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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Verbetes

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O livro O Negro em Preto e Branco - História fotográfica da população Negra de Porto Alegre (publicado em 2005) é de autoria, coordenação editorial e design de fotógrafa e artista visual Irene Santos, com contribuições da jornalista e militante do movimento negro porto-alegrenese Vera Daisy Barcellos e da produtora e também jornalista Sílvia Abreu nos textos e entrevistas, de Elenir Gularte Marques na pesquisa histórica, do histórico poeta e militante Oliveira Silveira, consultoria de artes gráficas de Zoravia Bettiol. na consultoria de artes gráficas e prefácio de Marilene Leal Paré. 


O livro contou com financiamento do Fumproarte, fundo de financiamento de projetos culturais da Prefeitura de Porto Alegre. 


Irene de Figueiredo Santos é uma fotógrafa portoalegrense, nascida no ano de 1947, que dedica o seu trabalho a conhecer e promover a cultura afro-brasileira, especialmente a do Sul do Brasil. É vencedora do prêmio Açorianos na categoria Literatura Especial. 


Formada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1971, teve seu primeiro emprego como fotógrafa na gráfica do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, trabalhando nos setor de fotolitos, onde aprofundou seus conhecimentos práticos com a fotografia e os processos de revelação.


No ano de 1979, abriu seu próprio estúdio de fotografia, então, podendo dedicar-se mais a fundo em sua área de estudos: a música, a cultura e as artes cênicas afro-brasileiras. Também pode então desenvolver a escrita e produção de outros livros e projetos, incluindo a publicação “Colonos e Quilombolas – Memória fotográfica das Colônias Africanas de Porto Alegre”, edição de 2010, e o webdocumentário “Outros Carnavais – Memória do carnaval de Rua de Porto Alegre, 1930-1969”, editado em 2014. 


O livro conta com contribuições de outras personalidades Negras, que escreveram em seus respectivos capítulos: 

  • Guarani Santos (professor e historiador)

  • Iosvaldyr Carvalho Bittencourt Jr. (professor da PUC/RS. Jornalista. mestre em antropologia e doutor em Antropologia Social pela UFRGS)

  • Antônio Carlos Santa Rosa (Mestre em Administração pela University of Southern California, Los Angeles, Califórnia, e graduado em Administração de Empresas pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS)

  • Antônio Carlos Côrtes (Advogado, Pesquisador da Cultura Negra, e presidente da Sociedade Floresta Aurora) 

  • Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (Docente da Universidade Federal de São Carlos e membro Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros desta Universidade e Conselheira da Câmara de educação Superior do Conselho Nacional de Educação por indicação do Movimento Negro) - 

  • Edilson Nabarro (Sociólogo Pós-Graduado/UFRGS. Militante do Movimento Negro desde a década de 70. Um dos fundadores da Revista Tição e do MNU/RS) 

  • Isete Maria do Nascimento (professor de letras e literatura licenciada pela UFRGS) 

  • Jones Lopes da Silva (jornalista e repórter de Zero Hora, que também participou da revista e do jornal Tição no início dos anos 80 

  • Osvaldo Ferreira dos Reis (advogado e pesquisador da cultura africana.


Além de Norton Figueiredo Corrêa, Oliveira Silveira, Waldemar Pernambuco Moura Lima, Nilo Alberto Feijó, Claudinho Pereira, Joaquim Lucena Neto, Silvia Abreu, Renato Rosa, Jorge Alberto da Silva Nascimento , Maria Conceição Lopes Fontoura - ícones e referências históricas da cultura e do movimentos negro gaúcho e nacional.

Pesquisa de imagem: Leandro Machado


Referências:

  • JOAQUIM, Eduardo Santiago.Negro em Preto e Branco - História fotográfica da população negra


  • Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra

 
 
 
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A música negra é como uma árvore cheia de galhos e frutos. De acordo com essa abordagem histórica, dentre estes galhos e frutos temos a constituição de raízes que nos trazem a mobilidade e a diversidade da música brasileira, gaúcha e porto-alegrense. A riqueza da música gaúcha negra, muitas vezes desconhecida do grande público gaúcho, já despontava no começo do século XX, quando Porto Alegre era marcada por uma cena musical que movimentava a vida noturna. Como parte desta cena, tínhamos clubes, casas noturnas, bares e cabarés - como o Cabaret Ibá, o Moulin Rouge, o Dancing Oriental - e orquestras da noite - como a do Noé Guedes, a Orquestra Concórdia, a Paulo Coelho e Orquestra, a Jazz Futurista, entre várias outras que ambientaram o contexto com sua sonoridade. 


