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O PROJETO MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas realiza um levantamento visando o resgate e desapagamento da presença das populações negras na história de Porto Alegre.

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Verbetes

Atualizado: 14 de out. de 2024


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Consta que o registro do Bar Naval Chopp foi aberto por holandeses, em 11 de maio de 1907, mas que foi fundado no ano anterior. Outra versão diz que o italiano Ângelo Crivellara foi seu fundador e a foto dele no bar reforça essa hipótese. Situa-se, desde então, no térreo do Mercado Público de Porto Alegre e, inicialmente, foi ponto de encontro de imigrantes alemães, sendo famoso por seu chopp e pela culinária luso-brasileira. Sobreviveu a duas guerras mundiais, à enchente de 1941 e aos incêndios do Mercado. Em 1953, foi assumido pelo português Antônio Lopez Branco e, a partir de 1961, por João Fernandes da Costa, também português.

Com a construção do Cais do Porto, em 1920, o Naval constituiu-se em um ponto de encontro dos marítimos e estivadores, que eram, em sua grande maioria, negros. Mas não só eles, pois o Mercado era um indicador informal de empregos de baixa remuneração, atraindo inúmeros trabalhadores negros que também finalizavam o dia socializando no boteco. Segundo um dos atuais proprietários, foi o primeiro bar da cidade a receber negros e brancos no mesmo ambiente.

O lugar foi referência para os boêmios da cidade e, segundo conta-se, recebeu frequentadores ilustres internacionais, como Carlos Gardel e Carmen Miranda, e estrelas locais da envergadura de Lupicínio Rodrigues e Elis Regina, além de políticos, como Getúlio Vargas, João Goulart e Glênio Peres. Também foi referencial de lazer, considerado marco importante para os negros, uma vez que foram perdendo seus espaços no centro da cidade, fazendo dali um território simbólico, em conjunto com o próprio Mercado Público, sendo o local de encontro do movimento negro e marcado pela participação política de seus frequentadores.

Depois da restauração do Mercado Público (1990-1997), a maioria dos bares e as pequenas lojas fecharam ou perderam suas características principais. O Bar Naval Chopp resistiu e, hoje, chama-se Restaurante Naval, mudança feita nos anos 2000. Na atualidade, tem outro público frequentador.




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Referências


BURKHARDT, Fabiano. Um bar sem preconceito. Jornal Laboratório Três x Quatro. Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS. Porto Alegre, Agosto, 1999, p.3.


JORDANI, Airton. Violento Mocotó no Naval. Blog Arte na mesa.com. Porto Alegre, 09 jun. 2008. Disponível em: http://artenamesa.blogspot.com/2008/06/violento-mocot-no-naval.html. Acesso em: 31 maio 2023.


IGLESIAS, Simone. Bar Naval, 100, abrigou de Lupicínio a Getúlio. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 01 nov. 2007. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx0111200727.htm. Acesso em: 31 maio 2023.


XAVIER, Amanda. Tradição no prato: conheça os restaurantes mais antigos de Porto Alegre. Caderno Destemperados, Jornal Zero Hora. Porto Alegre. 23 ago 2021. Disponível em:


 
 
 

Atualizado: 14 de out. de 2024



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O Luanda Bar foi tido como um reduto da boêmia e de conversas acaloradas sobre o movimento negro de Porto Alegre. A história do bar começou nos anos 1960, fundado pelo artista plástico e pai de santo João Altair, que homenageou o continente africano, batizando o lugar com o nome da capital de Angola, além de ornamentar o lugar com máscaras e pinturas de guerreiros africanos.


Depois de vários proprietários, em 1971, o bar passou para Tidi, apelido pelo qual Aristides da Silva e o Luanda Bar (o Bar do Tidi) passaram a ser conhecidos. Do início dos anos 1970, até o final da década de 1980, o lugar também era muito procurado, especialmente nas madrugadas, pelo famoso “Sopão do Tidi”. A iguaria era composta por três ingredientes básicos: água, galinha e massa e, junto com uma pimenta vermelha forte preparada em um garrafão, foi, por quase 17 anos, o destaque do cardápio.


A ideia da sopa veio por acaso, em uma noite fria, em que os clientes pediam cachaça para espantar o frio. O caldo era preparado à vista de todos e, nos primórdios, servido em copos, para depois ser servido em pratos nas mesas e no balcão. O bar aceitava os bêbados, desde que não fossem chatos e respeitassem as normas do espaço; caso contrário, eram expulsos irremediavelmente.


