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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Verbetes

Atualizado: 14 de out. de 2024


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Nascido com o nome de Djalma Cunha dos Santos, em Alegrete, no Rio Grande do Sul, se autonomeou Djalma do Alegrete para não ser confundido com o ex-jogador de futebol Djalma dos Santos. Ao longo de sua trajetória, conviveu com o prestígio e a marginalidade social, como ele mesmo reconheceu quando disse: “apesar do prestígio que consegui, sou marginal por ser homossexual e negro”, em notícia do O Globo, em 06 de novembro de 1988.


Djalma do Alegrete foi multiartista: pintor, decorador, cenógrafo, educador, figurinista e carnavalesco. A partir de 1956 surge como pintor, participando de exposições coletivas e individuais, onde se destaca o IX Salão de Artes Plásticas da Sociedade Xico Lisboa (1958), a coletiva de artistas sul-rio-grandense no Leme Palace Hotel (1968), a mostra individual no Instituto Cultural Brasil – EUA (1962), a Galeria Pancetti (1967) e outras. Estudou artes plásticas e jornalismo, sendo apontado como o primeiro aluno negro do Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para se qualificar como professor, frequentou o curso de didática na Faculdade de Filosofia em 1958.


Transitando com desenvoltura nos espaços de sociabilidade negra, marcou presença nos carnavais de rua de Porto Alegre se tornando figurinista destacado, atividade pela qual recebeu diversos prêmios: foi pentacampeão (1959-1963) de vestimentas de blocos carnavalescos. No primeiro ano, venceu com a temática “Civilização Inca”, como consta no livro coordenado por Irene Santos, Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra em Porto Alegre, onde está reproduzido um croqui elaborado para a “ala dos pajens do maracatu”. Recebeu notoriedade internacional por ter desenhado o traje “Exaltação dos Pampas” usado pela gaúcha Ieda Maria Vargas, vencedora do concurso Miss Universo em 1963, nos Estados Unidos. Como pintor, marcou sua carreira na década de 1960 por ter trabalhos premiados nos Estados Unidos e no Panamá.


Passa a viver no Rio de janeiro como uma espécie de refúgio em razão do racismo explícito que vinha acompanhado de seu sucesso profissional, conforme relata o Correio da Manhã, em 23 de junho de 1963: “O figurinista gaúcho Djalma dos Santos, por causa da segregação racial que existe no Rio Grande do Sul (ele é de cor) deixará Porto Alegre em agosto”. Para confirmar a situação, Djalma relata sobre a discriminação sofrida, inclusive recebendo pedradas e humilhações, quando foi professor de artes em uma cidade do interior gaúcho. Em sua percepção, a própria temática que trabalhava no campo das artes: religiões e origens africanas, incluindo lendas negras do afro-brasileiro, não encontrava espaço no seu estado natal. Em vídeo do CULINE (Acervo Digital da Cultura Negra), aparece em uma de suas exposições confirmando que “a cultura afro-brasileira como tema não encontrava nicho no Sul, onde lhe dizem que podia comprometer os comparadores”.


Djalma do Alegrete foi ainda educador social no Rio de janeiro, cidade que lhe concedeu o título de Cidadão Emérito, porém não desistiu de Porto Alegre, retornando a capital gaúcha em 1971, vindo a receber mais tarde, a honraria de Cidadão Emérito de Porto Alegre, em 1992. Faleceu em 22 de abril de 1994.



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Referências:





SANTOS, Irene. Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra em Porto Alegre. Porto Alegre: EST Edições, 2005


 
 
 

