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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Na 2ª edição do projeto Memórias Negras em Verbetes, será publicada uma nova e importante leva de verbetes que ampliam o reconhecimento das trajetórias, territórios e manifestações culturais negras em Porto Alegre. Esta edição trará nomes como o do poeta e puxador de samba Jajá, a matriarca quilombola Mãe Apolinária, o músico e agitador cultural Giba Giba, e figuras históricas como o Rei Congo Francisco Bernardo da Silva. Também estarão presentes coletivos e espaços fundamentais para a resistência e criação negra na cidade, como o Instituto Afro-Sul Odomodê, o Museu do Hip Hop, a Banda de Jazz Espia Só e a histórica Liga da Canela Preta. Esses são apenas alguns dos exemplos que compõem a lista prevista para publicação, reforçando o compromisso do projeto com a valorização da memória e do legado negro porto-alegrense.

Verbetes




A primeira construção desta igreja ocorreu entre 1817 e 1827, empreendida pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, uma confraria de negros livres e escravizados. Foi edificada na então Rua da Bandeira, a atual rua Vigário José Inácio, construída durante as horas vagas dos trabalhadores negros, sob a orientação do tesoureiro da Irmandade, Francisco José Furtado, cujo apelido era “Chico Combuta”, tendo recebido a imagem de sua padroeira em 1827.

Apesar de contar com poucos recursos, a igreja chamava atenção pelos seus doze metros de altura e duas torres quadrangulares. Seu interior continha, além do altar-mor, outros quatro altares laterais, que abrigavam dezessete imagens, algumas valiosas, vindas de Portugal. Alegando que a igreja não comportava mais a quantidade de fiéis e ameaçava desabar, a Mitra Arquidiocesana a demoliu e em seu lugar construiu outra com estrutura pesada, pouco original e sem uma identidade com a arquitetura local.

A Irmandade do Rosário de Porto Alegre foi criada em 1786 e manteve o caráter aberto a todos os grupos étnicos. Embora a igreja católica tivesse como objetivo domesticar a população africana e seus descendentes, legitimando a escravidão, as irmandades foram importantes, proporcionando uma relativa autonomia para a prática religiosa, favorecendo a integração e a socialização entre escravizados e libertos.

A presença de brancos nas irmandades onde a maioria era negra levou a uma vivência diferenciada da relação de subordinação existente entre cativos e senhores. Nas reuniões de decisão, reuniões da Mesa, poderiam estar presentes, como mesários, um escravizado e o seu senhor, decidindo sobre assuntos comuns em igualdade, materializando uma prática de resistência contra a escravidão.

Além da sociabilidade e auxílio mútuo que a Irmandade permitia, a convivência entre os cultos africanos e portugueses foi fundamental para a preservação de elementos da religiosidade africana, que mesclados com as bases do catolicismo, foram ressignificados e adaptados para a realidade daquele período histórico. Outros atos que são vistos como resistência foram o dever de dar um funeral aos congregados, o amparo aos familiares dos irmãos pobres, a compra de alforria, servindo a própria Irmandade como modelo para outras associações negras de auxílio mútuo, mas sem o caráter religioso das irmandades.

O Beco do Rosário localizava-se onde hoje é a avenida Otávio Rocha e recebeu esta denominação após a construção da Igreja da Nossa Senhora do Rosário. Segundo pesquisadores, antes dessa construção, havia uma placa com os dizeres “24 de maio” que o identificava e, o Beco do Rosário, referia-se apenas a um segmento dessa travessa, que ficava mais próximo à igreja. Ali habitou um morador ilustre no sobrado de n.º 21, o poeta e dramaturgo Qorpo Santo, que escreveu a antológica peça “Hoje sou um, e amanhã outro”, estreada na data de 15 de maio de 1866.

Para melhor compreender, o conceito de beco relaciona-se com uma rua secundária no traçado urbano hierarquizado e tipicamente ocupado por parcelas mais pobres da população. Pesquisas acadêmicas apontam que parte significativa dos habitantes dos becos eram trabalhadores pobres e, em grande parte, nascidos ou com antepassados no continente africano. Como forma de segregação, havia a desqualificação dos negros como trabalhadores independentes, o que contribuía para a ausência de políticas de reinserção destas pessoas, acarretando sua exclusão do exercício integral da cidadania, incluindo o direito de acesso à cidade.

A rua Vigário José Inácio recebeu esta denominação em 1977. Inicialmente, chamava-se Rua do Bandeira e, em 1816, com a construção da igreja, passou a ser conhecida como rua do Rosário, mas apenas na década de 1830 o nome veio a se fixar.

