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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Verbetes

Atualizado: 14 de out. de 2024


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Neta da africana Maria Conceição, Isaura da Conceição nasceu em 1878, em Porto Alegre. Foi batizada na Igreja Madre de Deus e recebeu somente o sobrenome devocional de sua mãe – Conceição. Com o casamento de seus pais no ano de 1892 (Thomaz da Silva Dias e Josepha Conceição), agregou o sobrenome paterno Da Silva Dias. Primogênita dessa união, teve mais seis irmãos, Ildefonso, Hilda, Thomaz, Clotilde, José e Octávio. Sua família era prosperou economicamente. Essa ascensão econômica dos membros da família Silva Dias deu-se provavelmente a partir dos bens repassados por Maria Conceição a seu filho Thomaz da Silva Dias, homem negro letrado e pequeno comerciante no arraial do Menino Deus, membro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e do Clube Republicano ligado ao Partido Republicano Riograndense (PRR).


Os filhos homens acessaram o ensino público e os cursos de engenharia e direito, o que já era raro para uma família negra naquela época. Para as mulheres da família Silva Dias, no entanto, não é possível precisar se receberam alguma instrução. Porém, como a educação era um dos principais objetivos para a comunidade negra de então, é possível que tenham frequentado aulas com professores particulares ou ainda no círculo familiar do marido.


Isaura casou-se no ano de 1895, aos 17 anos, com o viúvo Aurélio Viríssimo de Bittencourt, este com 46 anos, tendo seu nome alterado para Isaura Dias de Bittencourt. Presume-se que ela tenha sido apresentada ao futuro esposo pelo pai ou pelos irmãos, visto que conviviam nos mesmos meios culturais, sociais e religiosos. Depois do matrimônio, nos anos posteriores, o jornal A Federação – órgão de imprensa do PRR – veiculou o nome da senhora dona Isaura Dias de Bittencourt ligando-o a várias irmandades religiosas da cidade de Porto Alegre. As irmandades, principalmente a de Nossa Senhora do Rosário, foram espaços importantes no amparo de seus membros durante o período do escravismo e posteriormente a este. Além das alforrias e da assistência médica, constituíram-se como locais de construção das redes de sociabilidade e, também, de ascensão e visibilidade social.


Os espaços das irmandades eram frequentados por vários membros da sua família de origem, como Thomaz da Silva Dias e seu padrasto José Justino. Dentro de seus trajetos por estas associações religiosas, Isaura cumpriu diversas funções de destaque, como a de juíza por devoção a São Francisco Xavier, no ano de 1896. No jornal A Federação de 30 de janeiro de 1901, ela aparece nas festividades da Irmandade da Nossa Senhora do Rosário como aia, juntamente com sua mãe, Josepha Conceição. As aias tinham o compromisso de vestir a imagem do santo ou da santa antes do início das novenas, o que somente era dado a pessoas de destaque na sociedade. Em 1915, conforme o referido jornal, ela foi encarregada da novena, ocupando também posições importantes e de relevo dentro das irmandades brancas da cidade. Foi integrante da Irmandade de Nossa Senhora das Dores nos anos de 1916 e 1917 e zeladora nas festividades de Nossa Senhora da Conceição e de Nossa Senhora da Glória. Ainda em 1916, é também aia na Ordem Terceira da Igreja das Dores, irmandade majoritariamente composta pelos brancos da elite citadina.


Nas décadas de 1920, registros de sua atuação nas irmandades tornaram-se mais raros, mas seu nome surge novamente no jornal A Federação, na coluna vida social, destacado dos demais com felicitações de aniversário. Outros registros também são evidenciados, como a saída para a cidade de Garibaldi, provavelmente para tratar das frequentes tosses e, também, as contínuas enfermidades (1923) as quais Isaura fora acometida. Isso, até o agravamento do sei quadro de doenças no mês de janeiro de 1925, resultando em seu falecimento em dezembro do mesmo ano, diagnosticada por tuberculose pulmonar. Apesar de sua trajetória e vivência no catolicismo, conforme seu obituário, as cerimônias fúnebres foram realizadas por meio da doutrina espírita solicitada por seu irmão Ildefonso da Silva Dias. Posteriormente, em 1946, um conjunto importante de objetos pessoais seus – sete leques, por exemplo – foram doados ao acervo do Museu Júlio de Castilhos. Sua atuação como mulher negra frente às irmandades católicas negras, pardas e brancas da cidad, evidenciou o seu protagonismo, articulação e visibilidade dentro da sociedade porto-alegrense do pós-abolição.



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Bibliografia:

FERRUGEM, Isabel Cristina. Relatório de Estágio Supervisionado II: Museu Julio de Castilhos, 2013.

Jornal A Federação.

Jornal O Exemplo.

 
 
 

Atualizado: 14 de out. de 2024


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Nasceu em maio de 1880, em Porto Alegre. É filho de Thomaz da Silva Dias e de Josepha Conceição Dias, e irmão de Isaura Dias de Bittencourt e do advogado José Dias. Ingressou no curso de engenharia no ano de 1900, sendo um dos primeiros profissionais negros formados pela Escola de Engenharia, posteriormente, vinculada a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi um dos criadores do Grêmio dos Estudantes da Escola de Engenharia (1903), onde exerceu a vice-presidência. Fez parte do Clube Republicano e da Irmandade Nossa Senhora do Rosário e como os demais membros da família Silva Dias, Ildefonso Dias atuou profissionalmente na Viação Férrea do Rio Grande do Sul, sendo diretor substituto e chefe da Divisão de Estatística durante do governo de Borges de Medeiros dirigindo, assim, vários trabalhos de construção e ramais ferroviários. Sempre referido no jornal O Exemplo como trabalhador dedicado, escreveu durante três décadas publicando vários textos relativos ao espiritismo. Foi redator e publicou a Revista Reencarnação em 1934, e é um dos fundadores da Federação Espírita do Rio Grande do Sul (FERGS) sendo seu presidente em duas gestões. Em julho de 1976, Ildefonso Dias falece de morte natural sem deixar herdeiros.

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Bibliografia:

FERRUGEM, Isabel Cristina. Relatório de Estágio Supervisionado II: Museu Julio de Castilhos, 2013.

Jornal O Exemplo.

 
 
 

Atualizado: 14 de out. de 2024


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Cantora e atriz. Nascida em Porto Alegre na década de 1910, sua trajetória está vinculada aos territórios negros da cidade e seus carnavais e, também, às rádios locais. Foi solista do bloco carnavalesco Turunas, originário da Colônia Africana. Nos anos de 1930, já cantava nas rádios Difusora, Gaúcha e Farroupilha. Em 1936, se casou com o músico Oscar Corrêa, sendo a cerimônia de casamento transmitida ao vivo pela Rádio Farroupilha. Era considerada uma das melhores intérpretes de Lupicínio Rodrigues, mas também gravou músicas de Ary Barroso e Noel Rosa. Como atriz, na década de 1940, atuou em alguns filmes dos estúdios Atlântida e Cinelândia ao lado de Oscarito, Nelson Gonçalves e Emilinha Borba. Logo após a projeção internacional, Horacina Corrêa se estabeleceu em definitivo no Egito. Com isso, informações sobre sua trajetória não mais foram obtidas.



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Referências:


HORACINA Corrêa: uma saudade boa de se sentir. In: Beco do Rosário. [S. l.], 8 mar. 2019. Disponível em: https://becodorosario.wordpress.com/2019/03/08/horacina-correa-uma-saudade-boa-de-se-sentir. Acesso em: 23 abr. 2023.

 
 
 

Nossos objetivos na 2ª edição

Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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