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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Na 2ª edição do projeto Memórias Negras em Verbetes, será publicada uma nova e importante leva de verbetes que ampliam o reconhecimento das trajetórias, territórios e manifestações culturais negras em Porto Alegre. Esta edição trará nomes como o do poeta e puxador de samba Jajá, a matriarca quilombola Mãe Apolinária, o músico e agitador cultural Giba Giba, e figuras históricas como o Rei Congo Francisco Bernardo da Silva. Também estarão presentes coletivos e espaços fundamentais para a resistência e criação negra na cidade, como o Instituto Afro-Sul Odomodê, o Museu do Hip Hop, a Banda de Jazz Espia Só e a histórica Liga da Canela Preta. Esses são apenas alguns dos exemplos que compõem a lista prevista para publicação, reforçando o compromisso do projeto com a valorização da memória e do legado negro porto-alegrense.

Verbetes

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Os boletins informativos são materiais de imprensa que a Associação Satélite Prontidão (ASP) desenvolveu nos anos 1990. Essas publicações, lançadas em maior parte mensalmente, tinham o propósito de comunicar os projetos da instituição, além de abordar os acontecimentos do presente, atinentes à realidade do clube, dos seus sócios ou de contextos de interesse da comunidade satélite-prontista, e as pretensões para o futuro da ASP. 


Os boletins de 1995 a 1999 foram desenvolvidos na gestão do presidente Ruben Canabarro e tiveram continuidade na gestão Eloy Dias dos Angelos. O material era produzido em folha A4, frente e verso e era enviado aos sócios pelos Correios. No cabeçalho, constava o brasão da Associação, o contato e endereço — na época, na avenida Aparício Borges, zona leste de Porto Alegre — o mês, ano e o número da edição, destacando a seguinte descrição, que marcava posição como local de relevância cultural e social da capital e do estado do Rio Grande do Sul:


Entidade de caráter Cultural, Recreativo e Social - Fundada em 1902.

Declarada de Utilidade Pública pela Lei Municipal nº 7.425 de 11-05-94.

Declarada de Utilidade Pública Estadual pelo processo nº 001296-200/97.1 da STCAS.

De maneira geral, o formato dos boletins informativos da ASP seguia um padrão. Havia espaços destinados para as diversas comunicações do clube, anunciando as campanhas promovidas pelos departamentos da Associação e os próximos eventos: os tradicionais bailes e chás, bem como o Troféu Zumbi, de condecoração a personalidades negras de destacada atuação. Por outro lado, havia as seções permanentes: a nota da presidência, a “Satélite em Prontidão” e “A Nossa História”.


Na nota da presidência, os dirigentes poderiam compartilhar aspectos sobre a gestão do clube, por exemplo, repassando informações sobre o quadro financeiro e a necessidade de engajamento de sócios e não-sócios, sobretudo para que esses cooperassem com a construção do espaço social da ASP. Por meio dessa seção, os presidentes cultivavam o espírito associativista, manifestando a importância do zelo pelo espaço físico e da união para a manutenção da existência desse clube social negro.


A seção “Satélite em Prontidão” trazia informações sobre o cotidiano do clube, onde se pode verificar quais atividades estavam sendo propostas, como as de cunho esportivo, as oficinas de capoeira e violão, o curso Pré-Vestibular Zumbi dos Palmares, iniciativa da instituição.


Além do mais, observa-se a relação da ASP com outros territórios negros da capital, como as escolas de samba. Na seção, compartilhavam-se notas sobre as conquistas de membros do clube e de seus familiares, como aprovação no vestibular, formaturas, casamentos, nascimentos e ainda, também, as notas de falecimento. 


Além disso, esse espaço proporcionava acesso às produções e ocasiões ligadas à experiência negra no Brasil e no mundo, informando sobre eventos políticos e culturais e divulgando o trabalho de artistas afrodescendentes. Por fim, sempre havia uma curta mensagem — podia ser uma frase ou trecho de poema — em que muitas vezes eram trazidos autores e pensadores negros.