O bar era frequentado por jornalistas, músicos, políticos e outras personalidades da noite porto-alegrense que chegavam para finalizar a noitada com o sopão. Parte do sucesso e popularidade do bar deve-se ao horário de funcionamento: abria por volta das 21h e só fechava de manhã. Entre os ilustres frequentadores, o Luanda recebeu Lupicínio Rodrigues, o jornalista Paulo Sant’Ana, Glênio Peres, Jamelão, Jorginho do Trompete (Jorge Alberto de Paula), entre outros.


O Luanda Bar, minúsculo, porta e janela, era localizado na Rua José do Patrocínio, n. 889, quase esquina da Praça Garibaldi, e possuía três ou quatro mesas. Bastante iluminado e sem música ambiente ou apresentações musicais, funcionava a semana inteira, inclusive nos feriados. Junto com a sopa, a fama do bar veio da figura folclórica e amável de Tidi, descrito como grande e forte, e que se vestia com avental, gravata e um boné branco para receber os clientes. O bar fechou em janeiro de 1988, quando Tidi ficou doente e não teve um sucessor para seguir sendo a alma do lugar.



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Referências

VARGAS, Bruna. Mais famosa que a do Van Gogh: a história da sopa de três ingredientes que curava toda ressaca na Cidade Baixa. Memória afetiva da capital. In: GZH Porto Alegre. 8 dez. 2020. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2020/12/mais-famosa-que-a-do-van-gogh-a-historia-da-sopa-de-tres-ingredientes-que-curava-toda-ressaca-na-cidade-baixa-ckifdeq6y00d5019w7o5rja3a.html. Acesso em: 29 nov. 2022.

SANTOS, Irene (org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: [s. n.], 2005.


 
 
 

Atualizado: 14 de out. de 2024

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Figura 1: Mapa da Bacia do Mont’Serrat, Porto Alegre/RS – 1916

Fonte: Elaboração de Daniele Machado Vieira sobre Mapa de Porto Alegre/RS, 1916 (IHGRGS, 2005)


Até meados do século XX – e talvez até as décadas de 1980/90 – a área do atual bairro Mont'Serrat era um antigo território negro conhecido como Bacia do Mont'Serrat. Seus primeiros registros datam da primeira década do século XX. Conforme o historiador Sérgio Franco, em 1913 eram anunciados terrenos para venda na área (2006, p. 279).

Sanhudo (1975), antigo cronista da cidade, narra a existência de moradores na área antes de 1910, considerado o início oficial do bairro com a construção da Igreja Nossa Senhora Auxiliadora. Com olhar estigmatizado e depreciativo, ele relata que “antes disso já havia moradores aí nesses valões da antiga rua Álvaro Chaves, hoje Arthur Rocha” (SANHUDO, 1975, p. 111), apontando a Rua Arthur Rocha como a primeira via ocupada. É simbólico que este antigo território negro, na época ocupado majoritariamente por famílias negras, tenha tido como nome do seu primeiro logradouro uma personalidade negra da segunda metade do século XIX. Arthur Rodrigues da Rocha (1859-1888) era um dramaturgo negro, rio-gradino (SANTOS, 2009, p. 56), que na virada do século XIX-XX tinha suas peças encenadas nos festejos da Sociedade Floresta Aurora.

Em 1916 foi quando a área da Bacia do Mont’Serrat apareceu pela primeira vez em um mapa, tendo como limites a Rua Arthur Rocha a leste, a Rua Nova York (atual Av. Cel. Lucas de Oliveira) a oeste, a Estrada da Pedreira (hoje a Av. Plínio Brasil Milano) a norte e a Rua Anita Garibaldi ao sul. Esse quadrilátero engloba uma parte considerável da área que, posteriormente, será considerada a Bacia do Mont’Serrat, a qual estendia-se da Av. Plínio Brasil Milano até Rua Pedro Ivo (no sentido norte-sul) e da Rua Pedro Chaves Barcelos até a Av. Mariland (na direção leste-oeste). Todas essas ruas podem ser consideradas como “bordas” da Bacia por estarem em um plano elevado em relação a sua área interna.

O Mapa de 1916 mostra que nessa época a área do Mont’Serrat era o limite desta parte da cidade, havendo um amplo espaço em branco (a princípio não urbanizado) na face sul e leste. Na área em branco ao sul, posteriormente irão se localizar os bairros Bela Vista e Petrópolis.

O cronista Sanhudo (1975) narra a marcante presença negra na região, conferindo, contudo, uma conotação desqualificadora ao grupo, descrevendo os moradores como “despreocupados” e “estirados em barrancos”, mencionando-os como “filhos de Cam” (em uma leitura bíblica, aqueles que deram origem ao continente africano).

