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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Verbetes

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Em 20 de fevereiro do ano de 1936, o jornal Correio do Povo trouxe uma publicação das celebrações relacionadas aos festejos momescos, sendo a espera pelo baile burlesco, que era anunciado então como ricamente ornamentado no estilo egipciano, um dos eventos esperados com entusiasmo pelos foliões. O mesmo estava marcado para ocorrer no Salão do Ruy, sendo promovido pela Sociedade Filosofia Negra. 


Palco de grandes festas carnavalescas e encontros da sociedade negra porto-alegrense nas décadas de 1930 e 1940, o Salão do Ruy Barbosa - ou Salão do Ruy, como também era popularmente conhecido - recebeu a nomenclatura em homenagem ao abolicionista homônimo (Ruy Barbosa viveu entre 1849 e 1923).


Situado no coração do território negro da Colônia Africana, mais especificamente no cruzamento das ruas Casemiro de Abreu e Esperança (atual Miguel Tostes), teve também a alcunha de sociedade de pretos da Rua Esperança.


O Salão oferecia seus espaços para inúmeras sociedades de outros territórios negros da cidade, como a Sociedade Prontidão e a Sociedade Floresta Aurora. Suas salas, ao longo do ano, acolhiam encontros da comunidade negra que aconteciam geralmente ao som das jazz-bands, reunindo uma rica ornamentação e vestes de gala. 


Iris Graciela Germano, em sua tese de mestrado na UFRGS, escrita em 1999, afirma que as sociedades negras, organizadas em blocos e ranchos, saiam às ruas defronte de suas sedes e salões no carnaval para esperar a passagem dos corsos de automóveis, entre os quais o do Salão do Ruy. 


A fotógrafa Irene Santos, em seu livro de 2010, descreve o Salão do Ruy como um prédio à direita de quem sobe para avenida Independência, com um corrimão imponente de madeira lustrada por onde desciam ilustres artistas negros locais e nacionais da música e do teatro, assim como as rainhas dos clubes. 


Tinha também um grande corredor atrás da escada e, no fundo, uma copa próxima aos banheiros. Na frente do palco tinha um salão com uma escada para o acesso dos destaques e atrações artísticas. A capacidade era de 500 pessoas que deslizavam pelo piso encerado e se olhavam nos espelhos que circundavam a sala de baile. 


O surgimento no Salão do Ruy provavelmente tenha ocorrido nas primeiras décadas do século XX e seu término deve ter acompanhado o processo de gentrificação ocorrido com a Colônia Africana, que resultou na  retirada dos negros deste espaço nas décadas após a de 1950. 

Pesquisa de imagem Jane Mattos - Desenhos de como era o salão.



Referências:

Correio do Povo,20/02/1936, p.11.

GERMANO, Iris Graciela. Rio Grande do Sul, Brasil e Etiópia: os negros e carnaval de Porto Alegre nas décadas de 1930 e 40. Mestrado em História- PPGH Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999.


SANTOS, Irene.et.al. (coords). Caboclos e Quilombolas, memória fotográfica das colônias africanas de Porto Alegre. Porto Alegre: Do autor, 2010.



 
 
 
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Gilberto Amaro do Nascimento, mais conhecido como Giba Giba, foi um dos maiores expoentes da música e da cultura afro-brasileira no Rio Grande do Sul. Nascido em Pelotas em 1936, Giba Giba se destacou como percussionista e compositor, sendo um dos principais responsáveis pela divulgação e preservação do sopapo, um tambor de origem afro-gaúcha, e por sua introdução nas baterias das escolas de samba de Porto Alegre. 


Ao longo de sua vida, desempenhou um papel crucial na valorização da cultura afro-rio-grandense, tendo se transformado em ícone e referência na cena musical e cultural do estado. O músico negro cresceu em Pelotas, cidade que tem uma forte influência da cultura afro-brasileira, e sua infância e adolescência estiveram intimamente ligadas ao universo do carnaval e da música. 


Ao mudar-se para Porto Alegre, na década de 1960, rapidamente enturmou-se com o movimento carnavalesco local, acabando por destacar-se como um dos fundadores da Escola de Samba Praiana, uma das primeiras escolas de samba da capital gaúcha.


Foi nessa época que o sopapo, tambor tradicional gaúcho de couro, ganhou destaque nas baterias das escolas de samba, graças à iniciativa de Giba Giba, que trouxe o instrumento para a cena carnavalesca da cidade.


O sopapo, que tem raízes na cultura afro-brasileira e foi inventado por escravos na região de Pelotas, é um dos símbolos da musicalidade do Rio Grande do Sul. Tradicionalmente tocado com as mãos, o sopapo tem um papel central na MPG. Na década de 1980, o instrumento passou por um período de declínio devido à crescente influência do samba carioca, fenômeno denominado de "carioquização". Nesse contexto, Giba Giba se tornou um dos grandes responsáveis pela revitalização do sopapo, trazendo-o de volta ao palco musical e conferindo-lhe uma nova identidade dentro da música popular, especialmente em Porto Alegre.


