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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Na 2ª edição do projeto Memórias Negras em Verbetes, será publicada uma nova e importante leva de verbetes que ampliam o reconhecimento das trajetórias, territórios e manifestações culturais negras em Porto Alegre. Esta edição trará nomes como o do poeta e puxador de samba Jajá, a matriarca quilombola Mãe Apolinária, o músico e agitador cultural Giba Giba, e figuras históricas como o Rei Congo Francisco Bernardo da Silva. Também estarão presentes coletivos e espaços fundamentais para a resistência e criação negra na cidade, como o Instituto Afro-Sul Odomodê, o Museu do Hip Hop, a Banda de Jazz Espia Só e a histórica Liga da Canela Preta. Esses são apenas alguns dos exemplos que compõem a lista prevista para publicação, reforçando o compromisso do projeto com a valorização da memória e do legado negro porto-alegrense.

Verbetes

Atualizado: 14 de out. de 2024



A Esquina do Zaire designa uma ressignificação promovida pelos negros e negras para a denominada Esquina Democrática, situada no cruzamento central do espaço urbano de Porto Alegre, entre a Rua dos Andradas (Rua da Praia) e a Avenida Borges de Medeiros, onde os diversos segmentos sociais e culturais promoviam (e eventualmente ainda promovem) encontros por meio da sociabilidade pública, geralmente entre às 18 horas até a meia-noite, de modo fluido e efêmero, sendo estes estudantes, carnavalescos, sambistas, trabalhadores de serviços públicos, comércio e serviços, integrantes dos movimentos funk e hip hop, capoeiristas e negros proveniente das periferias, territórios negros (bairros) dos arredores do Centro e da região metropolitana de Porto Alegre.


Este povo negro afluía para a área central da cidade com a ideia de ocupação de esquinas, bares, galerias, shopping centers e ruas do entorno. É esta ocupação que caracteriza a chamada Esquina do Zaire. Os períodos e dias mais intensos ocorrem entre as quintas e sextas-feiras. A denominação Esquina do Zaire é atribuída ao fato de que, em 1974, durante a Copa do Mundo de Futebol, a seleção brasileira disputaria pela primeira vez uma partida oficial com a seleção africana do Zaire, assim estabelecendo um dilema para os negros brasileiros entre torcer para o Brasil ou para o Zaire, selecionado formado exclusivamente por jogadores negros, tendo a maioria ou grande parte optado por torcer para o selecionado zairense.


Apesar de terem sidos derrotados por 3 x 0 pela equipe brasileira, entre a comunidade negra ficou consagrado que a então Esquina Democrática passaria a ser denominada de Esquina do Zaire, em alusão, também, à significativa presença de corporeidades negras; às manifestações políticas (com destaque para o Movimento Negro [MNU] e Grupo Palmares) e culturais afro-brasileiras e, sobretudo, pela intensa sociabilidade pública urbana. No meio popular, convencionou-se atribuir a “um Zaire” lugares onde domina a presença negra, também numa alusão ao selecionado daquele país, o que contribuiu para a identificação dos encontros de negros no Centro de Porto Alegre, na Esquina Democrática, como Esquina do Zaire.





Referências:


ANJOS, José Carlos dos. A reterritorialização do negro no centro de Porto Alegre. In: ORO, Ari Pedro; ANJOS, José Carlos, CUNHA, Mateus. A tradição do Bará do Mercado. Porto Alegre, PMP/SMC/CMC, 2007.


BITTENCOURT JUNIOR, Iosvaldyr Carvalho. Porto Alegre: Do Porto dos Casais a um Porto Africano. A Ocupação Negra do Centro de Porto Alegre. Comunicação apresentada na 17ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Florianópolis, 1990.


____________. “Território Negro em Área Urbana”, Comunicação, Reunião Intermediária da Anpocs, Territorialidade, Identidade e Cidadania no Brasil, dias 20 e 21 de setembro de 1990, Florianópolis, 1990.