A partir disso, os becos tornam-se locais de interação social estigmatizados pela moral das classes dominantes, tendo quase sempre uma conotação pejorativa e considerados como espaços urbanos subalternos. Assim, a modernização da cidade passava pela destruição e higienização desses lugares, especialmente aqueles próximos a locais de prestígio. O Beco do Rosário foi destruído em 1926, na gestão do Intendente Otávio Rocha, dando origem a uma avenida mais larga e expulsando seus habitantes daquele lugar, condenado por sua sociabilidade e por ser remanescente insalubre da cidade colonial.



Referências

ANDREIS, Suélen. O brilho da festa não cessa a dor: experiências de resistência negra na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Porto Alegre (1827-1861). 2015. (Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) – Universidade Federal do Rio Grane do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/132357. Acesso em: 9 dez. 2022.

KOEHLER, Ana Luiza Goulart. Retraçando os becos de Porto Alegre: visualizando a cidade invisível. 2015. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/139940. Acesso em: 9 dez. 2022.

FRANCO, Sergio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 4. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2006.


Atualizado: 14 de out. de 2024

Figura 1: Mapa da Colônia Africana, Porto Alegre/RS – 1888

Fonte: Elaboração de Daniele Machado Vieira sobre Mapa de Porto Alegre/RS, 1888 (IHGRGS, 2005)


Figura 2: Colônia Africana, Porto Alegre/RS – início Séc. XX

Fonte: Acervo Biblioteca Digital Luso Brasileira



A Colônia Africana foi um arraial caracterizado pela grande presença de famílias negras, existente na cidade de Porto Alegre por, no mínimo, cinco décadas: de meados de 1880 até, pelo menos, os anos 1940/1950. Localizada no entorno da área central, na região que hoje corresponde ao bairro Rio Branco, a Colônia Africana tem sua ocupação inicial relacionada a negros libertos que por ali se estabeleceram no período próximo à Abolição da Escravidão (1888).


Seu Jayme Moreira da Silva (1916-2014), morador da região durante toda a vida, relata que “a Colônia Africana era povoada por escravos libertos e pelos seus descendentes. Filhos, netos e bisnetos e assim por diante. Mais alemães e italianos que ali se estabeleceram” (2005, p. 19). A hipótese de ocupação inicial por negros libertos é fortalecida pelo fato de que em 1884 abolicionistas comemorarem a emancipação de 134 escravizados no 3º Distrito, região da cidade na qual vai se localizar a Colônia Africana (ROSA, 2019, p. 150). Relatos apontam que negros libertos teriam se instalado nas bordas dos casarões da Avenida Independência e chácaras existentes nas imediações do atual bairro Rio Branco. Nas décadas de 1910/1920 começam a alojar-se na área imigrantes europeus de diversas nacionalidades: alemães, italianos, espanhóis, portugueses, judeus, russos, austríacos (ROSA, 2019).


Em 1888, simbolicamente o ano da Abolição da Escravidão, a área da Colônia Africana aparece pela primeira vez em um mapa da cidade, já com cinco ruas traçadas. Um dos registros mais antigos que se tem da área – com esta denominação – é um anúncio de 29 de janeiro de 1894, no qual são oferecidos para venda terrenos “bem localizados” em diversas áreas da cidade:


“[...] Tem a venda terrenos bem localizados, sito as ruas Independência, Silveira Martins, Santo Antônio, Campo do Bom Fim, Garibaldi, Venezianos, Concórdia e na Colônia Africana às ruas Ramiro Barcelos, Castro Alves e Venâncio Ayres” [atual Rua Vasco da Gama] (A FEDERAÇÃO, p. 3, grifo meu).


Esse anúncio é um marcador espacial e temporal da Colônia Africana, pois além de apontar algumas das ruas que a compunham, também confirma que na década de 1890 a região já era conhecida por esse nome. Embora não tenha sido oficialmente reconhecida como uma área da cidade, são feitas menções à Colônia Africana na condição de arraial (o equivalente a um bairro) em pelo menos dois documentos do poder público municipal nos anos de 1896 e 1898, referindo, respectivamente, à correção de ruas com nome em duplicidade e à taxação de impostos na zona suburbana (KERSTING, 1998, p. 105).