A seção “A Nossa História” trazia conhecimentos acerca da experiência negra no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo. Tratando sobre a cultura e a História, foram retratados aspectos do Maçambique de Osório, a origem do mocotó e da capoeira, a trajetória de personagens históricos marcantes para a História do Brasil que não são evidenciadas pela historiografia oficial, como Luiz Gama, André Rebouças, Cruz e Souza, João Cândido e Solano Trindade.


Além disso, acontecimentos e personalidades marcantes do contemporâneo, ligados ou não ao clube, eram evidenciados: por exemplo, estudantes do Pré-Vestibular Zumbi dos Palmares receberam congratulações pela aprovação no vestibular; os vencedores do Troféu Zumbi sempre eram anunciados, abordando um pouco de suas trajetórias; eventos políticos e culturais eram oportunidades para pensar sobre e as relações étnico-raciais e a luta antirracista. 


A situação dos clubes cociais negros era pauta para refletir sobre a postura dos indivíduos em relação ao associativismo. 


Numa ocasião, em novembro de 1999, a Fundação Cultural Palmares solicitou cópias de alguns boletins informativos da ASP, destacando que “A seção ‘A Nossa História’ conferia visibilidade a personalidades negras em suas atuações sociais e constituia uma importante fonte de informação para estudiosos e pesquisadores da Cultura Negra,”  - conforme registrado no boletim nº 36, daquele mês e ano.


Pesquisa de imagem: Ana Carolina Aguilhera dos Santos

Referências:


FONTES

Boletins informativos. 1995-1999, n° 1 à nº 38. Acervo Associação Satélite Prontidão.


REFERENCIAL DE PESQUISA

CUNHA, Camila Rosângela da Silva. A Associação Satélite Prontidão: uma História Social dos negros no pós-abolição. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) — Universidade La Salle. Porto Alegre, 2018.

FEIJÓ, Ana Lúcia Felippe. Os 110 anos da Associação Satélite Prontidão em uma viagem através da fotografia. Trabalho de conclusão de curso Especialização em Pedagogia da Arte - Programa de Pós-graduação em Pedagogia da Arte, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013.

 
 
 
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As festas Black Porto eram bailes promovidos pelo grupo Jara Musi-som na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A partir do final dos anos 70, e fortalecendo-se com o passar dos anos, as festas reuniam jovens negros aos finais de semana, tornando o nome da equipe organizadora referência em bailes de música black na cidade.


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- Foto de um grupo de jovens no baile do Jara Musi-som -banco de imagens da página “Morrodacruzhistórias”, Facebook.

O Jara Musi-som surge a partir da fusão de duas fortes equipes de som que atuavam nas festas do circuito Black da capital. No período, as festas promovidas pelo Jara Musi-som eram notáveis pela sua qualidade de aparelhagem e os locais escolhidos: em articulação com diversos ginásios pela cidade, as festas alcançaram públicos de várias zonas. Para mais informações, clique no botão abaixo:



A divulgação da Black Porto ocorria ao longo da semana no centro da cidade de Porto Alegre, de grande circulação de trabalhadores – boa parte deles eram pessoas negras. Um ponto que atraía muitos dos jovens trabalhadores para as festas do Jara era o valor acessível dos ingressos para um público de baixa renda, tornando “o baile uma excelente opção de entretenimento para esses jovens trabalhadores que não tinham condições financeiras de frequentar outros locais.” (CAMPOS, 2014, p. 116). Por meio de panfletos e lambe-lambes, distribuídos pelos organizadores, o público ficava sabendo sobre o horário e local da festa, além das atrações e as formas de adquirir ingressos.


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– Panfleto de divulgação do Black Porto 87 - Deivison Moacir Cezar de Campos, tese de doutorado intitulada “Do disco à roda: a construção do pertencimento afrobrasileiro pela experiência na festa Negra Noite”, p. 116.