Em contraponto às descrições depreciativas estão as narrativas dos moradores e frequentadores do bairro, como a de Dona Shirley Machado, neta e filha de lavadeiras, ainda residente na área. Os antigos moradores relatam a existência de diversas bicas d’água espalhadas pelas ruas do bairro. Próximo às bicas, acumulavam-se as tinas de lavar roupas, nas quais as mulheres exerciam o ofício, passado de geração em geração. D. Shirley relembra o ofício das mulheres de sua família, narrando a existência de uma bica e diversas tinas de lavar roupa na Rua Fabrício Pilar (SANTOS, 2010, p. 110). Ela conta que havia também tias costureiras, cozinheiras, especialistas em doces, destacando, contudo, que a mãe não a ensinou o ofício de lavadeira, pois quis que estudasse, rompendo o ciclo de trabalho ligado às atividades domésticas.

Repleta de casas de batuque, a Bacia do Mont'Serrat era considerada lugar de batuqueiro forte, conforme as narrativas colhidas por Pólvora (1996, p. 165). Uma das entrevistadas da fotógrafa Irene Santos revela a existência de diversos terreiros em uma mesma rua: “Na Rua Comendador Rheingantz havia sete casas de religião, de orixás fortes. Na frente da casa dos meus pais morava o Pai Joãozinho do Bará, muito conhecido na cidade” (SANTOS, 2010, p. 116). Até os anos 1980/90 muitas outras casas religiosas povoavam a paisagem do bairro, com gerações de batuqueiros sucedendo-se ali, como Mãe Laudelina do Bará pertencente à terceira geração de uma família de santo (PÓLVORA, 1996, p. 165).

A forte religiosidade negra na área é um dos motivos do termo Bacia na denominação do bairro. Para os adeptos da religião de matriz africana, “bacia” refere-se ao pertencimento dos terreiros do bairro a uma mesma matriz/linha religiosa (RECH, 2012, p. 31), conformando uma origem espiritual comum, uma mesma procedência. Crê-se, ainda, que a forma côncava do relevo, formado por uma parte baixa ao centro ladeado por partes altas, apresentando o formato semelhante ao de uma bacia (objeto), teria levado a área a ser popularmente batizada de Bacia do Mont'Serrat.

As memórias sobre o bairro também remetem aos blocos de carnaval, como o “Aí vem a Marinha” e “Não vai pra ti”, além de grandes bailes promovidos por Júlio Ferreira, Seu Pretinho. Os antigos moradores orgulham-se dos piqueniques dominicais, momentos de sociabilidade das famílias negras, assim como de terem visto crescer um dos grandes jogadores do Grêmio, o futebolista Roger Machado, nascido e criado no bairro.

O território negro Bacia do Mont’Serrat ao qual nos referimos já não existe mais, devido, em boa medida, à grande transformação social e econômica do bairro nas últimas décadas. Mas ainda há uma presença negra que resiste à vertiginosa verticalização e elitização do bairro.



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Referências


FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 4. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006.


PÓLVORA, Jacqueline Britto. Na encruzilhada: impressões da socialidade batuqueira no meio urbano de Porto Alegre/RS. In: LEITE, Ilka Boaventura (org.). Negros no Sul do Brasil: invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1996. p. 159-175.


RECH, Tiago Bassani. Casas de religião de matriz africana em Porto Alegre:

territorialidades étnicas e/ou culturais a partir da antiga Colônia Africana. 2012. 125

f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em

Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, Porto Alegre, 2012.


SANHUDO, Ary Veiga. Porto Alegre: crônicas da minha cidade. Porto Alegre: Editora Movimento: Instituto Estadual do Livro, 1975. 2 v.


SANTOS, Irene (org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: [s. n.], 2005.


SANTOS, Irene (coord.) et al. Colonos e Quilombolas: memória fotográfica das

colônias africanas de Porto Alegre. Porto Alegre: [s. n.], 2010.


SANTOS, Isabel Silveira dos. Abram-se as cortinas: Representações étnico-raciais e pedagogias do palco no teatro de Arthur Rocha. 2009. 144 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Luterana do Brasil, Canoas, 2009. Disponível em: https://servicos.ulbra.br/BIBLIO/PPGEDUM103.pdf. Acesso em: 27 mar. 2017.


VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800-1970): geografia histórica da presença negra no espaço urbano. Belo Horizonte: ANPUR, 2021. Disponível em: https://anpur.org.br/territorios-negros-em-porto-alegre-rs-1800-1970. Acesso em: 25 jan. 2023.


