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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Verbetes

Atualizado: 14 de out. de 2024


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Nascida Leonor dos Santos Almeida em 1939(?), terceira geração de uma linhagem de religiosos representantes da nação Oió, adotou o nome de Norinha por influência de sua avó carnal, Mãe Nora de Iansã. Sua mãe natural, Zeferina de Oxum, foi uma das fundadoras da Federação das Religiões Afro-brasileiras - Afrobrás. A família habitava a região do Areal da Baronesa (Cidade Baixa, Menino Deus e Praia de Belas), um dos locais que teve o maior número de terreiros de religião de matriz afro-brasileira, sobretudo, como referia Mãe Norinha – em entrevista à pesquisadora Cíntia A. de Ávila:


posso citar alguns, não todos, porque eram muitos morando todos na mesma rua. Era Mãe Mércia de Iemanjá, Mãe Joaquina de Iansã, que era minha mãe de santo, vó Nora de Iansã, minha avó carnal, Mãe Zeferina de Oxum, minha mãe carnal. Eu me criei dentro de duas casas religiosas. A Mãe Joaquina morava na frente da casa de minha mãe.


Reconhecida por sua atuação religiosa e pelos conhecimentos profundos sobre os fundamentos litúrgicos da nação Oió, essenciais para o desenvolvimento espiritual de tantos filhos e filhas de santo que frequentaram sua casa, Mãe Norinha rompeu as barreiras seguras de atuação prestigiosa que a sua biografia assegurava no campo religioso para dar passos significativos em direção à atuação política em defesa das religiões afro-brasileiras. Em 2002, fundou a Congregação em Defesa das Religiões Afro-brasileiras (CEDRAB) durante os preparativos da 11ª Semana da Consciência Negra. Com este ato, trouxe para o interior do movimento negro a discussão da religião como constituinte do patrimônio cultural negro, pauta que até então era negligenciada pelas associações do movimento.


Mãe Norinha não compreendia a existência do movimento negro sem a presença da religião de matriz africana. “A religião é essencial para o negro. Claro que existem negros evangélicos, católicos, mas a principal religião no início foi a nossa”. A religiosa passou a frequentar reuniões do movimento e a trabalhar para a materialização de um grande sonho: o Projeto Bará do Mercado, que daria frutos como o registro da tradição Bará no Mercado como patrimônio imaterial de Porto Alegre (Lei n. 9.570/2004), referendado pela Câmara Municipal em 2020. Com isso, em 2013, pela influência do trabalho incansável da yalorixá a execução de uma obra de arte é assinada pelos artistas negros Pelópidas Thebano e Leandro Machado: uma escultura/mosaico consagrada a este orixá, localizada no centro ou encruzilhada do Mercado Público, como parte do roteiro do Museu de Percurso do Negro. A primeira reunião da religiosa com representantes do movimento negro para esse fim, no entanto, foi no início do século XXI, na Associação Satélite Prontidão.


No ano de 2004, o CEDRAB é institucionalizado. Torna-se a voz mais eloquente em um novo campo de atuação que Cíntia Ávila (2009) entende como sendo a interface entre a religião e a política na luta contra a intolerância religiosa sofrida pelas religiões afro-brasileiras por parte da sociedade gaúcha, sobretudo, por parte das igrejas pentecostais. São, naquele período, membros da direção do CEDRAB, além de Mãe Norinha, Baba Diba de Iemanjá, Mãe Teresa de Iansã, Mãe Maria de Oxum, Mãe Angélica de Oxum, Mãe Valdete do Bará e logo após, Pai Nilson de Oxum.


A luta de Mãe Norinha contra a discriminação sofrida pelas religiões de matriz afro-brasileiras e, em especial, a campanha empreendida contra a proibição ao abate ritual de animais, conquistou o apoio de intelectuais, políticos e do movimento negro. Levou a religiosa a ser ouvida na Câmara dos Deputados em Brasília e ser acolhida nos terreiros baianos. Sua visão e postura firme ao longo da vida contra a intolerância religiosa influiu decisivamente para a sua participação no projeto que constituiu o espaço inter religioso nas unidades do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) em Porto Alegre, iniciativa que possibilita assistência espiritual aos pacientes e profissionais do GHC conforme suas crenças e contribui para a cultura de respeito à diversidade religiosa. Mãe Norinha faleceu em 05 de maio de 2018.