No início do século XX, a Colônia Africana se expandiu. Nos mapas de 1906 e 1916 ela já aparece com muitas outras ruas traçadas. De acordo com as fontes e os antigos moradores, o arraial iniciaria na Rua Ramiro Barcelos estendendo-se até os altos do Morro do IPA, chegando a atingir a Av. Maria (atual Av. Cel. Lucas de Oliveira) no sentido oeste-leste. No sentido norte-sul, da Rua Castro Alves até a Av. Protásio Alves, tendo como principais transversais a Rua Esperança (atual Rua Miguel Tostes) e a Rua Mariante, que dividia a Colônia Africana em uma parte baixa, a oeste, e uma parte alta a leste. Ao longo de algumas décadas, até ao menos a década de 1920, a área da Colônia Africana era o limite de uma parte da cidade, com suas ruas acabando em uma ampla área de vegetação (indicada por arbustos nos mapas de 1888 e 1906) ou tendo como continuidade um grande espaço em branco, indicando um vazio urbano, como no Mapa de 1916.


Quanto à denominação, acredita-se que o termo “Colônia” esteja relacionado ao seu contexto inicial de área de características semirrurais, com quintais para criação de animais (cabras, galinhas, etc) e pequenas hortas (ROSA, 2019, p. 148-149). Já o adjetivo “Africana", sem dúvida faz menção aos moradores do lugar, africanos e seus descendentes, como os constantes nos Livros de Registros da Santa Casa no final do século XIX levantados por Kersting (1998, p. 211). Nessa perspectiva, o termo “Colônia Africana” condiz com a ideia de uma região, inicialmente rural, habitada por negros (ROSA, 2019, p. 149). A nomeação da área como decorrente da predominância do grupo racial negro é também apontada pelo cronista Sanhudo, que se refere à área como “região que, mais habitada por pretos, foi ficando com o pitoresco e significativo nome de Colônia Africana” (1975, p. 113). Embora o arraial não tenha sido habitado exclusivamente por negros, até a primeira década do século XX esses eram os moradores majoritários, tornando-se o lugar uma extensão dos seus habitantes, inclusive na denominação daquela região da cidade.


Em 1913, a área passa a ser oficialmente denominada de bairro Rio Branco em homenagem ao Barão do Rio Branco. Contudo, parece que a nova denominação demora a emplacar, pois em um relatório da Intendência Municipal de 1918 a área é mencionada como “bairro Rio Branco (antiga Colônia Africana)” (FRANCO, 2006, p. 114). Duas décadas após, em 1940, notícias da imprensa sobre o carnaval referem-se à festa na Colônia Africana, indicando a continuidade da nomenclatura e deste antigo território negro. Narrando os cortejos do pré-carnaval, uma reportagem do jornal Correio do Povo, de 27 de janeiro de 1940, vai se referir aos “morenos” que “desceram os morros, desembocaram da Colônia Africana”. Outra notícia na Revista do Globo, em 17 de fevereiro de 1940, menciona a Colônia Africana, descrevendo um festejo no Salão do Ruy (antigo Salão Modelo), qualificando-o como “a sociedade de pretos da Rua Esperança”, reafirmando a existência de uma comunidade negra no local ainda nessa época.


Quando se fala em memórias da Colônia Africana, a Rua Esperança (atual Rua Miguel Tostes) é constantemente referida. Foi nessa rua que em 1942 nasceu a Profª Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, referência nacional em educação para as relações étnico-raciais (ERER), cuja família tem residência desde o raiar do século XX. Por ali também circulavam os blocos de carnaval da área: Os Fazendeiros, Os Turunas e Os Prediletos, com os dois últimos revezando-se nos primeiros lugares dos concursos. Quando chegava a primavera, iniciavam os preparativos para o carnaval e, nas palavras de Seu Jayme Moreira da Silva, “da primavera à quaresma, a Colônia Africana era só festa”. Horacina Corrêa, grande intérprete do Bloco os Turunas, tinha sua voz ouvida de longe, levantando os moradores da Rua Esperança da cama para vê-la passar.


Ao descrever os festejos católicos da área, seu Jayme Silva (2005, p. 53) relata que a participação das famílias negras era realizada conforme o “ritual africano”. Ocorridas no Morro da Piedade (na subida da Rua Cabral), essas celebrações ao “ritual africano” eram compostas por piqueniques, música, comidas típicas, dança, desfiles e mães de santo. Mãe Chininha, mãe de santo que residia nas imediações, abria as solenidades, pedindo muito amor, respeito, cura e paz. O antigo morador também faz menção à existência de diversas casas de batuque na região, relatando que mesmo os negros adeptos do catolicismo não deixavam de frequentar “a religião tradicional africana, de origem de seus avós [...] cultuada em toda a Colônia Africana” (2005, p. 53).