Um dos marcos mais importantes de sua carreira foi a criação, no final dos anos 1990, do Projeto Cabobu, um evento cultural realizado em Pelotas que buscava resgatar e divulgar a memória cultural afro-gaúcha. O projeto envolvia palestras, shows, e a construção e distribuição de tambores de sopapo para percussionistas e grupos de samba. Giba Giba, ao lado de outros mestres como Mestre Baptista, que também foi uma referência na construção dos sopapos, organizou o evento que contribuiu para a expansão do uso do instrumento nas músicas contemporâneas.


Ao longo de sua carreira, Giba Giba teve uma profunda influência sobre a música popular do Rio Grande do Sul. Seu trabalho como compositor e intérprete foi reconhecido por artistas de renome, como Vitor Ramil e a dupla Kleiton e Kledir, que gravaram suas músicas. Seu álbum Outro Um (1994), que lhe rendeu o Prêmio Açorianos de Melhor CD, é considerado um marco na música popular do estado. 


Giba Giba também foi um defensor da integração da música negra na cultura local, tendo sido conselheiro de Cultura do Estado e assessor de assuntos afro-açorianos na Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre.


Entre os espetáculos de destaque nos quais esteve envolvido estão A Ópera dos Tambores e Missa da Terra Sem Males, ambos de grande relevância na cena cultural do Rio Grande do Sul. Esses eventos, que reuniam música, dança e cultura afro-brasileira, ajudaram a consolidar sua imagem como um dos principais difusores da cultura negra no estado.


Além de sua contribuição à música, foi um incansável defensor da cultura negra e de suas raízes no Rio Grande do Sul. Seu trabalho ajudou a inserir a cultura afro-gaúcha no debate público e a fortalecer a identidade negra no estado. Em vida, ele foi laureado com o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre em reconhecimento a sua contribuição para a

cidade e sua cultura. 


Giba Giba faleceu em 2014, deixando um legado que continua a ser celebrado por músicos, pesquisadores e amantes da cultura afro-brasileira. Até hoje é lembrado não apenas como um mestre da percussão e da música popular, mas também como um ativista cultural que lutou pela valorização da herança afro-rio-grandense e pela preservação de sua identidade musical única. Sua obra e seu impacto continuam a inspirar as novas gerações de músicos e artistas da região.


Principais Contribuições:

● Revitalização do sopapo: Giba Giba foi um dos maiores responsáveis pela preservação e popularização do sopapo, instrumento tradicional afro-gaúcho.

● Fundação da Escola de Samba Praiana: considerada por alguns a primeira escola de samba de Porto Alegre, que introduziu o sopapo nas baterias do samba local.

● Criação do Projeto Cabobu: Evento cultural que resgatou e divulgou a cultura afro-gaúcha, além de estimular a construção e o uso do sopapo.

● Reconhecimento público: Cidadão Emérito de Porto Alegre e vencedor de diversos prêmios, incluindo o Prêmio Açorianos de Melhor CD.

Discografia

● Outro Um (1994) – Prêmio Açorianos de Melhor CD

● Participação em vários álbuns de outros artistas, como Vitor Ramil e Kleiton e Kledir.

Referências Culturais

● A Ópera dos Tambores – Espetáculo que misturava música, dança e cultura afro-brasileira.

Espetáculos:

● A Ópera dos Tambores e Missa da Terra Sem Males – grandes espetáculos musicais e culturais que contaram com sua participação.

Pesquisa de imagem: Leandro Machado



Referências:

Brum, Letícia Morales. "Um percurso afetivo através de canções que cantam Porto Alegre."

Mouseion 10 (2011): 108-129.


Do Nascimento, Edu. "BONECOS ANTIRRACISTAS." MAMULENGO: 21.


Kinoshita, Lucas. "Ensinar Sopapo: um estudo com tocadores, conhecedores e mantenedores

do instrumento." XXV Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical.

2021.





 
 
 
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Nilo Alberto Feijó nasceu em Porto Alegre no ano de 1933, na região da antiga Colônia Africana (atuais bairros Montserrat e Rio Branco), sendo o mais velho de seis irmãos. Faleceu nesta mesma cidade em 06 de janeiro de 2016.


Ao longo de seus 82 anos de vida, por sua trajetória, tornou-se um dos mais proeminentes representantes da cultura e do movimento negro local e nacional. Atuou ativamente no carnaval da capital como pesquisador, compositor, carnavalesco, jurado e comentarista em canais de televisão sobre o desfile das escolas de samba e tribos locais.


É considerado precursor dos sambas enredo do carnaval gaúcho e suas músicas pautaram o desfile de escolas de alta popularidade, como a Acadêmicos da Orgia, a Imperadores do Samba e, principalmente, a Trevo de Ouro, um dos mais antigos. 


