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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Na 2ª edição do projeto Memórias Negras em Verbetes, será publicada uma nova e importante leva de verbetes que ampliam o reconhecimento das trajetórias, territórios e manifestações culturais negras em Porto Alegre. Esta edição trará nomes como o do poeta e puxador de samba Jajá, a matriarca quilombola Mãe Apolinária, o músico e agitador cultural Giba Giba, e figuras históricas como o Rei Congo Francisco Bernardo da Silva. Também estarão presentes coletivos e espaços fundamentais para a resistência e criação negra na cidade, como o Instituto Afro-Sul Odomodê, o Museu do Hip Hop, a Banda de Jazz Espia Só e a histórica Liga da Canela Preta. Esses são apenas alguns dos exemplos que compõem a lista prevista para publicação, reforçando o compromisso do projeto com a valorização da memória e do legado negro porto-alegrense.

Verbetes

A primeira sessão da Câmara do Continente de São Pedro, realizada em Porto Alegre, ocorreu em 06 de setembro de 1773, após a transferência de Viamão (que foi sede administrativa após a invasão de Rio Grande pelos espanhóis por quase dez anos). A mudança foi imposta pelo Governador José Marcelino de Figueiredo depois da elevação da Freguesia à condição de Vila de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre.


A Câmara daquele momento era uma concessão do Rei e não tinha caráter democrático nem representativo. Os vereadores eram escolhidos por 14 “homens bons” e representavam apenas os interesses das elites. Por evidente não estava no horizonte de expectativa daquela sociedade tratar de recortes de gênero, raça e/ou desigualdades ou problemas de ordem econômica e social.  


Os vereadores, por conseguinte, eram homens, brancos, livres e proprietários, e por esse espectro a composição vinha carregada de um pensamento homogêneo. Tais personalidades administravam a cidade. 


Até a Proclamação da República, em 1889, os municípios não contavam com a figura de um intendente municipal ou prefeito como na denominação atual. O primeiro intendente da capital tomou posse em 1892, quando a câmara assumiu as funções de Conselho Municipal.


Uma mudança mais consistente na direção de uma maior representação popular e democrática da população só veio com a constituição de 1947, com um novo ciclo democrático vivido após a deposição do Governo Vargas, em 1945, e a instalação de um pluripartidarismo, com representantes eleitos pelo voto direto, incluindo o direito à remuneração do edil, período após o qual o parlamento municipal assumiu as funções legislativas e de fiscalização do poder executivo.


Somente após 175 anos passados da instalação da primeira plenária de vereadores na capital é que foi surgir  uma mulher eleita: Julieta Bastiolii, em 1948.


Nesse ritmo, foi somente no crepúsculo do século XX, na legislatura de 1997 a 2000, ou seja, após intervalo de 224 anos entre esse momento e a primeira reunião dos vereadores naquele distante 06 de setembro de 1773, que a Câmara da então Capital Porto Alegre foi contar com duas mulheres negras no quadro de vereadoras: Tereza Franco, a “Nega Diaba”, eleita pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), na condição de parlamentar titular, e Sonia Saray, eleita pelo PT – Partido dos Trabalhadores, na condição de suplente.


Tereza Franco (nome parlamentar) nasceu em Rio Pardo – RS, em 1938, era solteira, mãe de 06 filhos e analfabeta. Sua biografia registra que ela teria vivido já as condições de prostituta, ladra e de primeira mulher a traficar drogas na capital. 


O apelido de “Nega Diaba” -  - que veio a marcar sua trajetória - é atribuído a um agente policial - que após correr alguns quilômetros para prendê-la - teria declarado:

- Essa nega deve ser o próprio diabo.


Uma história que ficou no imaginário popular, sem haver certeza se é verdadeira ou não.


Tereza Franco integrou a 12ª Legislatura e, aos 59 anos, foi a vereadora eleita com o maior número de votos até então, 6.423. Ela era apoiada pelo popular radialista Sérgio Zambiazi, deputado estadual e depois senador, tendo sido o líder do PTB - Partido Trabalhista Brasileiro.


Apesar de ter sofrido muitas críticas, especialmente pelas dificuldades de usar a tribuna da Câmara e por ser analfabeta – Tereza venceu essa condição e alfabetizou-se durante o mandato.