____________. Mostra Fotográfica “Territórios Negros no Campo e na Cidade”, 17ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), de 08 a 20 de abril de 1990, como atividade complementar, Florianópolis, 1990.


____________. “Os Relógios da Noite: Território e Etnicidade”, Comunicação apresentada no Grupo de Trabalho “Religião, Identidade e Etnicidade”, III ª Reunião Regional Sul da Associação Brasileira de Antropologia, 13 de novembro de 1991, Curitiba, 1991.


____________. Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre. Palestra. Curso de Extensão “Zumbi dos Palmares – 300 Anos (Aspectos Históricos e Antropológicos), Ifch, Pucrs, Porto Alegre, 1994.


____________. A Esquina do Zaire – Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre, In; SEFFNER, Fernando (Org.), Presença Negra no Rio Grande do Sul, Unidade Editorial, Secretaria Municipal da Cultura, Porto Alegre, 1995.


___________. Relógios da Noite: uma antropologia da territorialidade e da identidade negra em Porto Alegre. PPGAS, Ufrgs, dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1995.


____________. “Cruzando Territórios Negros”, exposição integrante do projeto“ Projeto Zumbi 300 Anos: o negro ontem e hoje”, Museu Antropológico do Rio Grande do Sul, Secretaria de Estado da Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Nuer. Curadoria Miriam Chagas, 27 de Novembro, Porto Alegre, 1995.


___________. A Esquina do Zaire: Territorialidade Negra Urbana em Porto Alegre. In: LEITE, Ilka Boaventura Leite. Negros no Sul do Brasil – invisibilidade e territorialidade, Letras Contemporâneas, Florianópolis, 1996.


___________. “Territorialidade Negra Urbana” Seminário: “Negritude, Sociedade e Cidadania em Porto Alegre”, de 25 a 27 de novembro de 2003, Teatro Bruno Kiefer, casa de Cultura Mário Quintana, Uergs, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.


___________. Territórios Negros. In: SANTOS, Irene (Org.), Negro em Preto e Branco – História Fotográfica da População Negra de Porto Alegre, Do Autor/Fumproarte, Porto Alegre, 2005.


___________. Territorialidade Negra Urbana: a evocação da presença, da resistência cultural, política e da memórias dos negros, em Porto Alegre, delimitando espaços sociais contemporâneos. In; POSSAMAI, Zita (Org.) Leituras da Cidade, Editora Evangraf, Ufrgs, Porto Alegre, 2010.


SANTOS, Roberto dos. Pedagogias da Negritude e Identidades Negras em Porto Alegre: jeitos de ser negro no Tição e no Folhetim dos Zaire (1978-1988), PPG em Educação, Universidade Luterana do Brasil, dissertação de Mestrado, Canoas, 2007.


SOMMER, Michelle Farias. Territorialidade Negra – Herança africana em Porto Alegre: uma abordagem sócio-espacial, Ed. Do Autor/Fumproarte, Porto Alegre, 2011.


Atualizado: 14 de out. de 2024



Em 1872, em pleno período de vigência da escravidão no Brasil, um grupo de jovens negros fundou, em Porto Alegre, no de 31 de dezembro, a Sociedade Musical Floresta Aurora, uma entidade que se tornou um dos clubes negros mais longevos do país.


Entre estes jovens e primeiros membros estavam José Manoel Antonio e Miguel Archanjo da Cunha. Muitos destes membros fundadores pertenciam à Irmandade do Rosário, como assinala a historiadora Liane Muller.


Em seu primeiro estatuto, do ano de 1874, a entidade era caracterizada como bailante e beneficente. Tinha entre seus objetivos a prestação de socorro a seus sócios enfermos, extensivo a suas famílias, bem como a assistência no momento dos enterros e, ainda, a compra de liberdade de seus associados e de seus familiares por meio da junção de pecúlio coletivo.


