- Ana Carolina Aguilhera dos Santos

- há 21 horas
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Os boletins informativos são materiais de imprensa que a Associação Satélite Prontidão (ASP) desenvolveu nos anos 1990. Essas publicações, lançadas em maior parte mensalmente, tinham o propósito de comunicar os projetos da instituição, além de abordar os acontecimentos do presente, atinentes à realidade do clube, dos seus sócios ou de contextos de interesse da comunidade satélite-prontista, e as pretensões para o futuro da ASP.
Os boletins de 1995 a 1999 foram desenvolvidos na gestão do presidente Ruben Canabarro e tiveram continuidade na gestão Eloy Dias dos Angelos. O material era produzido em folha A4, frente e verso e era enviado aos sócios pelos Correios. No cabeçalho, constava o brasão da Associação, o contato e endereço — na época, na avenida Aparício Borges, zona leste de Porto Alegre — o mês, ano e o número da edição, destacando a seguinte descrição, que marcava posição como local de relevância cultural e social da capital e do estado do Rio Grande do Sul:
Entidade de caráter Cultural, Recreativo e Social - Fundada em 1902.
Declarada de Utilidade Pública pela Lei Municipal nº 7.425 de 11-05-94.
Declarada de Utilidade Pública Estadual pelo processo nº 001296-200/97.1 da STCAS.
De maneira geral, o formato dos boletins informativos da ASP seguia um padrão. Havia espaços destinados para as diversas comunicações do clube, anunciando as campanhas promovidas pelos departamentos da Associação e os próximos eventos: os tradicionais bailes e chás, bem como o Troféu Zumbi, de condecoração a personalidades negras de destacada atuação. Por outro lado, havia as seções permanentes: a nota da presidência, a “Satélite em Prontidão” e “A Nossa História”.
Na nota da presidência, os dirigentes poderiam compartilhar aspectos sobre a gestão do clube, por exemplo, repassando informações sobre o quadro financeiro e a necessidade de engajamento de sócios e não-sócios, sobretudo para que esses cooperassem com a construção do espaço social da ASP. Por meio dessa seção, os presidentes cultivavam o espírito associativista, manifestando a importância do zelo pelo espaço físico e da união para a manutenção da existência desse clube social negro.
A seção “Satélite em Prontidão” trazia informações sobre o cotidiano do clube, onde se pode verificar quais atividades estavam sendo propostas, como as de cunho esportivo, as oficinas de capoeira e violão, o curso Pré-Vestibular Zumbi dos Palmares, iniciativa da instituição.
Além do mais, observa-se a relação da ASP com outros territórios negros da capital, como as escolas de samba. Na seção, compartilhavam-se notas sobre as conquistas de membros do clube e de seus familiares, como aprovação no vestibular, formaturas, casamentos, nascimentos e ainda, também, as notas de falecimento.
Além disso, esse espaço proporcionava acesso às produções e ocasiões ligadas à experiência negra no Brasil e no mundo, informando sobre eventos políticos e culturais e divulgando o trabalho de artistas afrodescendentes. Por fim, sempre havia uma curta mensagem — podia ser uma frase ou trecho de poema — em que muitas vezes eram trazidos autores e pensadores negros.
A seção “A Nossa História” trazia conhecimentos acerca da experiência negra no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo. Tratando sobre a cultura e a História, foram retratados aspectos do Maçambique de Osório, a origem do mocotó e da capoeira, a trajetória de personagens históricos marcantes para a História do Brasil que não são evidenciadas pela historiografia oficial, como Luiz Gama, André Rebouças, Cruz e Souza, João Cândido e Solano Trindade.
Além disso, acontecimentos e personalidades marcantes do contemporâneo, ligados ou não ao clube, eram evidenciados: por exemplo, estudantes do Pré-Vestibular Zumbi dos Palmares receberam congratulações pela aprovação no vestibular; os vencedores do Troféu Zumbi sempre eram anunciados, abordando um pouco de suas trajetórias; eventos políticos e culturais eram oportunidades para pensar sobre e as relações étnico-raciais e a luta antirracista.
A situação dos clubes cociais negros era pauta para refletir sobre a postura dos indivíduos em relação ao associativismo.
Numa ocasião, em novembro de 1999, a Fundação Cultural Palmares solicitou cópias de alguns boletins informativos da ASP, destacando que “A seção ‘A Nossa História’ conferia visibilidade a personalidades negras em suas atuações sociais e constituia uma importante fonte de informação para estudiosos e pesquisadores da Cultura Negra,” - conforme registrado no boletim nº 36, daquele mês e ano.
Pesquisa de imagem: Ana Carolina Aguilhera dos Santos
Referências:
FONTES
Boletins informativos. 1995-1999, n° 1 à nº 38. Acervo Associação Satélite Prontidão.
REFERENCIAL DE PESQUISA
CUNHA, Camila Rosângela da Silva. A Associação Satélite Prontidão: uma História Social dos negros no pós-abolição. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) — Universidade La Salle. Porto Alegre, 2018.
FEIJÓ, Ana Lúcia Felippe. Os 110 anos da Associação Satélite Prontidão em uma viagem através da fotografia. Trabalho de conclusão de curso Especialização em Pedagogia da Arte - Programa de Pós-graduação em Pedagogia da Arte, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013.
















































