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Referências:


ÁVILA, Cintia Aguiar. Na interface entre religião e política: origem e práticas da congregação em defesa das religiões afro-brasileiras (CEDRAB/RS). Dissertação de Mestrado em Antropologia, Porto Alegre: UFRGS, 2009




 
 
 

Atualizado: 14 de out. de 2024


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Luis Vagner Dutra Lopes – Luis Vagner, o Guitarreiro – , nasceu na cidade de Bagé (A Rainha da Fronteira), no dia 20 de abril de 1948, e veio a falecer no dia 9 de maio de 2021 em Itanhaém, São Paulo. Foi músico e compositor de grande sucesso no país. A carreira de Luis Vagner foi marcada pela sua versatilidade musical, começando com o rock soul, passando pelo samba rock, em que fez parcerias com Bedeu, Bebeto e Jorge Ben Jor, chegando ao reggae.


O pai e o avô do Guitarreiro eram músicos. O pai, violonista, resolveu homenagear o compositor alemão Wagner e batizou o filho: Luis Vagner Dutra Lopes. Jovem, começou a “correr mundo”, indo para Dom Pedrito, passando por Santa Maria, onde conheceu Cauby Peixoto e Lupicínio Rodrigues, a quem viria acompanhar como músico nos anos de 1960. Foi para Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, onde morou no Beco da Fossa, famoso reduto de músicos iniciantes como Paulinho da Viola e Caetano Veloso, período em que se tornou músico de estúdio. Depois, morou em Vaux sur Seinne (França), retornando a São Paulo em 1994. Em 2013, voltou a Porto Alegre para residir no bairro do Partenon e, em 2020, mudou-se para o litoral paulista de Itanhaém.


Sua carreira começou aos 14 anos, quando já se apresentava nos programas gaúchos de TV com a banda The Jetsons. Logo depois, junto com Anyres Rodrigues, Franco Scornavacca e Edson Aymay, formou Os Brasas, um dos grandes nomes da Jovem Guarda, lançando hits nacionais com o balanço do seu grupo e da sua guitarra.

Mas foi no samba rock que Luis Vagner imortalizou o seu nome ao lado de figuras como Bebeto, Jorge Ben Jor, Bedeu e Grupo Pau Brasil. Emplacou grandes sucessos como: “Saudades de Jackson do Pandeiro”, “Coisa Boa”, “Segura a Nega” entre outras.


Uma curiosidade ronda o apelido Guitarreiro que acompanharia Luis Vagner. Em uma versão da história, teria sido Jorge Ben Jor o autor, mas o mais provável é que foi o grande amigo e músico de Tim Maia, o cantor Fábio, que o teria batizado. A consideração de Jorge por Luis Vagner era tanta, que compôs em sua homenagem a música Luis Vagner Guitarreiro, que se encontra no álbum Bem Vindo Amizade, de 1981.


Entre as curiosidades que cercam o seu nome está o fato de ser considerado um dos precursores do reggae no Brasil ao lado de Gilberto Gil. Tocou com músicos consagrados do cenário nacional e internacional como Herbie Hancock, Wayne Shorter, The Wailers, Lupicínio Rodrigues, Jamelão, Zé Ketti, Nelson Gonçalves, Bibi Ferreira e outros.


Ao todo, foram dez álbuns de estúdio, um ao vivo, além de participações em produções de artistas como Os Diagonais, Lady Zu, Jorge Ben Jor, Bedeu, Paulo Diniz, Eliana Pittman, Tom Zé entre outros. As músicas de Luis Vagner revelavam um pouco de sua personalidade. Conforme Daniel Sanes (2021):


Algumas letras passam um sentimento de inadequação, de necessidade de afirmação no cenário musical. Ao mesmo tempo, soam como uma declaração de princípios, e demonstram o orgulho de Vagner em relação a suas raízes negras e brasileiras, algo que se tornaria uma constante em seu trabalho.


Em Porto Alegre, Luis Vagner viveu no bairro do Partenon, localizado na zona leste da cidade. Foi imortalizado na letra “Lá no Partenon”. Na composição, Guitarrero nos apresenta em forma de versos aspectos que marcam o bairro, como as tendências e estilos musicais que a rapaziada curtia e a paisagem do lugar, assim como, o cotidiano do espaço.


Luis Vagner Dutra Lopes produziu o seu último álbum Música Planetária Brasileira, que contou com lançamento póstumo. O Guitarreiro teve uma relação muito profunda com sua parceira de sempre, a música. A importância de Luis Vagner para o cenário da música afro-gaúcha é imensurável, uma vez que influenciou e continua influenciando músicos, como Bedeu e Ultramen. Nos deixando um legado de leveza e amor à vida através de suas composições, Luis Vagner era adepto do budismo Nishiren Daishonin, e sempre proferia uma prece Nam myoho rengue kyo.