Atualizado: 14 de out. de 2024


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Nascido a 7 de fevereiro de 1901, filho de Maria da Glória Quilião de Bittencourt e Aurélio Viríssimo de Bittencourt Júnior, foi criado pelo seu avô, Aurélio de Bittencourt, após a morte de seu pai, em 1910. Dario de Bittencourt expôs em sua autobiografia nunca mais ter se encontrado com a mãe. Em uma passagem no jornal O Exemplo, Dario foi lembrado como “o futuro menino Dario, filho do nosso amigo Dr. Aurélio Júnior” pelos redatores de O Exemplo. Ele estudou no Ginásio Nossa Senhora da Conceição e bacharelou-se em Direito, porém pela Faculdade Livre, fundada em Porto Alegre com o auxílio de seu pai. Ganhou algumas premiações no Ginásio Nossa Senhora da Conceição pelo belo desempenho. Passou a acessar o Ginásio Anchieta em Porto Alegre no final 1912, assim como o Ginásio Nossa Senhora da Conceição e, recebendo algumas distinções, concluiu o colegial. Dário se preparava desde 1915, realizando exames preparatórios, mas foi somente em 1920 que ele ingressou na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Frequentou o curso de vestibular do Padre Werner, do Ginásio Anchieta, onde fez parte da primeira turma a efetuar a prova. Em 1924, conseguiu se tornar bacharel e, mais tarde, trabalhou como professor nessa mesma instituição.


Um pouco antes, em 1918, acessou o curso preparatório do Irmão Weibert, localizado atrás da antiga Catedral Metropolitana. Por ter uma vida um pouco melhor em virtude da respeitabilidade conquistada pelo avô e tutor, obteve acesso a professores particulares de Matemática, Português, Inglês e História Universal. Dario era um homem pardo e destacou o orgulho racial em sua autobiografia, publicada em 1958. Levou uma vida modesta, mas sempre auxiliou para manter o jornal O Exemplo em funcionamento. Ele se manteve firme na tradição que foi criada pelo jornal, que era o combate ao preconceito de cor e a luta pelos direitos da população negra no pós-abolição. Caminhou para a advocacia militante, assim tendo mais recursos para essa luta. Dario circulava pelas organizações negras, fez parte da Sociedade Beneficente Floresta Aurora, fundada em 1872, participou do Conselho Superior da Liga Nacional de Futebol Porto-Alegrense, fundada em 1919, para agregar times compostos com jogadores negros, foi sócio da Sociedade Satélite Porto Alegrense, de 1902, que hoje é conhecida como Satélite Prontidão e, finalmente, fez parte do Grêmio Náutico Marcílio Dias. A sua autodefinição como pardo remetia à situação social e racial intermediária de uma elite negra que procurava ascender e inserir-se socialmente, não apenas em virtude da situação econômica e intelectual, mas sobretudo no sentido de se distinguir da maioria negra, ainda muito vinculada ao período anterior da escravidão.


No espaço da religiosidade. Dario de Bittencourt fez parte da secular Irmandade do Divino Espírito Santo, frequentou colégio jesuíta onde teve instrução religiosa nas décadas de 1940 e 1950, fez parte da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, da Confraria de Nossa Senhora da Conceição e da Devoção de São Cristóvão, além de legionário das obras da Catedral Metropolitana e da matriz de São Sebastião. Mesmo convivendo em espaços religiosos eurocidental, também percorreu a sua raiz africana, assim se envolveu com as religiões de matriz africana. Inclusive, a convivência com uma senhora ex-escrava, Senhorinha de Souza, pode ter auxiliado nas opções de Dario tanto no campo intelectual quanto de identificação étnico-racial. Adepta a religião de matriz africana, ela indicou para Dario buscar outro viés de sua vida espiritual que o completasse. Com seu envolvimento com a religião de matriz africana, ele escreveu o artigo “A liberdade religiosa no Brasil: A Macumba e o Batuque em face da lei”, que enviou, em 1937, ao II Congresso Afro-Brasileiro, realizado em Salvador. O objetivo era apresentar o candomblé africano como religião, buscando uma maior aceitação social, desse modo, distanciando da ideia de feitiçaria. Após os anos 1930, Dario frequentou as casas de nação de Mãe Andreza, Andreza Ferreira da Silva e sua filha de sangue e espiritual, Caixinha, Geraldina Alves Ribeiro, de Dona Moça, de Joana do Bará.


Mesmo percorrendo vários espaços e quase seguindo a carreira que vários membros do periódico seguiram, sendo funcionário público, ele se aposentou em 1957 como professor catedrático de Direito Internacional Privado da Faculdade de Direito da Universidade do Rio Grande do Sul. Em 1920, Dario passou a fazer parte da direção de O Exemplo, herdando a tradição de seu avô, pai e tio, assumindo um papel de liderança. Segundo ele, reconhecido socialmente como notória e sabidamente mulato, Dario se coloca nas fileiras de organização do jornal no combate ao preconceito de cor até 1930, quando o jornal encerra os seus trabalhos.