Identificando todas estas formações musicais, pode-se afirmar que, pautada pela alternância entre períodos curtos e longos, a relação entre o jazz e a noite de Porto Alegre já é centenária. Um dos gêneros musicais com origem negra norte-americana, o jazz esteve presente nos melhores cafés da Rua da Praia na década de 1920, embora consumido e apropriado por uma elite majoritariamente branca.


Sob a influência proporcionada pelo rádio e pela indústria do disco, ambos ainda em fase inicial, surgiram bandas locais jazzistas como a Espia Só, a Royal, Guarany e a Cruzeiro. A experiência foi uma representação de um certo hibridismo musical que mesclava os sons da negritude norte-americana com as raízes musicais latino-americanas. A Espia Só, nesse contexto, foi o primeiro, ou um dos primeiros, grupos de jazz formado prioritariamente por músicos negros no Sul do Brasil, tendo essa prioridade para músicos negros não enquanto regra, mas como característica.


A Jazz Espia Só era um grupo instrumental criado, em Porto Alegre, em 1923, sob a liderança do flautista Albino Rosa. Inicialmente o grupo tinha o nome de Regional Espia Só, tendo em sua formação Albino Rosa (direção musical e flauta), Binga (1º violão de seis cordas), Marino dos Santos (cavaquinho e bandola - que é uma espécie de bandolim), Paulino Mathias (2º violão), Veridiano Farias (violino), Severo (ganzá) e Herald Alves (caixa clara). 


Albino Rosa, ao convidar alguns amigos que tocavam juntos após suas jornadas de trabalho, passaram a formar um conjunto musical. Curiosamente o nome do grupo surgiu a partir de uma música carnavalesca de sucesso público no Rio de Janeiro na época, que destacava a expressão popular “espia só”. Até 1926 foi chamado de Regional Espia Só. Nessa temporada, o grupo apresentou-se em ensaios das sociedades carnavalescas e, em diversas oportunidades, realizava de três a quatro serestas por semana, execuções musicais praticadas em espaços fechados, numa mistura de sarau e serenata. 


Naquele contexto de época, as serestas foram muitas vezes perseguidas e até proibidas pela polícia, que invariavelmente prendia músicos e envolvidos. Era preciso toda articulação para se reunir de surpresa, escondidos e com a máxima discrição para poder ensaiar.  


Bóris Fausto denuncia a criminalização que a música negra e sua cultura sofriam, em especial naquelas primeiras décadas do século XX, sendo a acusação prescrita nas leis de “vadiagem”, que funcionava como um conceito aberto, posição que abarcava muitos modos de vida e corpos, na busca por uma higienização da cidade.


Um acontecimento importante no Regional Espia Só deu-se em 1926, quando a cidade de Porto Alegre recebeu a visita do celebrado conjunto Oito Batutas, dirigido por Pixinguinha. Na ocasião, surgiu o convite para que o Regional tocasse durante vinte dias na Exposição do Parque Menino de Deus. As modificações e influência geradas pela visita dos Oito Batutas à cidade levaram à mudança do nome do grupo que de Regional passou a se chamar Jazz Espia Só, nos mostrando uma relação de uma cultura regionalizada que se internacionaliza. 


Albino Rosa, o líder do Espia Só, era um negro que proporcionava ao grupo uma estética situado no ritmo quente do sincopado, estilo que viria mais tarde a se tornar popular. 


O grupo posicionou-se no seleto rol do jazz brasileiro com uma marca de jazz gaúcho, praticado por músicos e artistas com origem na população negra. Um movimento importante que marca a diversidade musical tendo se conectado com o mundo sem perder suas regionalidades e singulares. 


Pixinguinha acabou ajudando o grupo gaúcho a construir intermediações musicais e culturais entre Rio de Janeiro e Porto Alegre. No Rio, o jazz popularizava-se naquela época, misturando-se à cultura popular, dado que o jazz é por si uma fusão rítmica, onde os músicos podem solar individualmente e, em seu ato de improvisação, encontrarem-se neste espaço das sonoridades para construir uma harmonia musical. 