 
 
 

Nossos objetivos na 2ª edição

Confira as metas da segunda edição do projeto MEMÓRIAS NEGRAS EM VERBETES – Inventário Participativo de Referências Espaciais, Sociais e Simbólicas Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022. 

01

+ 50 Verbetes no site

A segunda edição prevê em suas metas a publicação de mais 50 verbetes, totalizando 100 verbetes no blog até o final desta etapa.

03

Mobilização da comunidade

Mobilizar pessoas representativas e instituições do movimento negro porto-alegrense para debater o projeto.

02

Audiodescrição dos conteúdos do site

Nosso projeto agora terá o recursos de audiodescrição, tornando a pesquisa acessível a mais pessoas.

04

Audiolivro

Montar Audiolivro unindo os episódios do Desapaga POA e do Memórias Negras em Verbetes.

Reportagens

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Verbetes em destaque

O Príncipe Custódio, figura histórica envolta em mistério, faleceu em Porto Alegre em 1935 e nasceu na África no século XIX. Duas narrativas principais disputam sua origem: uma o vincula à realeza do Benin, atribuindo-lhe importância no batuque e no assentamento do Bará do Mercado, enquanto outra o identifica como filho de um comerciante de escravos africano, chegando a Porto Alegre após disputas familiares. Custódio se destacou na cidade tanto por sua participação nas corridas de cavalos quanto por sua liderança religiosa, sendo reconhecido por sua influência nos cultos africanos e por seu papel de mediador entre a população negra e a elite. Seu legado segue relevante para o movimento negro e para as discussões políticas e religiosas no Rio Grande do Sul.

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Príncipe Custódio

Lupicínio Rodrigues, nascido em Porto Alegre em 1914, destacou-se como um dos maiores compositores da música brasileira, conhecido como o mestre da "dor de cotovelo". Desde cedo, transitou pela boemia e pela música, conciliando sua trajetória com uma breve passagem pelo exército e uma vida marcada por empreendedorismo e engajamento social. Suas composições, como Se Acaso Você Chegasse e Nervos de Aço , tornaram-se clássicos, interpretados por grandes nomes da música. Gremista fervoroso, compôs o hino do Grêmio e participou ativamente da cena cultural e política, chegando a disputar uma eleição. Mesmo reconhecidos nacionalmente, episódios de racismo, o que reforçou seu papel na luta pelos direitos da comunidade negra. Faleceu em 1974, deixando um legado imortal na música popular brasileira.

Lupicínio Rodrigues

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Tambor – Museu de Percurso do Negro

O Tambor Amarelo, instalado na Praça Brigadeiro Sampaio em 2010, tornou-se um símbolo da presença e trajetória do negro em Porto Alegre, sendo um marco do Museu de Percurso do Negro. Concebido por um coletivo de artistas e griôs, com base em uma pesquisa antropológica de Iosvaldyr Bittencourt, a obra foi desenvolvida em um processo coletivo inspirado em valores civilizatórios africanos. Além de resgatar a memória negra no antigo Largo da Forca, o tambor representa a diversidade cultural afro-brasileira e denuncia a pouca representatividade da cultura africana nos monumentos da capital gaúcha. Hoje, a escultura fortalece a identidade negra e ressoa com imigrantes africanos e latino-americanos que chegam ao Rio Grande do Sul. O trabalho dos artistas e griôs envolvidos reforça a importância da arte coletiva e da ancestralidade na construção da memória urbana. Mais do que um monumento, o Tambor Amarelo é um convite ao reconhecimento e à valorização da história negra na cidade.

Pelópidas Thebano Ondemar Parente (1934-2022) foi um renomado artista plástico, desenhista e figurinista de Porto Alegre, destacando-se na arte afrocentrada e no carnaval da cidade. Servidor público por décadas, contribuiu com projetos arquitetônicos e participou da concepção do Aeromóvel. Suas obras abordam a diáspora africana e a identidade negra, refletindo sobre a influência cultural afro-brasileira. Foi um dos idealizadores da Frente Negra de Arte e autor de marcos visuais do Museu de Percurso do Negro, como o Tambor Amarelo. Seu legado é reconhecido em diversas exposições e premiações, consolidando-o como uma referência na arte negra no Rio Grande do Sul.

Pelópidas Thebano

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Wilson Tibério (1916-2005), conhecido como Tibério, foi um artista afro-brasileiro engajado no debate antirracista e colonialista do século XX. Natural de Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes, destacando-se por sua arte voltada à vivência da população negra. Em 1947, emigrou para a França, viajando por diversos países e se aproximando do movimento Négritude. Sua produção artística denunciava o colonialismo e exaltava a diáspora africana, com obras que hoje integram acervos como a Pinacoteca Ruben Berta, a UFRGS e o Museu Afro Brasil.