A Sociedade, na década de 1920, formou uma biblioteca e criou mecanismos de instrução de seus membros. Contou, ainda, com uma banda musical chamada Banda da Floresta Aurora. Ocupou vários endereços ao longo de sua trajetória e, segundo relatos de seus membros, sua nomenclatura teria surgido decorrente de sua primeira sede, localizada entre as ruas Floresta (atual rua Cristóvão Colombo) e Aurora (atual rua Barros Cassal). Posteriormente, teve sede nas ruas da Concórdia (atual José do Patrocínio), General Lima e Silva, Curupaiti e Avenida Coronel Marcos. Atualmente se encontra na Estrada Afonso Lourenço Mariante, na Lomba do Pinheiro.


Referências

MÜLLER, Liane S. As contas do meu rosário são balas de artilharia: irmandade, jornal e associações negras em Porto Alegre (1889-1920). 1999. Dissertação (Mestrado em História) – PUC-RS, Porto Alegre, 1999.


PEREIRA, Lúcia Regina Brito. Cultura e afrodescendência: organizações negras e suas estratégias educacionais em Porto Alegre (1872-2002). 2008. 450 f. Tese (Doutorado em História) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.


Sociedade Floresta Aurora completa 150 anos como referência à comunidade negra. Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/sociedade-floresta-aurora-completa-150-anos-de-referencia-a-comunidade-negra/


Atualizado: 14 de out. de 2024



No dia 02 de julho de 1949, o impresso gaúcho Folha da Tarde estampou em suas páginas um convite aberto e dirigido “aos homens de cor” da cidade de Porto Alegre. Com previsão para os primeiros dias de julho, o encontro anunciado aconteceria no Teatro Anchieta (Avenida Brasil) e objetivava estudar as possibilidades da constituição de um Clube Náutico, inicialmente anunciado como Clube Náutico José do Patrocínio, contudo recebendo a nominação de outro intelectual negro, Marcílio Dias. Destinado à prática do remo e da natação, “esportes que traziam benefícios para os jovens negros,” mas que era lhes era negado o acesso aos clubes brancos da cidade.


Desta forma, seria fundado na data de 04 de julho de 1949, o Clube Náutico Marcílio Dias, envolvendo esportistas como João Nunes de Oliveira (um dos proponentes do convite aos homens de cor), advogados, comerciários, funcionários públicos e estudantes que organizaram uma junta para a elaboração dos estatutos e a composição da iniciante diretoria.


A então junta governativa provisória traçou os objetivos para o clube. Entre seus principais articuladores estavam: Armando Hipólito dos Santos (advogado), João Nunes de Oliveira (comerciário), Heitor Nunes Fraga (industriário), Paulo Santos (acadêmico), João Batista da Silva (desenhista), Miguel Machado (comerciário), Morelino Caldeira da Silva (funcionário público) e Kleber de Assis (industriário). Posteriormente, alguns destes membros formaram a primeira diretoria da entidade.


No ano seguinte, em 12 de junho de 1950, o Clube abre oficialmente “suas portas” no prédio da Av. Praia de Belas, n. 2286. Seus salões foram cenário de inúmeras festas comemorativas compartilhadas especialmente com outros clubes negros, quando foram vivenciados os bailes de carnaval, natal e outros festejos que se tornaram amplamente reconhecidos como grandes acontecimentos da comunidade negra de Porto Alegre.


Na década de 1960 foi editado um jornal interno chamado Ébano, e entre seus idealizadores estava Eloy dos Angelos. Teve somente dois números que veiculavam as atividades do clube e de outras associações negras. No início, a sede era um chalé com poucas instalações, porém, em 1957, houve uma maior mobilização dos sócios para a construção de um ginásio, que foi derrubado no ano seguinte em decorrência dos ventos fortes nas margens do Lago Guaíba. Durante a sua trajetória, o clube não teve sede própria, permanecendo ao longo de sua existência no mesmo endereço, no bairro Menino Deus, e próximo aos antigos territórios da Ilhota e do Areal da Baronesa. Suas atividades foram encerradas na década de 1970.




Nossos objetivos na 2ª edição

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Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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