Nestas trocas, podemos dizer que, diante desta influência, houve inclusive uma troca de instrumentos. Albino Rosa passou a tocar sax alto e flauta; Oswaldino Peixoto, o trombone de pisto, que mais tarde ficaria conhecido como trombone de vara; Heraldo Alves e Marino dos Santos, sax alto e soprano; João Luiz tocava pistão na bateria, instrumento que até então era desconhecido dos músicos brasileiros. Armindo Alves, tocava banjo; Luiz Alves e Severiano de Souza, baixo-tuba. 


Essas modificações deram forma à época de ouro do Jazz Espia Só. O grupo não conseguia dar conta de toda a demanda que chegava do interior e até de Santa Catarina. Os convites vinham  dos clubes, casas e redutos populares negros existentes na época, como por exemplo do Clube Caixeiral, do Clube do Comércio, da Sociedade Philosofia e da Sociedade Germânia.


As apresentações traziam um repertório eclético com choros, polcas, valsas, havaneiras, tangos, schottichs, marchas e também o chamado charleston que era um ritmo daqueles anos 1920. Também tocavam músicas populares de carnaval nas festas carnavalescas e nos blocos de rua. A Espia Só era vista como uma orquestra porto-alegrense, uma “jazz band”.


O sucesso do grupo chegou a tal ponto que, mesmo composto por vários músicos negros, a Espia Só era aceita nos ambientes mais elitizados, como no Clube Germânia, que não admitia negros nas suas festas e atividades sociais.


Nesse aspecto, a Jazz Espia Só deve ser lembrada e incluída no grupo dos artistas que romperam com as discriminações vigentes, ocupando espaços e furando os bloqueios existentes à presença da negra e do negro nos espaço públicos de Porto Alegre, indo ocupar um lugar de destaque na memória das lutas antirracistas.  


Albino Rosa faleceu em 1982 e Paulino Mathias, em 1977. Depois disso, alguns remanescentes do Espia Só reuniram-se pontualmente para relembrar os velhos tempos de resistência e sucesso do grupo, que deixou de existir.


Pesquisa de imagem: Leandro Machado


Referências:


Reportagem de Marcello CAMPOS. Blue Jazz Bar: espaço garantido para o jazz na vida noturna de Porto Alegre. Jornal do Comérico. Publicada em 28 de Novembro de 2024. Página: https://www.jornaldocomercio.com/especiais/reportagem-cultural/2024/11/1181339-blue-jazz-bar-espaco-garantido-para-o-jazz-na-vida-noturna-de-porto-alegre.html


Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Jazz Espia Só. Dados Históricos e Artísticos. 2021. Página: https://dicionariompb.com.br/grupo/jazz-espia-so/


Artigo de Petrônio DOMINGUES. De Nova Orleans ao Brasil: o jazz no Mundo Atlântico. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 40, nº 85, 2020 http://dx.doi.org/10.1590/1806-93472020v40n85-09


Artigo de Arthur de Farias com o título: Série As Origens – Parte XXII. 17 de Julho, 2020. https://www.matinaljornalismo.com.br/parentese/arthur-de-faria-serie-as-origens-parte-xxii.  


HOBSBAWM, Eric J. História social do jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.


LABRES, Filho, Jair Paulo. Que jazz é esse? As jazz-bands no Rio de Janeiro da década de 1920. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2014. 


LUNA, Paula. Fenômeno esquecido da época romântica da música popular: a Jazz Espia Só.  30/10/2011. Página: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-musica/3306676  


NETO, Nicolau Clarindo Paulo. SONORIDADES MODERNAS EM TRÂNSITO: A ORIGEM DAS JAZZ BANDS CATARINENSES E SUAS TRILHAS DE 1920 A 1940.


Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música, subárea Teoria e História, do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, em cumprimento aos requisitos necessários à obtenção do grau acadêmico de Mestre em Música. Florianópolis, SC, 2021. 


 
 
 
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Quando se pensa nas quitandeiras ou nas assim também chamadas negras minas que percorriam os centros das cidades e vilas do Brasil nos séculos XVIII e XIX - aquelas mulheres negras carregando sobre a cabeça alimentos e quitutes em seus tabuleiros - é comum imaginá-las como personagens por certo um lado romantizadas, numa cena cotidiana do nosso país dos períodos colonial e imperial.


No entanto, transitar por ruas, becos e vielas vendendo alimentos no espaço público era uma prática ressignificada de uma tradição legada às mulheres em especial nas regiões centrais e da costa oeste do continente africano. 