O ponto de referência para se saber sobre o baile e já conhecer pessoas que frequentavam era a Esquina do Zaire, ou Esquina Democrática, um cruzamento entre a Rua dos Andradas e a Avenida Borges de Medeiros e, na ocasião, o local “onde os negros de todas as raças se encontram”. De acordo com Deivison Campos (2014, 115):


“A esquina das ruas dos Andradas e avenida Borges de Medeiros, denominada Esquina Democrática, era chamada de Esquina do Zaire, uma referência à seleção de futebol daquele país que disputou a Copa de Mundo de 1982, na Espanha, e possuía apenas jogadores negros. Os jovens reuniam-se em rodas de conversa que, muitas vezes, serviam também para ensaiar alguns passos de dança que seriam apresentados no baile do final de semana.”


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- "Onde os negros de todas as raças se encontram..." - Propaganda de televisão mencionando a Esquina Democrática - banco de imagens da página “Morrodacruzhistórias”, Facebook.

Cabe observar  o momento histórico de emergência das festas Black - Black Porto (RS), Black Rio (RJ), Black Uai (MG) e Baile Chic Show (SP) - em um contexto internacional de afirmação do povo negro, com a valorização da estética do black power. O soul e o funk, os ritmos mais tocados nos bailes, traziam na sua batida e letras essa estética. Porém, tão importante quanto a música em si eram a expressão corporal, o vestuário, os penteados e a decoração ambiente, trazendo imagens/símbolos racializados (DOMINGUES & MEDEIROS, 2024, p. 5). Importante também são os elementos que surgem para além do baile em si: vale mencionar que o Black Porto tinha um concurso para eleger a “Garota Black Porto” o que representa o compromisso da organização com a afirmação da beleza negra, especificamente de mulheres negras. A estética era aliada à uma luta política por cidadania, o que, portanto, conferia ao Black Porto e outros bailes um caráter de positivação de identidades negras.


Conforme Deivison Campos (2014, p. 117), aqueles que frequentavam os bailes viam no espaço “a única alternativa de diversão realmente para negros”. A principal proposta dos organizadores era promover uma “festa dançante para agitar na qual os frequentadores vão para sentir o peso da música” (Brother Neni, 2011, apud CAMPOS, 2014, p. 117). Era sentindo a música por meio do seu corpo que os sujeitos se entrosavam com o espaço e uns com os outros, construindo relações que iam para além da diversão da festa, tanto em âmbito afetivo quanto político.


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- Concurso “Garota Black Porto 85” - acervo de Brother Neni, um dos DJs do Black Porto, banco de imagens da página “Black Night”, Facebook

Referências:


CAMPOS, Deivison Moacir Cezar de. Do disco à roda: a construção do pertencimento afrobrasileiro pela experiência na festa Negra Noite. 222f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Porto Alegre, 2014.


CAVALCANTI, Amanda. Bailes black ganham homenagem no C6 Fest; conheça a história. UOL Splash, São Paulo, 6 maio 2024. Disponível em: https://www.uol.com.br/splash/noticias/2024/05/06/bailes-black-ganham-homenagem-no-c6-fest-conheca-a-historia.htm. Acesso em: 6 abr. 2025.


DOMINGUES, Petrônio; MEDEIROS, Carlos Alberto. Black Rio: música, política e identidade negra. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 44, n. 95, p. e272464, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/nXpdfHJmmdw64K5B4mH4Ypy/. Acesso em: 6 abr. 2025.



 
 
 
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O sarau Sopapo Poético foi fundado em 2012 por integrantes da Associação Negra de Cultura do Rio Grande do Sul (ANdC) com o objetivo de afirmar a identidade negra e dar visibilidade à produção literária e artística de poetas e artistas negros da região. O evento literário surge em um contexto onde as vozes negras, muitas vezes marginalizadas, buscavam se fortalecer diante da hegemonia cultural branca. 


Seu objetivo central foi sempre promover a poesia negra e as expressões artísticas afro-brasileiras e, ao mesmo tempo, combater os estereótipos raciais contribuindo para possibilitar o surgimento de uma nova narrativa sobre a experiência negra no Brasil.