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Referências


BITTENCOURT, Dario de. Curriculum vitae–documentário (1901/1957). Porto Alegre: Ética Impressora Ltda, 1958.


PERUSSATTO, Melina Kleinert. Arautos da liberdade: educação, trabalho e cidadania no pós-abolição a partir do jornal O Exemplo de Porto Alegre (c. 1892-c. 1911). 2018.


BARRERAS, Maria José Lanziotti. Dario de Bittencourt (1901-1974): uma incursão pela cultura política autoritária gaúcha. Porto Alegre: Edipucrs, 1998. v. 21.


 
 
 

Atualizado: 14 de out. de 2024


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Breno Higino Mello foi jogador e ator, nascido em Porto Alegre em 7 de setembro de 1931. Veio a falecer na mesma cidade, no dia 11 de julho de 2008, deixando cinco filhos e 12 netos.


A carreira futebolística de Breno Mello foi marcada pelas passagens pelo Fluminense do Rio de Janeiro e Corinthians (1957). Mello começou no São José, time da capital gaúcha. Logo em seguida transferiu-se para Grêmio Esportivo Renner, onde foi campeão em 1954 desbancando a dupla Gre-Nal, time tradicional do cenário do futebol gaúcho. Uma curiosidade: Breno morou no bairro Niterói, em Canoas, no mesmo período em que Paulo Roberto Falcão e Batista, ambos jogadores que, mais tarde, seriam grandes estrelas do Sport Club Internacional de Porto Alegre.


Breno Mello foi ator, ainda quando defendia o Fluminense do Rio. Ele foi descoberto pelo diretor Marcel Camus e acabou atuando como protagonista, interpretando o personagem título do filme, Orfeu, baseado na peça homônima de Vinícius de Moraes. O filme foi rodado em 1959, contou com a trilha refinada de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Luiz Bonfá e Antônio Maria. O Orfeu do Carnaval ganhou inúmeros prêmios, entre os quais a Palma de Ouro em Cannes, em 1959, o Globo de Ouro e o Oscar de filme estrangeiro em 1960.

Breno Mello ainda jogaria por mais um tempo no Santos de Pelé. Reza uma lenda que Mello teria pago vários almoços para rei devido ao seu “pão durismo”, mas acabou decidindo continuar na carreira no cinema. Participou nas seguintes produções além de Orfeu: Os Vencidos (1963), Rata de Puerto, também de 1963, e O Santo Módico (1964). Em 1973, participa do filme Negrinho do Pastoreio (dirigido por Nico Fagundes) ao lado de Grande Othelo e, em 1988, participa da produção Prisioneiro do Rio.


Uma curiosidade acerca do nome de Breno Mello e do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Essa curiosidade foi especulada pelo escritor Fernando Jorge em seu livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido. Segundo Fernando Jorge, a mãe do ex-presidente, a antropóloga Stanley Ann Dunham, quando assistiu ao filme Orfeu, teria ficado maravilhada com o seu primeiro filme estrangeiro e se apaixonou pelo ator Brenno Mello. Quando conheceu Barack Hussein Obama, pai do ex-presidente, ela o teria achado parecido com Mello. Ficaram casados por 23 anos.


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Referências


BERTONI, Estêvão. Orfeu foi negro e jogador de futebol. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 jul. 2008. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1507200816.htm. Acesso em: 23 de maio. 2023.


BRENO Mello. In: WIKIPEDIA: the free encyclopedia. [S. l.], 20 nov. 2022. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Breno_Mello. Acesso em: 23 de maio. 2023.


BRENO Mello. In: 3º Tempo Uol. [S. l.], 5 nov. 2018. Disponível em: https://terceirotempo.uol.com.br/que-fim-levou/breno-mello-2458. Acesso em: 23 de maio. 2023.


OBAMA é "quase" brasileiro. In: Correio Braziliense. [S. l.], 5 jun. 2010. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2010/06/05/interna_diversao_arte,196187/obama-e-quase-brasileiro.shtml. Acesso em: 23 de maio. 2023.






 
 
 

Nossos objetivos na 2ª edição

Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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