A atividade de “ganhadeiras” era natural às negras traficadas, como destaca a pesquisadora Juliana Bonomo, pois, nas sociedades africanas, as tarefas de subsistência doméstica e circulação de gêneros eram delegadas às mulheres.


Numa grande extensão da costa da África, o pequeno comércio era tarefa feminina e lhes garantia papéis econômicos importantes.


Também atravessou o atlântico nos tumbeiros (nome que se dava aos navios negreiros) a palavra e o conceito “quitanda” – kitânda (com a letra k) no dialeto quimbundo de Angola, dialeto este que plantou raízes na cultura brasileira. 


A “quitanda significa aquelas coisas que as negras levavam nos tabuleiros para expor as mercadorias que tinham. Normalmente gêneros alimentícios tais como aguardente, bolos, leite, broas, biscoitos e fumos” (refere Juliana Bonomo). 


Assim, a realidade social encontrada no Brasil estimulou a volta de antigos conhecimentos permitindo a interação necessária para lidar com as relações sociais no novo mundo. 


As quitandeiras tornaram-se figuras necessárias numa configuração social de desenvolvimento urbano em que uma multidão de pobres, escravizados, forros e outros ganharam as ruas das cidades rompendo com a prática de se alimentar no espaço doméstico. 


Tal situação tornou o ato de fornecer alimentos de maneira ambulante no espaço público uma atividade econômica necessária e importante. 


Esse comércio, que era visto nos centros urbanos do país, foi relatado como existente em Porto Alegre, no ano de 1821, pelo naturalista e botânico francês Auguste Saint-Hilaire. 


“É na Rua da Praia, próximo ao cais, que fica o mercado. Nele vendem-se laranjas, amendoim, carne seca, molhos de lenha e de hortaliças, principalmente couve. Como no Rio de Janeiro, os vendedores são negros,” - registrou o botânico.


O cronista Achylles Porto Alegre descreve o périplo das quitandeiras pelas ruas e espaços da capital gaúcha e a venda de alimentos também na porta de suas casas.


Essas trabalhadoras eram chamadas pelo cronista de quitandeiras negras mina. O termo mina - para Eliana Xavier e Gláucia Fontoura - era utilizado pelo colonizador para denominar grandes áreas africanas de tráfico de escravos, como Angola, Congo, Benguela, entre outras, e acabou sendo incorporado pelos brasileiros como autodesignação de um certo grupo de negros. 


Muito importante é destacar que cerca de 70% dessas mulheres - as quitandeiras - conseguiram juntar pecúlio suficiente para abandonar a situação de escravizadas e garantir sua sobrevivência e a de sua família.


Outras atividades a que essas mulheres se entregavam quando podiam era o trabalho de lavadeiras, engomadeiras e, em especial para o imaginário popular de longa duração no tempo, também às funções de curandeiras, feiticeiras e vendedoras de ervanários. 


A presença dessas mulheres no cenário urbano da capital demarcaram lugares importantes para o sentimento de territorialidade negra, como é o caso do Largo da Quitanda (a hoje popular Praça da Alfândega) e nas bordas da Colônia Africana (no Parque da Redenção).


A memória da quitanda continua viva e marcante, por exemplo, no maior monumento negro do Centro Histórico – o Mercado Público – que para os babalaorixás e yalorixás guarda em seus quatro portais de entrada a presença de floras que cristalizam a prática de venda de ervanários, uma marca de todas as entradas daquele prédio significativo para a memória negra em Porto Alegre.


Referências:



  • PORTO ALEGRE, Achilles. História Popular de Porto Alegre. Porto Alegre: PMPA – Unidade Editorial, 1994.


  • SAINT-HILLAIRE, Auguste de. A Viagem ao Rio Grande do Sul: 1820-1821. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1939.


  • VARGAS, Pedro Rubens N. Ferreira. A relação patrimonial na restauração de bens culturais: o mercado de Porto Alegre e os caminhos invisíveis do negro. Curitiba: Appris, 2017.


  • VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre (1800-1970). São Paulo: Hucitec, 2021.


XAVIER, Eliana Costa e FONTOURA, Maria Dias. O sentido de trabalho para as mulheres negras. (PDF) Negras Minas: o sentido do trabalho para as mulheres negras. Disponível em: 03/04/2025

 
 
 

Nossos objetivos na 2ª edição

Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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