As críticas alcançavam também uma postura mais assistencialista - que teria marcado sua forma de atuação - em contraposição a uma linha política mais ideológica.

Contudo, é fato que a vereadora quebrou todos os paradigmas possíveis de representação da parcela mais invisível da sociedade: negros pobres, encarcerados, prostitutas, mães solos, analfabetos. 


A transparência com sua trajetória e biografia faziam dela mais do que portadora de um lugar de fala, ser ela mesma, seu corpo, um espelho de enunciação. Foi conhecida ainda por adotar uma estética afro-centrada nos trajes e na fala, hoje em dia tão referida no meio social, sendo deste modo precursora do empoderamento estético feminino negro da atualidade.


Tereza Franco, a ‘Nega Diaba”, faleceu em 19 de junho de 2021, aos 63 anos, aqui mesmo, em Porto Alegre.


Essa pesquisa tomou como referência as seguintes fontes:

  • SEBENELLO, Sonia Martins. Gênero e Poder, possíveis contradições no processo de emancipação feminina. PUCRS, Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, 2004.


  • Porto Alegre. Câmara Municipal de Vereadores. Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Porto Alegre.



Pesquisa de imagem: Leandro Machado

Podcast Histórias Femininas

Reportagem Sul 21

Site Câmara POA

 
 
 

Atualizado: há 7 dias

Foi em 1973, anos de chumbo do Brasil, que uma turma de pessoas majoritariamente pretas, apesar do contexto político adverso, passou a se reunir para fazer o que mais gostava nos momentos de folga, geralmente aos finais de semana, o que mais tocava seus corações: as festas com muita dança e boa música. Em Porto Alegre, nessa época, nasceu um dos movimentos que deixaria saudade e ótimas lembranças para os seus frequentadores, os bailes blacks do Grupo Jara Musisom!


As festas do Jara, que se tornaram sucesso entre os pretos das periferias de Porto Alegre e grande Porto Alegre, se chamavam “Black Night”, comandada pelo Dj Brother Neni e realizada no salão de festas do Sindicato dos Metalúrgicos, um dos primeiros sindicatos de classe criados na capital, no ano de 1931, e que ficou conhecido como “Metal”.


Assim como aconteciam movimentos e festas black em todo o país e nas principais

cidades, expressão também de resistência e representatividade negra, Porto Alegre manteve essa expressão por bastante tempo. 


Vale salientar que um dos espaços que acolheram as festas black, foram os clubes negros, com destaque para a Sociedade Floresta Aurora, fundada em 1872, o mais antigo do gênero no Rio Grande do Sul, lugar onde realizavam-se festas diversas, encontros sociais, casamentos e aniversários e que também foi palco das festas idealizadas pelo Brother Neni

e outros DJs. Um destes, bastante popular, foi o DJ Gê Powers, promotor de inúmeros eventos na cidade, que ocupou vários salões de baile.


Importante salientar o quanto estas festas representavam e engajavam uma juventude negra numerosa, trabalhadora e ocupada nos dias de semana, e que, nos momentos de folga, não encontrava espaços para frequentar e usufruir de um lazer saudável e sem violência, a não ser, dentro de seus próprios territórios, em suas vilas e casas.


Para a juventude negra da cidade daqueles anos de ditadura militar, o racismo vigente e exacerbado significava sempre a possibilidade do jovem negro não ser bem-visto e muito menos bem-vindo nos ambientes predominantemente feitos para receberem pessoas brancas. Uma das razões pelas quais as festas Black tornaram-se populares.


A festa idealizada por Brother Neni completou 40 anos em 2023, e ainda até os tempos atuais acontece duas vezes por ano, em comemoração do aniversário do Dj, que está atualmente com os seus 74 anos de muita música e resistência e continua trazendo alegria através de ritmos como o Funk, o Charme e a Soul Music, embalando muitas pessoas pretas que viveram e ainda vivem esse sentimento de paz e segurança das festas Black. Viva o Jara Musisom!