Era figura tão presente nas folias presididas por momo que ele próprio se tornou matéria-prima para os conteúdos dos festejos, vindo a dar nome ao Prêmio Personalidade do Carnaval Porto-alegrense Nilo Alberto Feijó (Resolução 2.803 de 15/03/2024), oferecido pela Câmara dos Vereadores de Porto Alegre, premiação destinada ao reconhecimento de grupos, entidades ou personalidades que se destacam na defesa, na divulgação e na preservação da tradição do carnaval da cidade.


Nilo foi ainda militante e agente do movimento negro, representando os clubes sociais negros no Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do RS – CODENE, órgão de aconselhamento e participação do governo do Estado, onde foi o presidente entre 2008 e 2010. Compôs também o Conselho Municipal dos Direitos do Povo Negro de Porto Alegre, na gestão que compreendeu o biênio 2011-2013. 


Também participou ativamente dos debates encaminhados pelo conjunto de entidades negras que se estenderam do fim dos anos 1990 à primeira década dos anos 2000 em prol da estruturação do Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre, projeto cujo empenho pessoal o levou a dar guarida em sua residência para a museóloga baiana Ilma Villasboas, que redigiu o plano museológico do Museu de Percurso, uma exigência do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM).

Todavia, sua contribuição mais marcante para o desenho do perfil estético e político que embasa o Museu foi sua participação no papel de griô, junto com Elaine Machado (Grupo Mocambo), Mestre Borel (1909-2011) e José Alves Bittencourt (1942-2009) – o Lua – que contribuíram com suas memórias para inspirar o coletivo de artistas que ergueu na praça próximo ao Museu do Trabalho a obra “O Tambor”, em 2010.


Pode-se dizer que a ampla e qualificada atuação de Nilo Feijó na sociedade civil e sua atuação junto às demandas do povo negro encontram amparo na sua ampla vivência junto aos clubes sociais negros de Porto Alegre, em especial na Associação Satélite Prontidão (ASP), entidade em que esteve na diretoria por mais de 20 anos, sendo seu presidente em três mandatos.


A Associação Satélite Prontidão carrega essa denominação desde 1956, ocasião em que se fundiram as sociedades Satélite e Prontidão. A nova agremiação foi fundada no bairro Cidade Baixa (rua Baronesa do Gravataí), região do Areal da Baronesa, onde se encontra o primeiro quilombo urbano reconhecido no Brasil e que foi o berço do carnaval negro da cidade, onde a própria sociedade Prontidão nasceu como bloco carnavalesco.  No entanto, com a denominação de Satélite, essa mesma associação atuava desde 20 de abril de 1902, data em que foi fundada por famílias negras da capital com o objetivo de manter vivas as tradições, a cultura e a educação daqueles que descendiam de escravizados. Naquele ano, fazia apenas 14 anos que a lei da abolição da escravidão no país tinha sido instituída. 


Nilo chegou à SAP pelas mãos de seu pai Camilo Américo Feijó e ainda nos anos 1950 passou a integrar um dos blocos oriundos dos “prontos”, como eram chamados os associados do Prontidão. Esse bloco era o Trevo de Ouro.

As associações negras como a SAP, a Floresta Aurora – fundada em 1872 e veículos de imprensa como o jornal O Exemplo (que circulou entre 1892 e 1930), foram responsáveis, nas primeiras décadas do século XX, pelas principais lutas para integrar a população negra à sociedade através da educação. Os escravizados e os recém libertos, nestas primeiras décadas após a abolição eram majoritariamente analfabetos.


Na SAP, Nilo contribuiu para estruturar uma sociedade que estimulou a educação por meio de cursos e pré-vestibulares e procurou valorizar o papel decisivo das mulheres negras (vanguardeiras prontistas). Instituições como a SAP são apresentadas como espaços de territorialidade negra no trabalho da geógrafa Daniele Vieira, segundo a qual “a territorialidade negra urbana provém dos percursos construídos e vivenciados pelos africanos e seus descendentes”. Nesse sentido, Nilo Feijó é um exemplo, uma vez que construiu um percurso e uma trajetória de vida que reflete essas apropriações e significados próprios aos territórios negros. 


O reconhecimento ao trabalho de Nilo Feijó está materializado também em ações como, a premiação Troféu Nilo Feijó oferecida anualmente pela Sociedade Floresta Aurora na Semana da Consciência Negra, a denominação do Centro de Referência do Negro Nilo Feijó na Avenida Ipiranga 311 e na denominação de uma rua da cidade no bairro Campo Novo. Além de tudo, ele foi ainda colaborador no consagrado livro-fonte de pesquisa Negro em Preto e Branco de Irene Santos publicado em 2005.

Pesquisa de imagem de Leandro Machado


Referências:




VIEIRA Daniele M et ali (vários autores). Territórios negros em Porto Alegre: construindo possibilidades de percursos SMED Porto Alegre 2017Apresentação do PowerPoint


 
 
 

Nossos objetivos na 2ª edição

Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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