A poesia ocupa um papel central, mas o Sopapo Poético também procurou caracterizar-se por seu caráter plural, reunindo diversas formas de expressão artística e tornando-se um importante ponto de encontro para a produção e celebração da arte negra na capital gaúcha.


A denominação "Sopapo Poético" faz referência a um "sopapo", que em algumas regiões é usado para descrever um golpe simbólico, representando a força da palavra poética como uma forma de contestação e resistência cultural. Em algumas regiões do sul do Brasil, como em Pelotas, por exemplo, "sopapo" também pode se referir a um tipo de instrumento musical tradicional, como o utilizado e consagrado no carnaval de Porto Alegre pelo percussionista Giba-Giba. Sendo este um instrumento de percussão utilizado principalmente em festas e celebrações populares. 


O sarau do Sopapo Poético também é descrito como o "Ponto Negro da Poesia", destacando-se pela criação de um espaço dedicado ao encontro de vozes e saberes negros, além de sua função como ferramenta de mudança social por meio da arte.


A cada edição, o evento reúne diversas manifestações artísticas, como dança, teatro, música e artes visuais, além da poesia. Além disso, os organizadores procuram dar ao sarau, sempre, caráter educativo, algo que funcione como um espaço de ensino sobre a história afro-brasileira e o legado da resistência cultural negra, aproximando os participantes da cultura afro-brasileira e proporcionando um conhecimento descolonizador e libertador.


O Sopapo também se caracteriza como uma forma de arte colaborativa, onde o público é incentivado a se envolver ativamente, seja por meio de apresentações de suas

próprias poesias ou participando de debates e reflexões coletivas. Acontece na última terça-feira de cada mês, de março a novembro, em diversos locais culturais da cidade de

Porto Alegre, nos centros culturais, praças, teatros e até espaços alternativos como nalguns bares da cidade. 


A estrutura do sarau sempre inclui apresentações poéticas seguidas por momentos de debate, onde os participantes discutem os temas abordados nas performances. A música é uma parte essencial e os ritmos afro-brasileiros também, como o samba, o batuque gaúcho e as percussões, gerando uma atmosfera de improviso e entrelaçamento de poesia e música.


Esse tipo de dinâmica busca recuperar as tradições da roda de poesia e da oralidade, características centrais das culturas africanas, além de proporcionar um ambiente mais visceral e orgânico, onde todos são convidados a participar ativamente, seja como público ou como artista. Em uma cidade com uma história marcada pela marginalização das culturas negras, o sarau se posiciona como um ponto de resistência à invisibilidade e à exclusão dos artistas negros.


O Sopapo Poético não se resume a um evento artístico, mas configura-se como um espaço vital de resistência cultural, afirmação da identidade negra e transformação social. Ele é uma plataforma para a visibilidade da arte negra e para a construção de um novo entendimento sobre a cultura afro-brasileira, criando legados de resistência e visibilidade que reverberam e irão reverberar nas gerações futuras.


Pesquisa de imagem: Juliana Bittencourt



Referências:


Euclydes, Caroline Pontes. "Sopapo Poético como aquilombamento: a construção da

identidade das pessoas negras pelo consumo em manifestações culturais em POA/RS."

(2023).


Fontoura, Pâmela Amaro, Julio Souto Salom, and Ana Lúcia Liberato Tettamanzy. "Sopapo Poético: sarau de poesia negra no extremo sul do Brasil." Estudos de literatura brasileira contemporânea (2016).


Fontoura, Pâmela Amaro. "Sarar-Sopapar-Aquilombar: O sarau como experiência educativa da comunidade negra em Porto Alegre." (2019).


Silva, Liziane Guedes da. "Sarau Sopapo Poético-Ponto Negro da Poesia: fios de prata conectando a negritude em Porto Alegre." (2018).


 
 
 

Nossos objetivos na 2ª edição

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Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

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+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

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Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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