Essa pesquisa tomou como referência as seguintes fontes:


uma-historia-dos-bailes-black-em-porto-alegre/



Pesquisa de imagem: Leandro Machado


Blog Blacks Balanço

Blog Eu Curtia Jara Musisom

Instagram

Facebook BAILE Charmeiros do Sul

Facebook Black Night


 
 
 

Atualizado: há 7 dias

Luís Carlos Machado, porto-alegrense, foi um famoso jogador de futebol gaúcho, mais conhecido pelo codnome Escurinho. Nascido em 18 de janeiro de 1950, falecido em 27 de setembro de 2011, teve como uma de suas grandes marcas seus gols de cabeça, em especial aqueles convertidos nos momentos mais decisivos. Grande cabeceador, célebre centroavante da década de 1970, tornou-se um dos mais ídolos da torcida colorada. Além de jogador, também foi músico, compositor de cujas canções ficavam entre a MPB e o samba. Foi ainda participante ativo nos sambas enredos e desfiles da Imperadores do Samba.


Escurinho cresceu na Ilhota, reduto negro e boêmio de Porto Alegre, um dos berços populares ligado à trajetória do Clube do Povo, o Internacional. Esse vínculo é a provável razão de ter procurado manter viva e eterna a sua relação com o samba e a música junto da comunidade futebolística. Sendo um jogador bastante carismático, lembrado sempre como uma espécie de mascote, talismã do internacional, acabou sua carreira de jogador como um dos mais queridos da história do clube. 


O Museu do Internacional já presenteou a torcida colorada com uma exposição em homenagem ao ídolo Escurinho, realização que foi aberta numa das datas comemorativas do Dia da Consciência Negra, o 20 de novembro. O fato atenta a marca que ostentou em toda a sua trajetória de jogador orgulho negro, marcado na memória do clube colorado.


Seu codinome, contudo, por mais carinhosa e ingênua que possa parecer a expressão - na tal neutralidade axiológica - não poderia passar desapercebido um detalhe importante. Escurinho provém da palavra “escuro”, expressão tantas vezes usada em contextos sociais que legitimam a aplicação pejorativa, ofensiva e injuriosa ao homem de cor preta, o negro. “Caricaturando a pigmentação e ilação da cor negra à escuridão”, a cor da maldade, às trevas, à falta de luz. O termo não deixa de ser um derivativo de sentido figurado, na politização do exercício do termo no uso social das relações de poderes e do racismo velado e recreativo. 


Portanto, o apelido “Escurinho”, enquanto pronuncia, está carregada em sua conotação social de recortes vinculativos de pré-conceito e discriminação, nos servindo e nos orientando para exercemos um racismo normalizante e cordial, bastante encontrato e  enraizado na história do povo brasileiro, no processo do racismo mascarado no Brasil.

Escurinho, porém - é fato - teve seu apogeu no futebol nos anos 1970, num período de ditadura militar e de hegemonia de uma sociedade conservadora. Nunca deixou de ser, contudo, um jogador que reivindicava seus direitos sociais e raciais, como comprova a sua presença constante no seio do povo carnavalesco.


Tanto é verdade que no livro de Jones Lopes Da Silva, No Último Minuto: a história de Escurinho: futebol, violão e fantasia, o escritor consegue descrever e representar a história deste jogador misturando-a com a história de Porto de Alegre e da cultura negra que envolve essas convergências sociais e de verossimilhanças.


Luís Carlos Machado - o Escurinho - acabou balizando uma época do Internacional e do futebol em Porto Alegre, em especial pela quantidade de partidas que decidiu para o Inter, e particulamente como herói de muitos Gre-Nais. Sua história representa a narrativa quase que literária de uma época, pois começava no banco de um time cheio de estrelas da bola, entrava no segundo tempo e marcava gol (ou gols) de cabeça, justo quando a torcida estava mais ansiosa por uma mudança que pudesse trazer a vitória naquelas partidas. Escurinho era a carta na manga do treinador. O gol aos 45 do segundo tempo, como resultado da cobrança de escanteio cavado ao final do jogo, ou do lançamento cruzado na área. 


Em um momento de glória, Escurinho acabou participando daquele lance factual na história colorada, momento marcante e inesquecível para a torcida do Internacional, quando em 1976, diante do Atlético-MG, no Estádio Beira-Rio, num lance mágico, tabelando de cabeça com Falcão, converteu um dos gols mais bonitos da história do futebol brasileiro, ao abater o flanco do goleiro argentino Ortiz. 