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Referências


SANES, Daniel. O disco que consagrou Luis Vagner como protagonista do samba-rock. In: Nonada. [S. l.], 23 set. 2021. Disponível em: https://www.nonada.com.br/2021/09/o-disco-que-consagrou-luis-vagner-como-protagonista-do-samba-rock. Acesso em: 28 abr. 2023.


LUIS Vagner. In: WIKIPEDIA: the free encyclopedia. [San Francisco, CA: Wikimedia Foundation, 2022]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Vagner. Acesso em: 28 abr. 2023.


LUIS Vagner. In: DICIONÁRIO Cravo Albin Da Música Popular Brasileira. [S. l.]: Agência OD, 2021. Disponível em: https://dicionariompb.com.br/artista/luis-vagner. Acesso em: 28 abr. 2023.


DEFFERRARI, Edu. Em memória do grande Guitarreiro: músicos lembram a obra e ressaltam legado de Luis Vagner. In: GZH. Porto Alegre, 13 maio 2021. https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/noticia/2021/05/em-memoria-do-grande-guitarreiro-musicos-lembram-a-obra-e-ressaltam-legado-de-luis-vagner-ckon8g0xj006f018mmtfxj6s1.html. Acesso em: 28 abr. 2023.

 
 
 

Atualizado: 14 de out. de 2024


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João Altair de Barros (1934-2013) se tornou J. Altair no universo das artes visuais a partir da década de 1950, quando estudou com o pintor italiano Vicente Perllasca. Altair é, talvez, o único pintor babalorixá no Brasil. Filho de Bará, da nação Yjexá (Ijexá é uma nação africana formada pelos escravizados vindos de ilesa na Nigéria, concentrada nas religiões Batuque e Candomblé, tendo sua base em orunmila-ifá, e seus métodos adivinhatórios dos odú), o artista fez da arte uma profissão de fé. Suas obras remetem a universos de símbolos e cores que plasmam as mitologias da religião dos Iorubás. Sua produção, onde predomina a técnica de acrílico sobre tela, é caracterizada pela intensidade de cores, uma forma de luz que corre por veias ancestrais, por onde se encontram os orixás, suas danças e práticas ritualísticas, ressignificando a herança e o patrimônio negro.


J. Altair foi um artista que deixou marcas para além do Rio Grande do Sul. Nas décadas de 1950, 1960 e 1970 militou em vários movimentos de artes plásticas, ocasiões em que realizou diversas exposições em São Paulo. Em Porto Alegre, fez várias exposições individuais e participou de mostras coletivas importantes como o I Salão de Artes Plásticas em 1970, da Galeria Orca-Morganti, em 1971 e da Galeria Ítalo-Belga, em 1972. Na década de 1990, suas obras encontram espaço no Copacabana Palace Hotel e na Galeria Jean Jacques Urca, no Rio de Janeiro. Também possui obras no acervo de diversas instituições, como a Galeria Salomé em New Orleans (EUA), Museu Internacional de Arte Naif (RJ) e coleções privadas entre as quais se destaca a do artista uruguaio Carlos Paez Vilaró. Está presente em Porto Alegre nos acervos do Margs e da Pinacoteca Aldo Locatelli, da Prefeitura de Porto Alegre. Era original e inovador sendo considerado até hoje um mestre na arte naif no Rio Grande do Sul. Suas últimas mostras individuais foram em novembro de 2012 no Espaço IAB e na Câmara de Vereadores de Porto Alegre.


Antes de encaminhar a carreira de artista, o mestre era letrista por profissão e ativo nos espaços de sociabilidade negra, sendo um dos fundadores, junto, entre outros, com o músico Giba-Giba da Escola de Samba Praiana. Ainda, segundo Daniela Espíndola, foi um dos fundadores, por um breve tempo, em companhia do Nego Lua, do imagético bar Luanda, na Rua José do Patrocínio, 988. J. Altair faleceu na sexta-feira, dia 15 de fevereiro de 2013.



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Referências:




ESPÍNDOLA, Daniela Rodrigues. Nego Lua: o legado de um importante e influente militante negro de Porto Alegre. Concurso Décio Freitas/ Funproarte-SMC. Porto Alegre. 2015.


SILVA, Luiz Mariano Figueira. A Formação do Acervo Artístico de Porto Alegre: A gênese das pinacotecas municipais nos anos 1970. Trabalho de Conclusão de Graduação em Museologia. Porto Alegre: UFRGS, 2013.


 
 
 

Nossos objetivos na 2ª edição

Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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