Wilson Tibério

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A Ilhota era uma pequena porção de terra na Cidade Baixa, Porto Alegre, formada pelo meandro do Arroio Dilúvio e delimitada pelas atuais avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo. Surgida em 1905, tornou-se um núcleo habitado por uma população majoritariamente negra e de baixa renda, conhecida por sua forte tradição boêmia e carnavalesca, sendo berço do samba e lar de Lupicínio Rodrigues. Com a canalização do Arroio Dilúvio após a enchente de 1941, a área foi alvo de interesse imobiliário e sofreu uma brutal remoção populacional no final da década de 1960, deslocando muitos moradores para a Restinga, então uma periferia sem infraestrutura adequada.

Ilhota

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Durante o século XIX, os Campos da Redenção, inicialmente uma grande várzea alagadiça fora da cidade de Porto Alegre, foram um importante local para celebrações culturais e religiosas da população negra, como o Candombe da Mãe Rita e outros batuques, realizados com tambores e danças. Esses festejos, mencionados por cronistas da cidade, ocorreram especialmente na área ao redor da atual rua Avaí e nas proximidades da Capelinha do Bom Fim. Em 1884, a Várzea foi oficialmente renomeada para Campos da Redenção para comemorar a libertação dos escravizados em Porto Alegre, embora a abolição tenha sido limitada e parcial, com muitos negros ainda vivendo como libertos ou escravizados. A nova denominação refletia o legado da resistência e presença cultural dos negros na cidade.

Campos da Redenção

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Dario de Bittencourt, nascido em 1901, foi um importante advogado, educador e ativista negro, com uma trajetória marcada pela luta contra o preconceito racial e pela valorização das tradições culturais negras. Criado por seu avô após a morte do pai, Dario teve uma educação privilegiada, estudando em instituições renomadas e se graduando em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. Ao longo de sua vida, foi membro ativo de diversas organizações negras, como a Sociedade Beneficente Floresta Aurora e o Grêmio Náutico Marcílio Dias, e participou ativamente do jornal O Exemplo, que combatia o racismo. Além disso, Dario se envolveu com religiões de matriz africana, defendendo a aceitação do Candomblé como religião legítima. Em sua carreira acadêmica, foi professor catedrático de Direito Internacional Privado na Universidade do Rio Grande do Sul e se aposentou em 1957, mantendo seu compromisso com a luta contra a discriminação racial até sua morte.

Dario de Bittencourt

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Em 2 de julho de 1949, a Folha da Tarde fez um convite aberto aos homens de cor de Porto Alegre para a fundação de um clube náutico, inicialmente chamado José do Patrocínio, mas que recebeu o nome de Marcílio Dias, em homenagem ao intelectual negro. O Clube foi criado com o objetivo de proporcionar aos jovens negros o acesso a esportes como remo e natação, atividades que eram negadas pelos clubes brancos da cidade. Fundado em 4 de julho de 1949, o clube teve como principais articuladores figuras como João Nunes de Oliveira e Armando Hipólito dos Santos. Em 1950, abriu oficialmente sua sede na Avenida Praia de Belas, sendo um ponto de encontro para festas e eventos importantes da comunidade negra local. Na década de 1960, o clube lançou o jornal Ébano, e embora tenha enfrentado dificuldades com sua sede, incluindo a construção de um ginásio destruído por ventos fortes, o clube seguiu promovendo atividades até seu fechamento na década de 1970.

Clube Náutico Marcílio Dias

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A área do atual bairro Mont'Serrat, até meados do século XX e talvez até as décadas de 1980/90, era conhecida como a Bacia do Mont'Serrat, um território predominantemente negro com registros desde o início do século XX. O bairro teve sua origem marcada pela presença de famílias negras, com destaque para a Rua Arthur Rocha, nomeada em homenagem ao dramaturgo negro Arthur Rodrigues da Rocha. A Bacia do Mont'Serrat foi uma área de forte religiosidade, com várias casas de batuque e terreiros de matriz africana, e se tornou um ponto de encontro de trabalho e sociabilidade para as famílias negras da região, com destaque para atividades como a lavagem de roupas e o trabalho de costureiras. Além disso, o bairro foi berço de tradições culturais como blocos de carnaval e piqueniques dominicais. No entanto, com o processo de urbanização e transformação social, o antigo território negro se perdeu, embora ainda resista uma presença negra na região.

Bacia do Mont'Serrat

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