Para o pânico dos "adversários” - assim descrevem Adriana Paranhos e Paulo Melo num artigo do Boletim Arquibancada Colorada - Escurinho era tido pelos colorados como “o nosso super-herói”, aquele que aparecia quando tudo parecia perdido, o último recurso que chegava para se tornar o primeiro, o gol da vitória ou da resignação o descrevem, nos momentos inesquecíveis da comunidade colorada. 


Assim Luís Carlos Machado - o Escurinho - escreveu sua história de maneira antológica no Sport Clube Internacional. O jogador também teve boas passagens pelo Palmeiras, entre outros clubes como o Coritiba, em 1980; o Barcelona do Equador, no mesmo ano, e, posteriormente, em 1981, no Vitória da Bahia. No ano seguinte jogou pelo Francana, em São Paulo, e pelo Bragantino, em 1983. Passou ainda pelo CSA de Alagoas, em 1984, pelo Caxias, em 1985, pelo La Serena do Chile, em 1986, e pelo Avenida de Santa Cruz, no mesmo ano, quando encerrou a carreira. 


Seus principais títulos como jogador foram sete campeonatos gaúchos pelo Internacional (entre 1970 e 1976), dois campeonatos brasileiros (1975/1976), também pelo Internacional, e um campeonato equatoriano pelo Barcelona de Guayaquil, em 1981.


Em 22 de setembro de 2010, foi agraciado com o título de Cidadão Guaibense pelos relevantes serviços prestados ao Município de Guaíba. O jogador, músico e compositor foi vítima de um quadro doloroso de diabetes, que resultou na amputação de uma de suas pernas em 2009 e outra pouco antes de falecer, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em 2011.


Essa pesquisa tomou como referência as seguintes fontes:


ALMEIDA, Paula. Justificativa escrita para a Guaíba Câmara Municipal de Vereadores de  Guaíba, 17 de agosto de 2015. Página: https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/static.camaraguaiba.rs.gov.br/uploads/3811.pdf

BICCA, Ana Maria Froner. Internacional: Um futebol para todos. Memória do Inter - artigo para o Blog Oficial do Arquivo Histórico do Sport Club Internacional. Página: https://memoriadointer.blogspot.com/2017/11/internacional-um-futebol-para-todos.html


Reportagem de Felipe DUARTE. Escurinho levou apenas cinco minutos para marcar o gol 700 da história dos Gre-Nais: Inter venceu o Grêmio por 2 a 0 pelo Torneio Cidade de Porto Alegre, em 1972. 16/07/2020. Página: https://gauchazh.clicrbs.com.br/esportes/noticia/2020/07/escurinho-levou-apenas-cinco-minutos-para-marcar-o-700o-gol-da-historia-dos-gre-nais-ckcngagzv0036013gunz42mr9.html.

Artigo de Gustavo GROHMANN. Escurinho: ex-atacante do Inter e do Palmeiras. 3° Tempo. Página: https://terceirotempo.uol.com.br/que-fim-levou/escurinho-1758

Artigo de Paulo MELO e Adriana PARANHOS. Força, Escurinho. Boletim Arquibancada Colorada. 2 de setembro de 2011. https://arquibancadacolorada.com.br/2011/09/02/forca-escurinho


Artigo de Moisés MENDES. Jones e Escurinho. 22 de outubro 2016. Página: https://www.blogdomoisesmendes.com.br/jones-e-escurinho

MOREIRA, Adilson. Racismo Recreativo. - São Paulo : Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do Negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1978.

SILVA, Jones Lopes da. Último minuto: a história de Escurinho: futebol, violão e fantasia. Porto Alegre: SIGNI, 2011. 


Pesquisa de imagem: Leandro Machado

Facebook - História do Sport Club Internacional

Blog Futebol Outra História

Portal Terceiro Tempo

Notícia publicada pelo UOL

Facebook Programa Resenha Esportiva

Site Arquibancada Colorada

arquibancadacolorada.com.br/2011/09/02/forca-escurinho/ Facebook A História do Futebol e outros Esportes

Facebook Elizeu Souza

Facebook Cards do Internacional

Facebook Vander Camargo

Facebook São Borja de Outros Tempos

Facebook Bar Colorado

Facebook Museo Barcelona S.C



 
 
 

Nossos objetivos na 2ª edição

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Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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