florianópolis, 2016.


SILVEIRA, Oliveira. Dossiê, tradução livre do francês. Documentação da pintura a óleo Bahia (1946) de Wilson Tibério. Acervo da Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre


https://wilsontiberio.free.fr - site organizado por Giséle Tibério, filha do artista.


Nossos objetivos na 2ª edição

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Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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