Sobre o fim da Colônia Africana, sabe-se que com a valorização do espaço, a área foi se transformando. Aos poucos as famílias negras foram migrando e o local deixando de ser caracteristicamente negro.







Referências


A FEDERAÇÃO. Porto Alegre. n. 24, p. 3. 29 jan. 1894. Acervo da Hemeroteca Nacional. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=388653&pagfis=1. Acesso em: 5 nov. 2020.


CORREIO DO POVO. Porto Alegre, 27 jan. 1940.


FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 4. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006.


KERSTING, Eduardo Henrique de Oliveira. Negros e a modernidade urbana em Porto Alegre: a Colônia Africana (1890 – 1920). 1998. 221 f. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-graduação em História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998.


O CARNAVAL em todos os recantos. Revista do Globo, Porto Alegre, n. 269, p. 45, 17 fev. 1940.


ROSA, Marcus Vinicius de Freitas. Além da invisibilidade: história social do racismo em Porto Alegre durante o pós-abolição. Porto Alegre: EST Edições, 2019.


SANHUDO, Ary Veiga. Porto Alegre: crônicas da minha cidade. Porto Alegre: Editora Movimento: Instituto Estadual do Livro, 1975. 2 v.


SILVA, Jayme Moreira da. Colônia Africana. Porto Alegre: [s. n.], 2005.


VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800-1970): geografia histórica da presença negra no espaço urbano. Belo Horizonte: ANPUR, 2021. Disponível em: https://anpur.org.br/territorios-negros-em-porto-alegre-rs-1800-1970. Acesso em: 14 dez. 2022.


Atualizado: 14 de out. de 2024



Consta que o registro do Bar Naval Chopp foi aberto por holandeses, em 11 de maio de 1907, mas que foi fundado no ano anterior. Outra versão diz que o italiano Ângelo Crivellara foi seu fundador e a foto dele no bar reforça essa hipótese. Situa-se, desde então, no térreo do Mercado Público de Porto Alegre e, inicialmente, foi ponto de encontro de imigrantes alemães, sendo famoso por seu chopp e pela culinária luso-brasileira. Sobreviveu a duas guerras mundiais, à enchente de 1941 e aos incêndios do Mercado. Em 1953, foi assumido pelo português Antônio Lopez Branco e, a partir de 1961, por João Fernandes da Costa, também português.

Com a construção do Cais do Porto, em 1920, o Naval constituiu-se em um ponto de encontro dos marítimos e estivadores, que eram, em sua grande maioria, negros. Mas não só eles, pois o Mercado era um indicador informal de empregos de baixa remuneração, atraindo inúmeros trabalhadores negros que também finalizavam o dia socializando no boteco. Segundo um dos atuais proprietários, foi o primeiro bar da cidade a receber negros e brancos no mesmo ambiente.

O lugar foi referência para os boêmios da cidade e, segundo conta-se, recebeu frequentadores ilustres internacionais, como Carlos Gardel e Carmen Miranda, e estrelas locais da envergadura de Lupicínio Rodrigues e Elis Regina, além de políticos, como Getúlio Vargas, João Goulart e Glênio Peres. Também foi referencial de lazer, considerado marco importante para os negros, uma vez que foram perdendo seus espaços no centro da cidade, fazendo dali um território simbólico, em conjunto com o próprio Mercado Público, sendo o local de encontro do movimento negro e marcado pela participação política de seus frequentadores.

Depois da restauração do Mercado Público (1990-1997), a maioria dos bares e as pequenas lojas fecharam ou perderam suas características principais. O Bar Naval Chopp resistiu e, hoje, chama-se Restaurante Naval, mudança feita nos anos 2000. Na atualidade, tem outro público frequentador.






Referências


BURKHARDT, Fabiano. Um bar sem preconceito. Jornal Laboratório Três x Quatro. Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS. Porto Alegre, Agosto, 1999, p.3.


JORDANI, Airton. Violento Mocotó no Naval. Blog Arte na mesa.com. Porto Alegre, 09 jun. 2008. Disponível em: http://artenamesa.blogspot.com/2008/06/violento-mocot-no-naval.html. Acesso em: 31 maio 2023.


IGLESIAS, Simone. Bar Naval, 100, abrigou de Lupicínio a Getúlio. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 01 nov. 2007. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx0111200727.htm. Acesso em: 31 maio 2023.


XAVIER, Amanda. Tradição no prato: conheça os restaurantes mais antigos de Porto Alegre. Caderno Destemperados, Jornal Zero Hora. Porto Alegre. 23 ago 2021. Disponível em:


Nossos objetivos na 2ª edição

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Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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